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O segredo dos créditos que ninguém te conta: como os bancos ganham mesmo quando perdes

Nas prateleiras digitais dos principais meios económicos portugueses, há um tema que surge com a regularidade das marés: os créditos. Fala-se de spreads, de Euribor, de comissões. Mas há uma história por contar, uma que se esconde nas entrelinhas dos contratos que assinamos com a pressa de quem precisa de uma solução. Esta é a investigação sobre o lado menos visível do crédito em Portugal, um mundo onde a matemática financeira se torna numa arte de ilusão, e onde o cliente, muitas vezes, é o último a perceber as regras do jogo.

Vamos começar pelo princípio, ou melhor, pelo que deveria ser o princípio: a transparência. Percorrendo os sites de economia e negócios, encontramos análises detalhadas sobre as melhores taxas do mercado, comparadores que prometem poupanças milagrosas. No entanto, raramente se explora o que acontece depois da assinatura. Os contratos de crédito, especialmente os pessoais e automóvel, são labirintos de cláusulas onde se escondem mecanismos de lucro que pouco têm a ver com a taxa de juro anunciada. Falamos de seguros vinculados com margens obscenas, de comissões por reembolso antecipado que penalizam a boa gestão financeira, e de indexações a benchmarks que ninguém explica ao consumidor comum.

Um dos segredos melhor guardados reside nos seguros de vida associados aos créditos à habitação. Todos sabemos que são obrigatórios, mas quantos percebem como funcionam as comissões de corretagem embutidas? Investigação junto de fontes do setor revela que, em muitos casos, o prémio pago pelo cliente inclui uma margem que reverte diretamente para o banco, independentemente do risco real. É um rendimento garantido, uma renda sobre o medo de algo acontecer. E pior: em caso de sinistro, são as seguradoras que pagam, não os bancos. O lucro é duplo e quase sem risco.

Outra área de sombra é a dos créditos consolidados, apresentados como a tábua de salvação para famílias asfixiadas por dívidas. Os artigos nos jornais económicos focam-se nas taxas e nas condições de acesso, mas pouco se fala da estrutura destes produtos. Eles funcionam, na prática, como um novo empréstimo para pagar os antigos, mas com prazos alongados que podem fazer com que, no final, se pague muito mais juros do que a dívida original. É uma solução que alivia a curto prazo, mas que pode hipotecar o futuro financeiro durante décadas. Os bancos ganham com a reestruturação, as financeiras com a nova dívida, e o cliente fica preso num ciclo difícil de quebrar.

E que dizer dos créditos automóvel, onde a taxa zero por cento é o chamariz perfeito? A verdade é que o desconto que não se dá no juro aparece noutro lado: no preço do veículo, nas comissões de financiamento, ou nos seguros e extensões de garantia que se tornam obrigatórias. É um jogo de espelhos onde o cliente acredita que está a ganhar, enquanto o vendedor e a instituição financeira garantem a sua margem, por vezes superior à de um crédito convencional. A falta de regulação específica para a publicidade a créditos permite estas campanhas agressivas que confundem mais do que esclarecem.

Nos créditos às empresas, a história repete-se com nuances diferentes. As linhas de crédito com taxas bonificadas por cumprimento de objetivos (como volume de negócios ou domiciliação de ordenados) são uma armadilha comum. A empresa, na ânsia de aceder a capital mais barato, compromete-se com condições que podem não ser sustentáveis a médio prazo. Quando falha, as penalidades são severas e as taxas disparam. O banco, mais uma vez, protege os seus rendimentos, transferindo o risco para o cliente.

Mas há luz ao fundo do túnel. A crescente literacia financeira, impulsionada por blogs independentes e por algumas reportagens de investigação, está a mudar o paradigma. Os consumidores começam a fazer perguntas incómodas, a comparar não apenas as taxas, mas o custo total do crédito (TAEG), a ler as letras pequenas. E surgem alternativas, como as cooperativas de crédito ou as plataformas de empréstimo entre particulares (P2P), que desafiam o modelo tradicional, oferecendo condições mais transparentes e, por vezes, mais justas.

O futuro do crédito em Portugal passará, inevitavelmente, por uma maior regulação e supervisão. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) e o Banco de Portugal têm vindo a apertar o cerco, mas a batalha é desigual face aos recursos dos grandes grupos financeiros. Cabe aos jornalistas económicos, e aos cidadãos informados, continuar a escrutinar este setor, a revelar os abusos, a celebrar as boas práticas.

No final, a lição é clara: no mundo do crédito, nada é realmente o que parece. As melhores oportunidades escondem-se não nas campanhas publicitárias, mas na informação, na paciência para negociar, e na coragem de dizer não a produtos desenhados para beneficiar apenas uma das partes. O dinheiro custa, mas a ignorância custa muito mais. E, neste jogo, o conhecimento é a única moeda que verdadeiramente valoriza com o tempo.

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