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O lado obscuro dos créditos: como as taxas escondidas estão a estrangular as famílias portuguesas

Num país onde o endividamento das famílias atinge níveis alarmantes, uma investigação profunda revela que os portugueses estão a ser enganados por esquemas de crédito aparentemente inofensivos. As promessas de taxas baixas escondem armadilhas financeiras que transformam sonhos em pesadelos.

Os números não mentem: segundo dados do Banco de Portugal, o volume de crédito à habitação ultrapassou os 100 mil milhões de euros, enquanto o crédito ao consumo continua a crescer de forma preocupante. Mas o que estas estatísticas não mostram são as histórias humanas por trás dos números.

Maria, uma professora de 42 anos de Lisboa, pensou ter encontrado a solução para reformar a sua casa quando um banco lhe ofereceu um crédito pessoal com "taxas especiais". Dois anos depois, descobriu que estava a pagar juros efectivos de 18% devido a comissões escondidas e seguros obrigatórios não declarados.

"Parecia tão simples no papel", conta ela, com a voz a tremer. "Assinei confiante, mas depois percebi que estava presa num ciclo de dívida do qual não consigo sair."

Esta não é uma história isolada. De norte a sul do país, milhares de portugueses enfrentam situações semelhantes. As instituições financeiras aproveitam-se da complexidade dos contratos e da falta de literacia financeira para impor condições abusivas.

Os especialistas alertam para o aumento alarmante dos créditos consolidados, que prometem juntar todas as dívidas num único pagamento, mas que na realidade criam obrigações ainda mais pesadas a longo prazo. "É como tentar apagar um incêndio com gasolina", explica o economista Pedro Silva.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem recebido cada vez mais queixas sobre práticas comerciais agressivas na venda de créditos associados a seguros. Muitos clientes só descobrem que estão a pagar seguros desnecessários quando tentam renegociar as condições.

O problema é particularmente grave entre a população mais vulnerável. Reformados, desempregados e jovens à procura do primeiro emprego tornam-se alvos fáceis para propostas de crédito rápido, muitas vezes com taxas de juro que beiram a usura.

As fintechs e plataformas online de empréstimos entraram no mercado prometendo transparência e facilidade, mas a realidade mostra que muitos destes serviços operam em zonas cinzentas da regulamentação. A falta de controlo efectivo permite que proliferem esquemas de crédito predatório.

Os consumidores precisam de estar mais alerta do que nunca. Ler as letras pequenas já não é suficiente - é necessário questionar, comparar e, acima de tudo, desconfiar de propostas demasiado boas para ser verdade.

As associações de defesa do consumidor recomendam sempre pedir ajuda profissional antes de assinar qualquer contrato de crédito. Um advogado ou um consultor financeiro independente pode fazer a diferença entre uma decisão acertada e uma armadilha financeira.

O Banco de Portugal disponibiliza simuladores online que permitem comparar diferentes ofertas de crédito, mas a adesão ainda é baixa. A educação financeira nas escolas e locais de trabalho torna-se cada vez mais urgente.

Enquanto as autoridades não actuarem com mais rigor, cabe aos portugueses protegerem-se dos abusos. A próxima vez que receber uma proposta de crédito sedutora, lembre-se: se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é.

O futuro do crédito em Portugal depende de uma maior transparência e de consumidores melhor informados. Só assim poderemos evitar que mais famílias caiam nas teias do endividamento excessivo.

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