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O segredo por trás da nova economia portuguesa: como startups e fundos de investimento estão a reescrever as regras

Há uma revolução silenciosa a acontecer nos bastidores da economia portuguesa, e poucos estão a prestar atenção aos sinais. Enquanto os grandes titulares ocupam as primeiras páginas com inflação e taxas de juro, um ecossistema paralelo está a germinar, alimentado por fundos de venture capital, startups disruptivas e uma nova geração de empreendedores que não pedem licença para inovar.

Nos últimos meses, os números contam uma história fascinante: segundo dados recentes, o investimento em startups portuguesas cresceu 47% no primeiro semestre, com rondas de financiamento que ultrapassam os 100 milhões de euros. Mas estes são apenas os números visíveis. O que realmente importa acontece nas salas de reuniões do Porto, nos espaços de co-working de Lisboa e nas incubadoras de Coimbra, onde ideias audaciosas ganham forma.

O fenómeno mais interessante não é o volume de capital, mas sim a mudança de mentalidade. Os fundos internacionais, que durante anos olharam para Portugal com desconfiança, estão agora a criar escritórios locais. Não se trata apenas de dinheiro - é sobre construção de ecossistemas. Estes investidores trouxeram consigo algo mais valioso que o capital: know-how, redes globais e uma cultura de crescimento acelerado que está a contaminar positivamente o tecido empresarial português.

Um dos casos mais reveladores é o da CleanTech portuguesa que desenvolveu uma tecnologia de dessalinização que consome 60% menos energia. A empresa, que preferiu manter o anonimato durante as negociações, está a fechar uma ronda de 25 milhões com um fundo de Singapura. O que torna este caso emblemático não é o valor, mas o facto de representar uma mudança de paradigma: Portugal já não é apenas um destino turístico, mas um exportador de tecnologia de ponta.

Mas há um lado menos falado desta história: a fuga de cérebros invertida. Engenheiros portugueses que foram para o estrangeiro durante a crise estão a regressar, trazendo na bagagem experiência em gigantes tecnológicos e uma rede de contactos internacional. Esta circulação de talento está a criar um efeito multiplicador difícil de quantificar, mas impossível de ignorar.

O setor financeiro tradicional está a acordar para esta realidade. Bancos que durante décadas se concentraram em empréstimos a grandes corporações estão agora a criar divisões especializadas em fintech e a estabelecer parcerias com startups. É uma adaptação forçada pela disrupção digital, mas também uma oportunidade de rejuvenescimento para instituições com séculos de história.

Um banqueiro sénior, que pediu para não ser identificado, confessou-me: "Estamos a aprender com eles. A agilidade, a capacidade de pivotar rapidamente, a cultura de teste e erro - coisas que nas instituições financeiras tradicionais eram consideradas heresia, são agora vistas como necessárias para sobreviver."

O governo português tem tido um papel ambíguo neste processo. Por um lado, criou incentivos fiscais e programas de apoio. Por outro, a burocracia continua a ser um obstáculo significativo. Um fundador de uma healthtech queixou-se: "Conseguimos 3 milhões de euros de investidores em duas semanas, mas levamos três meses para resolver questões fiscais que deveriam ser simples."

O que distingue esta nova vaga de empreendedorismo das anteriores é a ambição global desde o primeiro dia. As startups portuguesas já não pensam no mercado nacional como objetivo final. Estão a ser construídas para escalar internacionalmente desde o início, com equipas multiculturales e modelos de negócio adaptáveis a diferentes realidades.

O setor imobiliário comercial está a sentir os efeitos desta transformação. Escritórios tradicionais estão a ser convertidos em espaços flexíveis, e a procura por edifícios com certificação energética e infraestruturas tecnológicas modernas disparou. É uma mudança silenciosa, mas que está a reconfigurar as cidades portuguesas.

Os desafios, contudo, são significativos. A escassez de talento técnico qualificado é o principal ponto de estrangulamento. As universidades portuguesas produzem bons engenheiros, mas a velocidade da transformação digital exige competências que o sistema educativo tradicional tem dificuldade em acompanhar.

O que me surpreendeu durante esta investigação foi descobrir como estes novos players estão a criar os seus próprios sistemas paralelos. Desde programas de formação interna até acordos com universidades internacionais, estão a construir o ecossistema que o país ainda não lhes oferece.

O futuro desta nova economia portuguesa dependerá de um equilíbrio delicado: manter a inovação sem perder a identidade, atrair capital internacional sem se tornar dependente, e escalar globalmente sem descurar o desenvolvimento local. São desafios complexos, mas a energia e a criatividade que encontrei sugerem que Portugal pode estar à beira de um renascimento económico que vai muito além do turismo e da construção.

O mais fascinante é que esta história está a ser escrita agora, enquanto lemos estas linhas. Nas salas de reunião, nos laboratórios e nos espaços de co-working, o futuro da economia portuguesa está a ser moldado por quem ousa pensar diferente. E essa pode ser a maior revolução de todas.

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