O lado oculto do crédito verde: como os bancos estão a 'lavar' milhões em empréstimos sustentáveis
Nas últimas semanas, os principais portais económicos portugueses têm destacado o crescimento exponencial dos créditos verdes. Bancos anunciam números recorde, governos aplaudem a transição ecológica, e os consumidores sentem-se heróis do planeta ao contrair uma hipoteca ou um empréstimo pessoal com a etiqueta 'sustentável'. Mas uma investigação aprofundada revela um cenário bem diferente: muitos destes créditos são pouco mais do que operações de marketing, com critérios de sustentabilidade tão flexíveis que até um investimento em combustíveis fósseis poderia qualificar-se.
A reportagem começou com uma pergunta simples: o que define realmente um 'crédito verde'? A resposta, descobrimos, é tão nebulosa quanto as emissões que estes produtos supostamente combatem. Enquanto a União Europeia trabalha numa taxonomia detalhada, os bancos portugueses estão a aproveitar o vazio regulatório para classificar como 'verdes' empréstimos que têm apenas ligeiras melhorias ambientais. Um banco, por exemplo, considerou 'sustentável' o financiamento a um edifício que apenas cumpria os requisitos mínimos de eficiência energética - algo que já é obrigatório por lei desde 2013.
Os números são impressionantes, mas enganadores. Segundo dados recolhidos junto de várias instituições financeiras, o volume de crédito verde em Portugal cresceu 300% nos últimos dois anos. No entanto, quando se analisam os critérios utilizados, percebe-se que muitos destes empréstimos não passam de produtos convencionais com uma roupagem ecológica. Um gestor de risco, que falou sob condição de anonimato, confessou: 'Metemos a etiqueta verde em tudo o que mexe. O cliente fica feliz, nós cumprimos as metas ESG, e os acionistas veem os números a subir. É um win-win-win, mesmo que o planeta não ganhe nada'.
A situação torna-se mais preocupante quando se analisam os incentivos. Bancos que emitem mais créditos verdes recebem melhores classificações de sustentabilidade, atraem investidores conscientes e beneficiam de condições mais favoráveis junto do Banco Central Europeu. Este círculo virtuoso na teoria transforma-se num ciclo perigoso na prática: a pressão para aumentar os números leva a uma inflação artificial dos critérios ambientais. O resultado? Milhões de euros estão a ser canalizados para projetos que pouco contribuem para a transição ecológica, enquanto os verdadeiros investimentos verdes continuam subfinanciados.
Mas há luz ao fundo do túnel. Algumas instituições começam a destacar-se pelo rigor. O BPI, por exemplo, desenvolveu uma metodologia própria de avaliação que vai além dos requisitos legais, analisando o ciclo de vida completo dos projetos financiados. Já o Santander criou uma equipa independente que valida cada operação antes de lhe atribuir a classificação verde. Estas boas práticas, no entanto, são ainda a exceção e não a regra.
O que está em jogo vai além do greenwashing bancário. A credibilidade da própria transição ecológica está em risco. Se os consumidores perderem a confiança nos produtos financeiros sustentáveis, todo o esforço de descarbonização da economia poderá ficar comprometido. E o tempo urge: segundo os especialistas, Portugal precisa de triplicar o investimento verde até 2030 para cumprir as metas climáticas.
A solução, defendem os analistas mais críticos, passa por uma regulação mais apertada e transparente. A Comissão Europeia prepara novas diretivas, mas estas só entrarão em vigor dentro de dois anos. Entretanto, organizações não-governamentais propõem a criação de um selo nacional de qualidade para créditos verdes, semelhante ao que já existe para produtos orgânicos. Esta certificação independente permitiria aos consumidores distinguir o trigo do joio.
Enquanto isso, os portugueses que pretendem contrair créditos verdes devem adotar uma postura crítica. Perguntar que critérios específicos tornam o empréstimo sustentável, exigir provas concretas do impacto ambiental e comparar várias ofertas antes de decidir. Afinal, num mercado onde a sustentabilidade se tornou um argumento de venda, o primeiro gesto ecológico pode ser simplesmente não acreditar em tudo o que nos querem vender como verde.
O caso dos créditos verdes em Portugal ilustra um fenómeno mais amplo: a financeirização da sustentabilidade. À medida que o capitalismo tenta pintar-se de verde, cabe aos cidadãos, jornalistas e reguladores garantir que a cor não seja apenas superficial. Porque, no final, o que está em causa não são apenas números num relatório financeiro, mas o futuro do planeta que habitamos.
A reportagem começou com uma pergunta simples: o que define realmente um 'crédito verde'? A resposta, descobrimos, é tão nebulosa quanto as emissões que estes produtos supostamente combatem. Enquanto a União Europeia trabalha numa taxonomia detalhada, os bancos portugueses estão a aproveitar o vazio regulatório para classificar como 'verdes' empréstimos que têm apenas ligeiras melhorias ambientais. Um banco, por exemplo, considerou 'sustentável' o financiamento a um edifício que apenas cumpria os requisitos mínimos de eficiência energética - algo que já é obrigatório por lei desde 2013.
Os números são impressionantes, mas enganadores. Segundo dados recolhidos junto de várias instituições financeiras, o volume de crédito verde em Portugal cresceu 300% nos últimos dois anos. No entanto, quando se analisam os critérios utilizados, percebe-se que muitos destes empréstimos não passam de produtos convencionais com uma roupagem ecológica. Um gestor de risco, que falou sob condição de anonimato, confessou: 'Metemos a etiqueta verde em tudo o que mexe. O cliente fica feliz, nós cumprimos as metas ESG, e os acionistas veem os números a subir. É um win-win-win, mesmo que o planeta não ganhe nada'.
A situação torna-se mais preocupante quando se analisam os incentivos. Bancos que emitem mais créditos verdes recebem melhores classificações de sustentabilidade, atraem investidores conscientes e beneficiam de condições mais favoráveis junto do Banco Central Europeu. Este círculo virtuoso na teoria transforma-se num ciclo perigoso na prática: a pressão para aumentar os números leva a uma inflação artificial dos critérios ambientais. O resultado? Milhões de euros estão a ser canalizados para projetos que pouco contribuem para a transição ecológica, enquanto os verdadeiros investimentos verdes continuam subfinanciados.
Mas há luz ao fundo do túnel. Algumas instituições começam a destacar-se pelo rigor. O BPI, por exemplo, desenvolveu uma metodologia própria de avaliação que vai além dos requisitos legais, analisando o ciclo de vida completo dos projetos financiados. Já o Santander criou uma equipa independente que valida cada operação antes de lhe atribuir a classificação verde. Estas boas práticas, no entanto, são ainda a exceção e não a regra.
O que está em jogo vai além do greenwashing bancário. A credibilidade da própria transição ecológica está em risco. Se os consumidores perderem a confiança nos produtos financeiros sustentáveis, todo o esforço de descarbonização da economia poderá ficar comprometido. E o tempo urge: segundo os especialistas, Portugal precisa de triplicar o investimento verde até 2030 para cumprir as metas climáticas.
A solução, defendem os analistas mais críticos, passa por uma regulação mais apertada e transparente. A Comissão Europeia prepara novas diretivas, mas estas só entrarão em vigor dentro de dois anos. Entretanto, organizações não-governamentais propõem a criação de um selo nacional de qualidade para créditos verdes, semelhante ao que já existe para produtos orgânicos. Esta certificação independente permitiria aos consumidores distinguir o trigo do joio.
Enquanto isso, os portugueses que pretendem contrair créditos verdes devem adotar uma postura crítica. Perguntar que critérios específicos tornam o empréstimo sustentável, exigir provas concretas do impacto ambiental e comparar várias ofertas antes de decidir. Afinal, num mercado onde a sustentabilidade se tornou um argumento de venda, o primeiro gesto ecológico pode ser simplesmente não acreditar em tudo o que nos querem vender como verde.
O caso dos créditos verdes em Portugal ilustra um fenómeno mais amplo: a financeirização da sustentabilidade. À medida que o capitalismo tenta pintar-se de verde, cabe aos cidadãos, jornalistas e reguladores garantir que a cor não seja apenas superficial. Porque, no final, o que está em causa não são apenas números num relatório financeiro, mas o futuro do planeta que habitamos.