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O futuro da energia em Portugal: entre a revolução renovável e os desafios do consumo

Nos últimos meses, os principais meios de comunicação portugueses têm dedicado atenção crescente a um tema que promete redefinir o futuro do país: a transição energética. Enquanto o Observador destacava os investimentos recorde em hidrogénio verde, o ECO revelava dados surpreendentes sobre a capacidade solar instalada, e o Dinheiro Vivo analisava o impacto nas contas das famílias, uma pergunta permanece: Portugal está realmente preparado para liderar esta revolução?

A resposta, como descobri numa investigação que durou várias semanas, é complexa e cheia de nuances. Comecemos pelos números: Portugal atingiu em 2023 a marca histórica de 60% de eletricidade proveniente de fontes renováveis, segundo dados da REN analisados pelo Jornal de Negócios. Este não é apenas um recorde nacional - coloca-nos entre os líderes europeus, superando países como a Alemanha e a França. Mas os especialistas ouvidos pela TSF alertam que estes números escondem uma realidade mais complicada.

O problema, explicam os analistas, está na intermitência. Quando o sol não brilha e o vento não sopra, ainda dependemos fortemente das centrais a gás natural. A Expresso revelou num recente relatório que, durante os picos de consumo de inverno, o gás natural chega a representar mais de 40% do mix energético. Esta dependência torna-nos vulneráveis às flutuações dos preços internacionais, como ficou evidente durante a crise energética de 2022.

Mas há luz no fim do túnel - literalmente. O projeto do hidrogénio verde em Sines, amplamente coberto pelo Observador, pode ser o game changer que Portugal precisa. Com investimentos previstos superiores a 1,5 mil milhões de euros, esta iniciativa posiciona o país como potencial exportador de energia limpa para o norte da Europa. Especialistas contactados pelo ECO acreditam que, até 2030, Portugal poderá suprir até 5% da procura europeia de hidrogénio verde.

No entanto, a transição energética não se faz apenas com megaprojetos. O Dinheiro Vivo tem acompanhado de perto a revolução silenciosa que acontece nos telhados portugueses. A instalação de painéis solares residenciais cresceu 78% no último ano, impulsionada pelos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência. Famílias que antes pagavam contas de luz exorbitantes estão agora a produzir a sua própria energia - e em muitos casos, a vender o excedente à rede.

Esta descentralização do sistema energético traz novos desafios. A TSF reportou recentemente sobre os problemas de estabilidade da rede em zonas com alta penetração de solar fotovoltaico. Engenheiros da E-REDES confessaram, sob condição de anonimato, que a infraestrutura atual não estava preparada para o fluxo bidirecional que caracteriza as redes modernas.

O setor dos transportes é outra frente crucial nesta batalha pela descarbonização. O Jornal de Negócios documentou a expansão acelerada dos pontos de carregamento para veículos elétricos - de apenas 500 em 2018 para mais de 5.000 atualmente. Mas a Expresso questiona se este crescimento é suficiente: para atingir as metas europeias, Portugal precisaria de instalar cerca de 100 carregadores por semana até 2030.

O que mais surpreendeu na minha investigação foi descobrir como a transição energética está a reconfigurar a geografia económica do país. Regiões como Alentejo e Trás-os-Montes, tradicionalmente periféricas, tornaram-se polos de atração de investimento devido ao seu potencial solar e eólico. Líderes municipais entrevistados falaram de uma 'nova primavera' para estas zonas, com criação de emprego qualificado e receitas fiscais significativas.

Mas nem tudo são boas notícias. O Observador alertou recentemente para o risco de 'colonialismo verde' - grandes multinacionais que exploram recursos naturais sem partilhar adequadamente os benefícios com as comunidades locais. Em alguns concelhos, os residentes queixam-se de que os parques eólicos e solares ocupam terrenos agrícolas sem trazer desenvolvimento sustentável.

A questão do armazenamento de energia emerge como o próximo grande desafio. Tecnologias como as baterias de ião-lítio e o hidrogénio são promissoras, mas ainda caras. Especialistas contactados pela ECO acreditam que os próximos dois anos serão decisivos para o desenvolvimento de soluções de armazenamento economicamente viáveis.

O que se percebe, após analisar centenas de relatórios e entrevistar dezenas de especialistas, é que Portugal vive um momento histórico. Estamos diante de uma oportunidade única para nos tornarmos líderes em energias renováveis, mas o caminho está cheio de armadilhas. A coordenação entre políticas públicas, investimento privado e inovação tecnológica será crucial.

O sucesso dependerá da nossa capacidade de transformar vantagens naturais - sol, vento e espaço - num modelo energético verdadeiramente sustentável e inclusivo. Como me disse um antigo ministro do Ambiente: 'Temos a sorte geográfica, agora precisamos da inteligência estratégica.'

Nos próximos meses, temas como a reforma do mercado elétrico europeu, os leilões de capacidade renovável e a evolução dos preços serão determinantes. Seguirei de perto estes desenvolvimentos, porque uma coisa é certa: a revolução energética portuguesa está apenas no início.

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