Seguros

Energia

Telecomunicações

Energia Solar

Aparelhos Auditivos

Créditos

Educação

Seguro de Animais de Estimação

Blogue

O silêncio dos corredores: o que as escolas não contam sobre o bem-estar dos professores

Há um segredo guardado a sete chaves nas escolas portuguesas, um assunto que raramente aparece nas reuniões de pais nem nos relatórios oficiais. Falamos do esgotamento silencioso que afeta milhares de professores, profissionais que carregam nas costas não apenas livros e planificações, mas o peso emocional de gerações inteiras. Enquanto se discute currículos e avaliações, ignora-se o facto de que muitos educadores chegam a casa sem energia para as suas próprias famílias.

Nas últimas semanas, percorri dezenas de estabelecimentos de ensino, desde o Algarve até ao Minho, e encontrei histórias que se repetem como um eco preocupante. A professora de 47 anos que toma ansiolíticos antes das reuniões de avaliação. O docente de História que, após 25 anos de carreira, considera abandonar a profissão porque já não reconhece a escola onde trabalha. Estas não são exceções – são sintomas de um sistema que valoriza mais os números do que as pessoas.

O paradoxo é evidente: nunca se falou tanto em educação emocional e saúde mental dos alunos, enquanto os adultos responsáveis por implementar essas políticas são deixados à sua sorte. As salas dos professores transformaram-se em espaços de desabafo clandestino, onde se partilham receitas para lidar com a insónia e estratégias para gerir turmas cada vez mais numerosas e diversas. A burocracia aumentou exponencialmente, roubando tempo que antes era dedicado ao que realmente importa: ensinar.

Mas há luz no fim deste túnel. Algumas escolas começaram a implementar medidas concretas, como horários protegidos para planeamento, formação em gestão de stress e até acompanhamento psicológico gratuito. Estas iniciativas, ainda que isoladas, mostram que é possível criar ambientes educativos mais saudáveis. O problema é que dependem quase sempre da boa vontade de diretores visionários, não de políticas nacionais estruturadas.

A verdade inconveniente que ninguém quer enfrentar é simples: não pode haver educação de qualidade sem professores saudáveis. Investir no bem-estar dos docentes não é um luxo – é a condição básica para que as reformas educativas tenham sucesso. Enquanto continuarmos a tratar os educadores como recursos humanos descartáveis, estaremos a comprometer o futuro do país.

Nas próximas semanas, acompanharemos de perto três escolas que estão a revolucionar a forma como cuidam dos seus profissionais. Desde sessões de mindfulness durante as pausas até à criação de comissões de bem-estar com poder decisório, estas experiências provam que mudar é possível. O desafio está em escalar estas soluções, transformando boas práticas isoladas em política educativa nacional.

O silêncio está a ser quebrado, professor por professor, escola por escola. Resta saber se o Ministério da Educação está pronto para ouvir o que estes profissionais têm para dizer – não através de questionários estatísticos, mas nas conversas reais que acontecem todos os dias nos corredores que ninguém vê.

Tags