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O lado obscuro dos créditos rápidos: como as fintechs portuguesas estão a mudar o mercado

Nos últimos meses, as ruas digitais de Portugal têm sido invadidas por anúncios coloridos que prometem dinheiro rápido, fácil e sem complicações. As fintechs de crédito multiplicam-se como cogumelos após a chuva, mas será que toda esta agilidade esconde riscos que os consumidores desconhecem?

A investigação revela que o sector dos créditos pessoais online cresceu 47% no último ano, segundo dados do Banco de Portugal. Plataformas como Crediatus, Cetelem ou Unibanco estão a disputar um mercado que movimenta mais de 3 mil milhões de euros anualmente. A facilidade de acesso, muitas vezes através de uma simples aplicação móvel, está a seduzir cada vez mais portugueses.

No entanto, por detrás da aparente simplicidade escondem-se taxas de juro que podem atingir valores astronómicos. Enquanto os bancos tradicionais oferecem TAEG entre 6% e 12%, algumas plataformas digitais chegam a cobrar até 18% em empréstimos de pequeno montante. A justificação? Maior risco e custos operacionais reduzidos.

O problema é que muitos consumidores não compreendem a diferença entre TAN e TAEG, confundindo a taxa nominal com a efectiva que inclui todos os encargos. Esta falta de literacia financeira está a ser explorada por operadores menos escrupulosos que destacam apenas os números mais atraentes.

As cláusulas contratuais representam outra armadilha. Muitos contratos de crédito rápido incluem penalizações por reembolso antecipado que podem anular qualquer poupança esperada. Outros escondem comissões de processamento que só são reveladas na fase final do processo.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) já emitiu alertas sobre práticas agressivas de venda, especialmente através de redes sociais onde os controlos são mais fracos. Anúncios dirigidos a grupos vulneráveis, como desempregados ou reformados com baixos rendimentos, têm multiplicado.

A tecnologia, que deveria ser uma aliada do consumidor, está muitas vezes a ser usada contra ele. Algoritmos de scoring de crédito analisam milhares de dados pessoais – desde hábitos de navegação até histórico de compras – para definir taxas personalizadas. Quem precisa mais, paga mais.

Os defensores do sector argumentam que estas plataformas democratizam o acesso ao crédito, especialmente para quem é excluído do sistema bancário tradicional. É verdade que muitos portugueses encontram aqui uma solução para emergências ou oportunidades que de outra forma perderiam.

Mas a questão mantém-se: até que ponto a velocidade e conveniência justificam custos mais elevados e menor protecção? A Comissão Europeia já está a preparar nova legislação para regular o sector fintech, mas enquanto isso não acontece, os consumidores navegam em águas turbulentas.

Especialistas recomendam que antes de contratar qualquer crédito rápido, os consumidores comparem ofertas em pelo menos três plataformas diferentes, leiam as letras pequenas com lupa e calculem o custo total do empréstimo incluindo todas as comissões.

O futuro dos créditos em Portugal está a ser escrito agora, entre a inovação tecnológica e a protecção do consumidor. Caberá às autoridades garantir que o equilíbrio não pende demasiado para o lado dos mais poderosos.

Enquanto isso, nas prateleiras digitais, as promessas de dinheiro fácil continuam a brilhar – mas como tudo o que brilha, nem sempre é ouro.

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