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O lado obscuro dos créditos rápidos: como as taxas de juro disparam e as famílias se afundam

Nos últimos meses, uma silenciosa epidemia financeira tem varrido o país. Escondidos sob a promessa de soluções imediatas para problemas urgentes, os créditos rápidos transformaram-se numa armadilha para milhares de portugueses. As taxas de juro, que chegam a ultrapassar os 1000% anuais, estão a criar uma geração de endividados crónicos.

A investigação do Jornal Económico revela que apenas em 2023, mais de 150 mil portugueses contraíram este tipo de empréstimos. Muitos deles não percebiam as cláusulas escondidas nos contratos, escritas em letra miúda e com terminologia complexa que confunde até os mais experientes.

Maria Silva, empregada de limpeza de 48 anos, é uma das vítimas. Contratou um crédito de 500 euros para pagar a renda atrasada. Dois anos depois, deve mais de 3000 euros. "Pensei que era a solução, mas transformou-se no meu pior pesadelo", confessa, com a voz a tremer.

Os especialistas financeiros alertam para o crescimento alarmante deste mercado. Pedro Costa, economista da Universidade do Porto, explica: "Estamos perante um fenómeno perigoso. As empresas aproveitam-se da vulnerabilidade das pessoas, oferecendo dinheiro rápido sem explicar as consequências a longo prazo".

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem recebido queixas em número recorde. Só no primeiro semestre de 2024, foram registadas mais de 1200 denúncias relacionadas com práticas abusivas nestes créditos.

Mas o problema vai além das taxas de juro abusivas. Muitas destas empresas utilizam tácticas agressivas de cobrança, incluindo chamadas a todas as horas, ameaças veladas e pressão psicológica sobre os devedores e suas famílias.

A falta de regulação específica para este sector permite que estas práticas continuem. Enquanto os créditos ao consumo tradicionais têm limites legais para as taxas de juro, os créditos rápidos operam num vazio legislativo que as empresas exploram ao máximo.

As consequências sociais são devastadoras. Famílias inteiras vêem os seus rendimentos consumidos quase na totalidade pelo pagamento de juros, deixando-as sem capacidade para cobrir despesas básicas como alimentação, saúde ou educação.

Os psicólogos alertam para o impacto na saúde mental. "O stress financeiro constante leva a casos de ansiedade, depressão e até ideação suicida", afirma Dra. Sofia Martins, especialista em psicologia clínica.

A solução, segundo os especialistas, passa por uma maior educação financeira da população e por uma regulação mais rigorosa deste sector. "As pessoas precisam de entender que não existem soluções mágicas para problemas financeiros", defende o economista Miguel Almeida.

Enquanto isso, organizações de apoio ao consumidor recomendam extreme cuidado antes de contrair qualquer tipo de empréstimo. Ler atentamente o contrato, comparar várias propostas e procurar aconselhamento independente são passos essenciais.

O futuro deste mercado dependerá da capacidade das autoridades para impor regras mais justas e da consciencialização dos consumidores para os perigos escondidos por trás das promessas de dinheiro fácil.

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