O lado obscuro dos créditos rápidos: quando a solução se transforma em pesadelo
Num pequeno escritório nos arredores de Lisboa, Maria, 34 anos, segura nas mãos trémulas uma pilha de documentos. São sete contratos de crédito, todos assinados nos últimos dezoito meses. Começou com um empréstimo de 500 euros para pagar uma reparação urgente no carro. Hoje, deve mais de 15 mil euros. A sua história não é única - é o retrato de um sistema que promete alívio imediato mas que, muitas vezes, conduz a uma espiral de endividamento da qual é difícil escapar.
Os chamados créditos rápidos multiplicaram-se como cogumelos após a chuva em Portugal. Anunciam-se como a solução para emergências, com aprovação em minutos e dinheiro na conta em horas. O que não contam é que as taxas de juro podem atingir valores astronómicos, transformando pequenos empréstimos em dívidas monumentais. Um estudo recente da DECO revela que 43% dos portugueses que contraíram este tipo de crédito enfrentam dificuldades no reembolso.
A psicologia por trás destes produtos é tão fascinante quanto preocupante. Os marketeiros destas empresas estudaram minuciosamente o comportamento do consumidor em situações de stress financeiro. Sabem que quando alguém precisa desesperadamente de dinheiro, a parte racional do cérebro desliga-se. Oferecem simplicidade quando a vida complica, uma tábua de salvação quando se está a afogar. O problema é que essa tábua pode ter pregos.
Os contratos, repletos de letra pequena, escondem armadilhas que só se revelam quando já é tarde demais. Cláusulas que permitem alterações unilaterais das taxas, comissões de processamento que não eram mencionadas na publicidade, e penalizações por pagamento antecipado que tornam impossível livrar-se da dívida sem pagar até ao último cêntimo. É um labirinto jurídico onde o consumidor comum se perde facilmente.
Mas há luz no fim do túnel. Nos últimos meses, o Banco de Portugal tem apertado o cerco a estas práticas. Novas regras obrigam a uma avaliação mais rigorosa da capacidade de pagamento dos clientes e limitam as taxas de esforço. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões também entrou em ação, fiscalizando as campanhas publicitárias que prometem mundos e fundos.
O fenómeno não é exclusivamente português. Em países como Espanha e Itália, governos implementaram medidas drásticas para proteger os consumidores. Em Madrid, por exemplo, foi criado um registo central de empréstimos que impede os cidadãos de contraírem múltiplos créditos simultaneamente. Medidas semelhantes estão a ser discutidas em Bruxelas, onde se reconhece que este é um problema à escala europeia.
As alternativas existem, embora sejam menos visíveis. As associações de apoio ao consumidor destacam os créditos pessoais dos bancos tradicionais, que embora exijam mais documentação, oferecem condições muito mais favoráveis. Para quantias menores, os sistemas de empréstimo entre particulares ganham popularidade, eliminando o intermediário financeiro. E não esquecer as linhas de apoio social que muitas autarquias disponibilizam para situações de verdadeira emergência.
O que falta, segundo especialistas contactados para esta reportagem, é educação financeira. Desde cedo, os portugueses deveriam aprender a gerir o seu orçamento, a distinguir entre necessidade real e desejo imediato, a compreender os mecanismos do crédito. Escolas, associações e até empregadores poderiam ter um papel crucial nesta missão de literacia financeira.
Enquanto isso, histórias como a de Maria continuam a multiplicar-se. Ela encontrou ajuda numa associação de defesa do consumidor que a está a auxiliar na renegociação das suas dívidas. O processo é lento e doloroso, mas pela primeira vez em dois anos, vê uma saída. A sua experiência serve de alerta: antes de assinar qualquer contrato de crédito, leia, questione, compare. O dinheiro rápido pode sair caro - muito caro.
Os chamados créditos rápidos multiplicaram-se como cogumelos após a chuva em Portugal. Anunciam-se como a solução para emergências, com aprovação em minutos e dinheiro na conta em horas. O que não contam é que as taxas de juro podem atingir valores astronómicos, transformando pequenos empréstimos em dívidas monumentais. Um estudo recente da DECO revela que 43% dos portugueses que contraíram este tipo de crédito enfrentam dificuldades no reembolso.
A psicologia por trás destes produtos é tão fascinante quanto preocupante. Os marketeiros destas empresas estudaram minuciosamente o comportamento do consumidor em situações de stress financeiro. Sabem que quando alguém precisa desesperadamente de dinheiro, a parte racional do cérebro desliga-se. Oferecem simplicidade quando a vida complica, uma tábua de salvação quando se está a afogar. O problema é que essa tábua pode ter pregos.
Os contratos, repletos de letra pequena, escondem armadilhas que só se revelam quando já é tarde demais. Cláusulas que permitem alterações unilaterais das taxas, comissões de processamento que não eram mencionadas na publicidade, e penalizações por pagamento antecipado que tornam impossível livrar-se da dívida sem pagar até ao último cêntimo. É um labirinto jurídico onde o consumidor comum se perde facilmente.
Mas há luz no fim do túnel. Nos últimos meses, o Banco de Portugal tem apertado o cerco a estas práticas. Novas regras obrigam a uma avaliação mais rigorosa da capacidade de pagamento dos clientes e limitam as taxas de esforço. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões também entrou em ação, fiscalizando as campanhas publicitárias que prometem mundos e fundos.
O fenómeno não é exclusivamente português. Em países como Espanha e Itália, governos implementaram medidas drásticas para proteger os consumidores. Em Madrid, por exemplo, foi criado um registo central de empréstimos que impede os cidadãos de contraírem múltiplos créditos simultaneamente. Medidas semelhantes estão a ser discutidas em Bruxelas, onde se reconhece que este é um problema à escala europeia.
As alternativas existem, embora sejam menos visíveis. As associações de apoio ao consumidor destacam os créditos pessoais dos bancos tradicionais, que embora exijam mais documentação, oferecem condições muito mais favoráveis. Para quantias menores, os sistemas de empréstimo entre particulares ganham popularidade, eliminando o intermediário financeiro. E não esquecer as linhas de apoio social que muitas autarquias disponibilizam para situações de verdadeira emergência.
O que falta, segundo especialistas contactados para esta reportagem, é educação financeira. Desde cedo, os portugueses deveriam aprender a gerir o seu orçamento, a distinguir entre necessidade real e desejo imediato, a compreender os mecanismos do crédito. Escolas, associações e até empregadores poderiam ter um papel crucial nesta missão de literacia financeira.
Enquanto isso, histórias como a de Maria continuam a multiplicar-se. Ela encontrou ajuda numa associação de defesa do consumidor que a está a auxiliar na renegociação das suas dívidas. O processo é lento e doloroso, mas pela primeira vez em dois anos, vê uma saída. A sua experiência serve de alerta: antes de assinar qualquer contrato de crédito, leia, questione, compare. O dinheiro rápido pode sair caro - muito caro.