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O lado obscuro dos créditos ao consumo: como as taxas de juro estão a estrangular as famílias portuguesas

Num país onde o ordenado médio mal chega aos 1400 euros e a inflação continua a corroer o poder de compra, os portugueses estão a recorrer cada vez mais ao crédito pessoal para fazer face às despesas do dia-a-dia. O que parece uma solução rápida transforma-se frequentemente numa armadilha financeira de consequências devastadoras.

Dados recentes do Banco de Portugal revelam que o volume de crédito ao consumo atingiu níveis históricos, ultrapassando os 18 mil milhões de euros. As famílias endividam-se para pagar contas básicas, desde a eletricidade à alimentação, criando um ciclo vicioso difícil de quebrar.

As instituições financeiras, aproveitando-se da vulnerabilidade dos consumidores, impõem taxas de juro que chegam aos 15% em alguns casos. Um autêntico assalto à luz do dia, legitimado por letras pequenas em contratos que ninguém lê.

A realidade é cruel: muitas famílias gastam mais de 30% do seu rendimento mensal apenas para pagar juros de empréstimos. São histórias silenciosas de desespero que não chegam aos noticiários, mas que se multiplicam por todo o país.

Os mecanismos de proteção ao consumidor mostram-se insuficientes face à sofisticação das estratégias de venda agressiva. As fintechs e os bancos digitais tornaram o processo de contrair empréstimo tão simples como encomendar pizza, mas com consequências infinitamente mais graves.

A falta de educação financeira na população portuguesa agrava o problema. Muitos não compreendem a diferença entre TAEG e TAN, nem as implicações reais dos juros compostos a longo prazo.

As autoridades de supervisão parecem lutar uma batalha perdida. Enquanto se debatem com regulamentações complexas, os produtos de crédito multiplicam-se e as dívidas das famípias atingem níveis alarmantes.

O setor financeiro argumenta que está apenas a responder à procura, mas a verdade é que cria necessidades artificiais através de marketing agressivo. Campanhas publicitárias que vendem a ideia de que o empréstimo é a solução para todos os problemas.

As consequências sociais deste endividamento massivo são profundas: desde o aumento de divórcios por questões financeiras até ao abandono escolar de jovens que precisam de trabalhar para ajudar a família a pagar dívidas.

Existem alternativas? Sim, mas pouco divulgadas. Desde os créditos cooperativos com taxas mais baixas até aos programas de reestruturação de dívida, há opções que poderiam salvar muitas famílias da asfixia financeira.

O que falta é vontade política para enfrentar este problema de frente. Enquanto os lucros dos bancos continuarem a bater recordes, pouco mudará na forma como o crédito ao consumo é praticado em Portugal.

As histórias concretas chocam: a Maria, empregada de limpeza de 52 anos, tem três créditos diferentes para pagar as despesas do filho doente. O João, motorista de pesados, vê 40% do seu salário desaparecer em prestações de empréstimos contraídos durante a pandemia.

Este não é um problema individual, mas coletivo. Uma bomba-relógio social que pode explodir a qualquer momento, com consequências imprevisíveis para a economia nacional.

A solução passa por uma intervenção urgente em várias frentes: desde a educação financeira nas escolas até à limitação legal das taxas de juro praticadas. Medidas impopulares talvez, mas necessárias.

Enquanto isso, as famílias portuguesas continuam a afundar-se num mar de dívidas, muitas vezes sem perceber que estão a assinar a sua própria sentença financeira. Uma realidade sombria que urge trazer para a luz pública.

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