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O silêncio que ensina: quando a educação portuguesa ignora a literacia emocional

Nas salas de aula portuguesas, enquanto os alunos decoram fórmulas matemáticas e regras gramaticais, há uma disciplina invisível que nunca consta dos planos curriculares. A literacia emocional – essa capacidade de reconhecer, gerir e expressar emoções – continua a ser a grande ausente no sistema educativo nacional. Uma análise aos principais portais educativos nacionais revela que, apesar de se falar constantemente em sucesso escolar e competências do século XXI, poucos abordam esta dimensão fundamental do desenvolvimento humano.

Os dados são preocupantes: segundo estudos recentes, Portugal está entre os países europeus com menores índices de educação emocional nas escolas. Enquanto países como a Finlândia e a Dinamarca integraram há décadas programas estruturados de inteligência emocional no currículo, nós continuamos a debater-nos com modelos pedagógicos do século passado. As consequências desta lacuna são visíveis nos corredores das escolas: ansiedade entre os jovens, dificuldades de relacionamento interpessoal e uma gritante falta de ferramentas para lidar com a frustração.

O paradoxo é evidente. Investimos milhões em quadros interativos e plataformas digitais, mas esquecemo-nos de que as emoções são a base de toda a aprendizagem. Neurocientistas comprovam que o estado emocional condiciona diretamente a capacidade de absorver conhecimento. Um aluno ansioso ou deprimido tem o córtex pré-frontal – área cerebral responsável pela concentração e raciocínio – literalmente bloqueado. No entanto, continuamos a insistir em métodos que ignoram esta realidade biológica.

Algumas escolas privadas já começaram a implementar programas pioneiros, mas são iniciativas isoladas e sem enquadramento nacional. A Escola Global, por exemplo, introduziu sessões de mindfulness e círculos de partilha emocional, com resultados surpreendentes no bem-estar dos alunos. No público, porém, estas práticas são raras e dependem quase sempre da boa vontade individual de alguns professores.

Os especialistas alertam para o custo social desta negligência. Jovens sem literacia emocional tornam-se adultos com dificuldades em gerir conflitos, estabelecer relações saudáveis e lidar com as pressões da vida profissional. A saúde mental da população – já tão frágil – paga o preço desta omissão educativa.

Há, contudo, sinais de mudança. Alguns municípios começam a formar professores em competências socioemocionais, e o Ministério da Educação anunciou recentemente a intenção de rever as aprendizagens essenciais nesta área. Mas o caminho é longo e exige mais do que boas intenções. É necessária uma verdadeira revolução na forma como encaramos a educação – não como mera transmissão de conhecimentos, mas como formação integral do ser humano.

Enquanto isso, nas nossas escolas, as emoções continuam a ser o elefante na sala. Aprendem-se equações e datas históricas, mas não se aprende a lidar com a raiva, a tristeza ou a alegria. Educamos mentes brilhantes que depois tropeçam nas complexidades simples da existência humana. O desafio que se coloca ao sistema educativo português é claro: ou abraça a educação emocional como pilar fundamental, ou continuará a produzir gerações tecnicamente competentes mas emocionalmente analfabetas.

O futuro da educação em Portugal dependerá da coragem para ensinar o que verdadeiramente importa: não apenas a pensar, mas a sentir; não apenas a saber, mas a ser. E isso exige quebrar tabus, desafiar tradições e, sobretudo, reconhecer que as notas no papel dizem pouco sobre a qualidade da vida que estamos a preparar para os nossos jovens.

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