O jogo das sombras: como as grandes petrolíferas estão a moldar a transição energética em Portugal
Nos corredores silenciosos do poder, onde as decisões que moldam o nosso futuro energético são tomadas, uma batalha subtil está a ser travada. Não se trata de protestos nas ruas ou de discursos inflamados no parlamento. É um jogo de sombras, jogado com contratos milionários, lobbies discretos e promessas de um amanhã mais verde que, muitas vezes, escondem os mesmos interesses de sempre.
Enquanto o governo português anuncia metas ambiciosas para a descarbonização, as grandes petrolíferas estão a reposicionar-se com uma agilidade que surpreende até os observadores mais atentos. A TotalEnergies, a Galp e a BP não estão a desaparecer do mapa; estão a reinventar-se, adquirindo startups de energias renováveis, investindo em hidrogénio verde e assegurando posições dominantes nos leilões eólicos offshore. O que parece uma conversão sincera à causa ambiental pode, na verdade, ser uma estratégia para manter o controlo sobre o sistema energético.
Os números contam uma história reveladora. Nos últimos dois anos, as petrolíferas aumentaram os seus investimentos em renováveis em Portugal em mais de 300%, mas os lucros provenientes do petróleo e gás continuam a representar mais de 80% das suas receitas. Esta dualidade cria um conflito de interesses intrínseco: quanto mais dependermos destas empresas para a transição energética, mais poder terão para ditar o ritmo – um ritmo que, convenientemente, mantém os seus negócios tradicionais lucrativos por mais tempo.
O caso do hidrogénio verde é particularmente ilustrativo. Apresentado como a panaceia para descarbonizar setores difíceis como a indústria pesada e os transportes, este gás produzido a partir de energias renováveis tornou-se o novo eldorado. No entanto, a maioria dos projetos anunciados em Portugal são liderados por consórcios onde as petrolíferas detêm participações maioritárias ou significativas. O risco? Que o hidrogénio verde se torne um cavalo de Troia, permitindo que estas empresas capturem os subsídios públicos destinados à transição energética enquanto mantêm a sua influência sobre o sistema.
Nos bastidores, o lobby é intenso e sofisticado. Relatórios internos de consultoras contratadas pelas petrolíferas, a que tivemos acesso, revelam estratégias cuidadosamente desenhadas para influenciar a regulamentação europeia e nacional. O foco está em moldar as regras dos mercados de carbono, prolongar os prazos para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e garantir que os critérios para aceder a fundos públicos sejam favoráveis aos grandes players. Enquanto isso, as pequenas e médias empresas de energias renovais, verdadeiramente independentes, lutam por financiamento e acesso à rede.
A narrativa pública é, no entanto, impecável. Anúncios de neutralidade carbónica até 2050, campanhas de marketing com imagens de parques eólicos e painéis solares, parcerias com universidades para investigação em tecnologias limpas. Tudo isto cria uma aura de progressismo que desarma a crítica e conquista a opinião pública. Mas quando se escava abaixo da superfície, encontram-se realidades menos brilhantes: continuam a explorar-se novos poços de gás, os investimentos em captura e armazenamento de carbono (tecnologia ainda não comprovada à escala) servem de justificação para manter as centrais a gás, e as operações em países com regimes duvidosos continuam, muitas vezes com impactos ambientais devastadores.
O que está em jogo em Portugal vai além da simples substituição de uma fonte de energia por outra. Trata-se de decidir quem controlará a energia no século XXI: será um sistema descentralizado, democrático e diversificado, com comunidades e pequenos produtores a desempenharem um papel central? Ou será uma versão renovada do oligopólio atual, onde alguns gigantes corporativos trocam o petróleo pelo sol e pelo vento, mas mantêm o mesmo poder sobre as nossas vidas e economias?
As respostas não são simples, mas as perguntas são urgentes. Enquanto cidadãos, consumidores e eleitores, temos o direito – e o dever – de exigir transparência. De questionar quem beneficia verdadeiramente dos milhões de euros em subsídios públicos. De vigiar para que a transição energética não se transforme numa transição de poder, onde os mesmos de sempre saiam vencedores, apenas com um novo disfarce verde.
O futuro energético de Portugal está a ser desenhado agora, nas salas de reuniões, nas propostas legislativas e nos contratos assinados à porta fechada. Cabe-nos a todos garantir que esse futuro seja realmente limpo, justo e democrático – e não apenas uma mudança de cenário no mesmo palco, com os mesmos atores principais.
Enquanto o governo português anuncia metas ambiciosas para a descarbonização, as grandes petrolíferas estão a reposicionar-se com uma agilidade que surpreende até os observadores mais atentos. A TotalEnergies, a Galp e a BP não estão a desaparecer do mapa; estão a reinventar-se, adquirindo startups de energias renováveis, investindo em hidrogénio verde e assegurando posições dominantes nos leilões eólicos offshore. O que parece uma conversão sincera à causa ambiental pode, na verdade, ser uma estratégia para manter o controlo sobre o sistema energético.
Os números contam uma história reveladora. Nos últimos dois anos, as petrolíferas aumentaram os seus investimentos em renováveis em Portugal em mais de 300%, mas os lucros provenientes do petróleo e gás continuam a representar mais de 80% das suas receitas. Esta dualidade cria um conflito de interesses intrínseco: quanto mais dependermos destas empresas para a transição energética, mais poder terão para ditar o ritmo – um ritmo que, convenientemente, mantém os seus negócios tradicionais lucrativos por mais tempo.
O caso do hidrogénio verde é particularmente ilustrativo. Apresentado como a panaceia para descarbonizar setores difíceis como a indústria pesada e os transportes, este gás produzido a partir de energias renováveis tornou-se o novo eldorado. No entanto, a maioria dos projetos anunciados em Portugal são liderados por consórcios onde as petrolíferas detêm participações maioritárias ou significativas. O risco? Que o hidrogénio verde se torne um cavalo de Troia, permitindo que estas empresas capturem os subsídios públicos destinados à transição energética enquanto mantêm a sua influência sobre o sistema.
Nos bastidores, o lobby é intenso e sofisticado. Relatórios internos de consultoras contratadas pelas petrolíferas, a que tivemos acesso, revelam estratégias cuidadosamente desenhadas para influenciar a regulamentação europeia e nacional. O foco está em moldar as regras dos mercados de carbono, prolongar os prazos para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e garantir que os critérios para aceder a fundos públicos sejam favoráveis aos grandes players. Enquanto isso, as pequenas e médias empresas de energias renovais, verdadeiramente independentes, lutam por financiamento e acesso à rede.
A narrativa pública é, no entanto, impecável. Anúncios de neutralidade carbónica até 2050, campanhas de marketing com imagens de parques eólicos e painéis solares, parcerias com universidades para investigação em tecnologias limpas. Tudo isto cria uma aura de progressismo que desarma a crítica e conquista a opinião pública. Mas quando se escava abaixo da superfície, encontram-se realidades menos brilhantes: continuam a explorar-se novos poços de gás, os investimentos em captura e armazenamento de carbono (tecnologia ainda não comprovada à escala) servem de justificação para manter as centrais a gás, e as operações em países com regimes duvidosos continuam, muitas vezes com impactos ambientais devastadores.
O que está em jogo em Portugal vai além da simples substituição de uma fonte de energia por outra. Trata-se de decidir quem controlará a energia no século XXI: será um sistema descentralizado, democrático e diversificado, com comunidades e pequenos produtores a desempenharem um papel central? Ou será uma versão renovada do oligopólio atual, onde alguns gigantes corporativos trocam o petróleo pelo sol e pelo vento, mas mantêm o mesmo poder sobre as nossas vidas e economias?
As respostas não são simples, mas as perguntas são urgentes. Enquanto cidadãos, consumidores e eleitores, temos o direito – e o dever – de exigir transparência. De questionar quem beneficia verdadeiramente dos milhões de euros em subsídios públicos. De vigiar para que a transição energética não se transforme numa transição de poder, onde os mesmos de sempre saiam vencedores, apenas com um novo disfarce verde.
O futuro energético de Portugal está a ser desenhado agora, nas salas de reuniões, nas propostas legislativas e nos contratos assinados à porta fechada. Cabe-nos a todos garantir que esse futuro seja realmente limpo, justo e democrático – e não apenas uma mudança de cenário no mesmo palco, com os mesmos atores principais.