O mistério dos créditos que ninguém fala: entre a urgência e o silêncio dos bancos
Há um segredo guardado a sete chaves nos corredores das instituições financeiras portuguesas, um assunto que raramente aparece nas primeiras páginas, mas que determina o destino de milhares de famílias: o crédito ao consumo. Enquanto os holofotes se viram para os empréstimos habitação e às empresas, existe todo um universo paralelo de financiamento que segue regras próprias, quase clandestinas, e que está a transformar-se num campo minado para os consumidores menos informados.
A verdade é que os portugueses estão a recorrer cada vez mais a este tipo de financiamento, especialmente após a pandemia, mas poucos compreendem as armadilhas escondidas nas letras pequenas dos contratos. As taxas de juro, que podem variar entre os 6% e os 15%, são apenas a ponta do icebergue. O que realmente preocupa os especialistas são as comissões ocultas, os prazos de carência que não são carência nenhuma, e as penalizações por pagamento antecipado que transformam a boa intenção num pesadelo financeiro.
Nos últimos meses, surgiu um fenómeno ainda mais preocupante: os créditos instantâneos através de aplicações móveis. Estas fintechs prometem dinheiro em 15 minutos, sem perguntas embaraçosas, mas cobram juros que fazem corar até os agiotas mais ousados do século passado. O problema é que esta facilidade de acesso está a criar uma nova geração de endividados, jovens entre os 25 e os 35 anos que, seduzidos pela imediatez, assinam contratos sem ler as condições, muitas vezes em inglês ou com terminologia técnica indecifrável para o comum dos mortais.
O Banco de Portugal tem tentado alertar para estes perigos, mas a verdade é que a regulamentação não consegue acompanhar a velocidade da inovação financeira. Enquanto isso, os bancos tradicionais observam de longe, mantendo os seus produtos de crédito ao consumo com taxas mais baixas, mas exigindo uma papelada que desencoraja os clientes mais impacientes. Esta dicotomia entre a burocracia segura e a velocidade perigosa está a criar um mercado bipolar, onde os consumidores têm de escolher entre a frustração e o risco.
Mas há uma luz ao fundo do túnel: as cooperativas de crédito e as associações mutualistas estão a ganhar terreno, oferecendo alternativas mais transparentes e com taxas humanizadas. Estas instituições, muitas vezes esquecidas nas análises financeiras, estão a demonstrar que é possível conciliar acesso rápido com responsabilidade, provando que o problema não está no crédito em si, mas na forma como ele é comercializado.
O que falta, segundo os economistas mais críticos, é educação financeira nas escolas e campanhas de sensibilização que mostrem os números reais. Porque quando se converte uma taxa mensal para anual, ou se calculam os juros compostos ao longo de cinco anos, muitos dos créditos que parecem inofensivos revelam-se autênticas bombas-relógio. E o pior é que estas bombas não explodem de imediato – vão minando lentamente o orçamento familiar, até que um dia já não há margem para manobras.
A solução pode passar por uma maior transparência obrigatória, com simuladores que mostrem claramente o custo total do crédito em euros, não apenas em percentagens. Alguns países europeus já implementaram esta medida com sucesso, reduzindo significativamente os casos de sobre-endividamento. Portugal, no entanto, continua a navegar entre a autorregulação do setor e a intervenção estatal tímida, enquanto os números do incumprimento vão aumentando silenciosamente.
No fundo, o crédito ao consumo não é um vilão – é uma ferramenta que, bem utilizada, pode ajudar a equilibrar as finanças pessoais. O problema surge quando essa ferramenta é vendida como brinquedo, sem manual de instruções e com peças que só se descobrem quando já é tarde demais. Cabe aos consumidores exigir clareza, aos reguladores impor transparência, e aos media continuar a investigar este mundo semioculto que determina tanto da nossa vida económica.
A próxima vez que pensar num crédito para aquela viagem, o carro novo ou simplesmente para equilibrar as contas no fim do mês, lembre-se: o diabo não está nos detalhes – está na pressa com que ignora esses mesmos detalhes. E nesse campo, infelizmente, os portugueses continuam a ser campeões.
A verdade é que os portugueses estão a recorrer cada vez mais a este tipo de financiamento, especialmente após a pandemia, mas poucos compreendem as armadilhas escondidas nas letras pequenas dos contratos. As taxas de juro, que podem variar entre os 6% e os 15%, são apenas a ponta do icebergue. O que realmente preocupa os especialistas são as comissões ocultas, os prazos de carência que não são carência nenhuma, e as penalizações por pagamento antecipado que transformam a boa intenção num pesadelo financeiro.
Nos últimos meses, surgiu um fenómeno ainda mais preocupante: os créditos instantâneos através de aplicações móveis. Estas fintechs prometem dinheiro em 15 minutos, sem perguntas embaraçosas, mas cobram juros que fazem corar até os agiotas mais ousados do século passado. O problema é que esta facilidade de acesso está a criar uma nova geração de endividados, jovens entre os 25 e os 35 anos que, seduzidos pela imediatez, assinam contratos sem ler as condições, muitas vezes em inglês ou com terminologia técnica indecifrável para o comum dos mortais.
O Banco de Portugal tem tentado alertar para estes perigos, mas a verdade é que a regulamentação não consegue acompanhar a velocidade da inovação financeira. Enquanto isso, os bancos tradicionais observam de longe, mantendo os seus produtos de crédito ao consumo com taxas mais baixas, mas exigindo uma papelada que desencoraja os clientes mais impacientes. Esta dicotomia entre a burocracia segura e a velocidade perigosa está a criar um mercado bipolar, onde os consumidores têm de escolher entre a frustração e o risco.
Mas há uma luz ao fundo do túnel: as cooperativas de crédito e as associações mutualistas estão a ganhar terreno, oferecendo alternativas mais transparentes e com taxas humanizadas. Estas instituições, muitas vezes esquecidas nas análises financeiras, estão a demonstrar que é possível conciliar acesso rápido com responsabilidade, provando que o problema não está no crédito em si, mas na forma como ele é comercializado.
O que falta, segundo os economistas mais críticos, é educação financeira nas escolas e campanhas de sensibilização que mostrem os números reais. Porque quando se converte uma taxa mensal para anual, ou se calculam os juros compostos ao longo de cinco anos, muitos dos créditos que parecem inofensivos revelam-se autênticas bombas-relógio. E o pior é que estas bombas não explodem de imediato – vão minando lentamente o orçamento familiar, até que um dia já não há margem para manobras.
A solução pode passar por uma maior transparência obrigatória, com simuladores que mostrem claramente o custo total do crédito em euros, não apenas em percentagens. Alguns países europeus já implementaram esta medida com sucesso, reduzindo significativamente os casos de sobre-endividamento. Portugal, no entanto, continua a navegar entre a autorregulação do setor e a intervenção estatal tímida, enquanto os números do incumprimento vão aumentando silenciosamente.
No fundo, o crédito ao consumo não é um vilão – é uma ferramenta que, bem utilizada, pode ajudar a equilibrar as finanças pessoais. O problema surge quando essa ferramenta é vendida como brinquedo, sem manual de instruções e com peças que só se descobrem quando já é tarde demais. Cabe aos consumidores exigir clareza, aos reguladores impor transparência, e aos media continuar a investigar este mundo semioculto que determina tanto da nossa vida económica.
A próxima vez que pensar num crédito para aquela viagem, o carro novo ou simplesmente para equilibrar as contas no fim do mês, lembre-se: o diabo não está nos detalhes – está na pressa com que ignora esses mesmos detalhes. E nesse campo, infelizmente, os portugueses continuam a ser campeões.