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O labirinto fiscal português: como as empresas navegam num sistema que penaliza o crescimento

O empresário português acorda todos os dias para enfrentar um dos sistemas fiscais mais complexos da Europa. Enquanto prepara o seu café, já sabe que terá de lidar com mais de 20 impostos diferentes, regimes especiais que mudam com a velocidade do vento político e uma burocracia que consome cerca de 260 horas por ano apenas em obrigações fiscais. Esta realidade, que afeta desde o pequeno comerciante até às grandes multinacionais, está a estrangular a competitividade nacional num momento em que Portugal mais precisa de crescer.

A investigação conduzida junto de especialistas fiscais e empresários revela um cenário preocupante: muitas empresas estão a adiar investimentos por não conseguirem prever com segurança os seus encargos fiscais para os próximos anos. "Vivemos numa montanha-russa legislativa onde as regras mudam frequentemente, tornando quase impossível um planeamento estratégico a médio prazo", confessa-nos um CEO do setor tecnológico que preferiu manter o anonimato.

O IRC, apesar das sucessivas reduções da taxa nominal, continua a ser uma dor de cabeça para as empresas devido à complexidade das suas regras de determinação da matéria coletável. As mais-valias, os ajustamentos, as taxas liberatórias e os regimes especiais criam um emaranhado que obriga as empresas a manterem equipas especializadas apenas para interpretar a legislação. E quando pensam que dominam as regras, surge uma nova circular da Autoridade Tributária que muda completamente a interpretação.

A carga fiscal sobre o trabalho é outro dos grandes obstáculos. Portugal tem uma das mais elevadas taxas efetivas de tributação sobre o trabalho da OCDE, o que desincentiva a contratação e penaliza especialmente as PMEs que querem crescer. O custo de um trabalhador para a empresa é significativamente superior ao que este recebe no bolso, criando um fosso que dificulta a atração de talento qualificado.

A burocracia é talvez o maior entrave ao desenvolvimento empresarial. Um estudo recente mostra que as empresas portuguesas gastam em média 15% do seu tempo útil em cumprir obrigações administrativas e fiscais. Este tempo, que poderia ser dedicado à inovação, à expansão de mercados ou à melhoria de processos, é consumido por formulários, declarações e comunicações às mais variadas entidades.

Os regimes do IVA constituem outro labirinto. As diferentes taxas, as isenções setoriais, os regimes de caixa e as obrigações de faturação eletrónica criam um cenário onde até os mais experientes contabilistas por vezes se perdem. As microempresas são particularmente afetadas, pois não têm capacidade para manter especialistas em todas as áreas fiscais.

A instabilidade fiscal é talvez o problema mais grave. Nos últimos dez anos, Portugal teve mais de 50 alterações significativas ao seu sistema fiscal. Esta constante mudança impede que as empresas possam fazer planos a três ou cinco anos, limitando o seu potencial de crescimento e afastando investimento estrangeiro que procura estabilidade jurídica e fiscal.

Os especialistas contactados são unânimes: Portugal precisa urgentemente de uma reforma fiscal estrutural que simplifique o sistema, reduza a burocracia e crie condições de previsibilidade para as empresas. Sem esta reforma, continuaremos a ver empresas promissoras a deslocar-se para outros países da União Europeia onde o ambiente fiscal é mais favorável ao crescimento.

A solução passa por criar um sistema fiscal transparente, estável e competitivo com os nossos parceiros europeus. Reduzir o número de impostos, simplificar as declarações e criar mecanismos de estabilidade que garantam que as regras não mudam a meio do jogo são passos essenciais para que Portugal possa finalmente desbloquear o seu potencial económico.

O momento para agir é agora. Enquanto outros países europeus estão a simplificar os seus sistemas fiscais para atrair investimento e talento, Portugal arrisca-se a ficar para trás. As empresas precisam de certezas para investir, criar emprego e contribuir para o desenvolvimento do país. O atual sistema fiscal está a falhar neste objetivo fundamental.

A complexidade fiscal não é apenas um problema técnico - é uma barreira ao desenvolvimento económico que afecta todos os portugueses. Empresas que poderiam estar a crescer e a criar riqueza estão paralisadas pela burocracia e pela incerteza. Esta é uma batalha que Portugal não se pode dar ao luxo de perder.

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