Seguros

Energia

Telecomunicações

Energia Solar

Aparelhos Auditivos

Créditos

Educação

Seguro de Animais de Estimação

Blogue

O lado oculto dos créditos: como os bancos portugueses estão a reinventar o empréstimo na era digital

Num pequeno escritório em Lisboa, um analista de crédito observa um ecrã onde algoritmos decidem, em segundos, quem merece um empréstimo. Esta cena, que parece saída de um filme de ficção científica, é a nova realidade dos bancos portugueses. Enquanto os consumidores navegam por aplicações com interfaces coloridas, nos bastidores, máquinas aprendem com cada clique, cada transação, cada padrão de consumo.

A revolução digital chegou ao crédito, mas poucos percebem as suas implicações. Os bancos tradicionais, outrora lentos e burocráticos, estão agora a competir com fintechs que prometem aprovações em minutos. O que se perde nesta corrida pela velocidade? A relação humana, o conselho personalizado, a compreensão das circunstâncias únicas de cada cliente.

Nos últimos meses, surgiram produtos que desafiam as categorias tradicionais. Créditos 'verdes' para eficiência energética, empréstimos com taxas variáveis ligadas a índices de sustentabilidade, linhas de crédito que se adaptam automaticamente às necessidades das empresas. Estas inovações são promissoras, mas escondem complexidades que muitos consumidores não compreendem totalmente.

A regulação tenta acompanhar o ritmo da inovação. O Banco de Portugal tem aumentado a supervisão sobre as práticas de concessão de crédito, especialmente no que diz respeito à proteção de dados e à transparência dos algoritmos. No entanto, os especialistas alertam que as regras atuais podem não ser suficientes para um setor em transformação tão rápida.

Para as pequenas e médias empresas, o panorama é particularmente desafiante. Enquanto as grandes corporações têm acesso a condições privilegiadas, as PMEs muitas vezes enfrentam processos mais lentos e exigências mais rigorosas. Alguns bancos estão a desenvolver soluções específicas para este segmento, usando inteligência artificial para analisar o potencial de negócios além dos balanços tradicionais.

O crédito ao consumo também está a mudar radicalmente. As compras a prestações, outrora limitadas a bens duráveis como automóveis e eletrodomésticos, expandiram-se para viagens, educação e até experiências. Esta democratização do crédito traz oportunidades, mas também riscos de sobreendividamento que preocupam as autoridades.

Nos bastidores deste ecossistema em transformação, os dados são a nova moeda. Cada pesquisa na internet, cada compra com cartão, cada movimento na conta bancária alimenta os modelos que decidem quem tem acesso ao crédito e em que condições. Esta recolha massiva de informação levanta questões éticas que a sociedade ainda não resolveu completamente.

A pandemia acelerou muitas destas tendências. O teletrabalho, o comércio eletrónico e as mudanças nos padrões de consumo forçaram os bancos a adaptarem-se rapidamente. Créditos com moratórias automáticas, renegociações simplificadas e processos totalmente digitais deixaram de ser exceções para se tornarem normas.

Olhando para o futuro, especialistas preveem uma fragmentação ainda maior do mercado. Em vez de alguns grandes bancos dominarem tudo, veremos nichos especializados: plataformas para créditos específicos, cooperativas digitais, marketplaces que comparam ofertas em tempo real. Esta diversificação pode beneficiar os consumidores, mas exige maior literacia financeira.

O verdadeiro desafio, contudo, não é tecnológico. É cultural. Como equilibrar a eficiência dos algoritmos com a empatia humana? Como garantir que o crédito, em vez de criar armadilhas, seja uma ferramenta de emancipação económica? Estas são as questões que definirão o futuro do setor nos próximos anos.

Enquanto isso, nas ruas de Portugal, milhões de pessoas continuam a usar o crédito para realizar sonhos, superar dificuldades e construir futuros. A forma como o fazem está a mudar mais rapidamente do que nunca, num silêncio que esconde uma revolução em curso.

Tags