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O que os dados escondem sobre o abandono escolar em Portugal

Há uma história que os números oficiais não contam. Enquanto o Ministério da Educação celebra a redução do abandono escolar para níveis históricos, uma visita às escolas secundárias do interior revela salas cada vez mais vazias. Os dados agregados escondem realidades distintas: nas áreas metropolitanas, a taxa ronda os 5%, mas em concelhos como Alcoutim ou Barrancos, ultrapassa os 20%. O que acontece a estes jovens que desaparecem do sistema?

A resposta está nos corredores silenciosos das escolas profissionais e nos cafés onde adolescentes trabalham em turnos noturnos. Maria, 17 anos, abandonou a escola no 10º ano para ajudar na padaria da família. "Quando o meu pai adoeceu, alguém tinha de garantir o sustento", conta, enquanto amassa pão às quatro da manhã. A sua história repete-se em dezenas de municípios, onde as pressões económicas falam mais alto que as estatísticas.

Mas o abandono não é apenas económico. Há uma dimensão psicológica que raramente entra nos relatórios. Pedro, 16 anos, deixou de frequentar as aulas após meses de bullying. "Sentia-me invisível até ao dia em que decidi tornar-me realmente invisível", confessa. As escolas têm psicólogos, mas a média nacional é de um profissional para cada 800 alunos - números que transformam o apoio emocional numa miragem burocrática.

O digital aprofundou estas fracturas. Durante a pandemia, cerca de 50.000 estudantes ficaram sem acesso a aulas online, segundo estimativas da Associação de Professores. Muitos nunca regressaram. Hoje, esses jovens constituem uma geração silenciosa, fora dos radares estatísticos e das políticas educativas. As plataformas de e-learning prometiam inclusão, mas acabaram por revelar o fosso digital que separa Portugal em dois.

As soluções existem, mas exigem coragem política. Em Viseu, um programa de mentoria entre alunos mais velhos e mais novos reduziu o abandono em 40% em três anos. No Algarve, horários flexíveis permitem que estudantes trabalhem e estudem. São iniciativas locais que raramente escalam para nível nacional, perdidas na teia de regulamentos e financiamentos.

O maior engano é acreditar que o problema se resolve com mais inspecções ou relatórios. O que falta é escuta genuína - aos alunos que partem, aos professores que os vão perdendo, às famílias que enfrentam escolhas impossíveis. Enquanto medirmos o sucesso educativo apenas por percentagens, continuaremos a perder histórias como a da Maria e do Pedro. E o preço desse silêncio será pago por toda uma geração.

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