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O labirinto energético português: entre promessas de transição e realidades de custos

A luz no final do túnel parece cada vez mais distante para os portugueses quando o assunto é energia. Enquanto o governo anuncia ambiciosos planos de transição verde, as famílias continuam a debater-se com contas que não param de subir. Esta desconexão entre o discurso oficial e a realidade dos consumidores tornou-se o tema mais quente nos corredores de Bruxelas e nas cozinhas portuguesas.

A verdade é que Portugal está a viver um paradoxo energético sem precedentes. Por um lado, somos celebrados como exemplo europeu na produção de energia renovável, com dias em que o sol e o vento suprem quase toda a nossa necessidade. Por outro, os preços na fatura continuam a fazer os portugueses suar mais do que o calor de agosto. O que se passa neste país que tanto produz e tão caro paga?

A resposta pode estar nos detalhes que ninguém quer ver. As redes de distribuição envelhecidas, os custos de manutenção das barragens, os investimentos em infraestruturas que nunca foram totalmente amortizados - tudo isto soma-se numa equação que só resulta em números vermelhos para o consumidor final. E enquanto discutimos o hidrogénio verde do futuro, esquecemo-nos do gás natural caríssimo do presente.

Os especialistas apontam para um problema estrutural: a nossa dependência do mercado ibérico de energia (MIBEL) que, em teoria, deveria baixar preços, mas na prática mantém-nos reféns de flutuações que pouco têm a ver com a nossa realidade produtiva. Espanha, com o seu mix energético diferente e políticas de subsídios mais agressivas, acaba por ditar um preço que não reflete a abundância portuguesa em renováveis.

Mas há mais nesta história. As grandes empresas energéticas continuam a reportar lucros recorde, enquanto os pequenos comerciantes fecham as portas porque não aguentam mais os custos da eletricidade. Os supermercados veem os seus margens desaparecerem nos congeladores, e os restaurantes reduzem horários para poupar na iluminação. Esta é a economia real a sangrar por uma ferida energética que ninguém parece conseguir estancar.

O governo insiste que a solução está na aposta nas renováveis, mas os números contam outra história. Os leilões de capacidade solar atraem investidores estrangeiros que prometem milhões em investimento, mas a energia produzida muitas vezes não chega mais barata ao consumidor final. Os mecanismos de compensação são complexos, os impostos sobre a produção renovável mantêm-se elevados, e o IVA sobre a eletricidade continua a ser uma das taxas mais altas da Europa.

E depois há o drama dos combustíveis. Enquanto os noruegueses e os suecos já circulam maioritariamente em carros elétricos, os portugueses continuam presos aos combustíveis fósseis porque os preços dos veículos elétricos permanecem proibitivos e a rede de carregamento é insuficiente fora das grandes cidades. A tão falada mobilidade elétrica tornou-se um privilégio de classe, não a revolução prometida.

Os dados mais recentes mostram que as famílias portuguesas gastam em média 8% do seu orçamento familiar em energia - um valor que sobe para 12% nas famílias mais vulneráveis. Estamos a falar de escolhas entre aquecer a casa ou comprar medicamentos, entre cozinhar uma refeição quente ou pagar a internet dos filhos para a escola. Estas não são estatísticas - são dramas humanos que se repetem todos os meses quando chega a fatura.

A transição energética devia ser uma oportunidade para criar um sistema mais justo e acessível. Em vez disso, corre o risco de se tornar mais um fator de desigualdade. Os que podem instalar painéis solares poupam centenas de euros por ano, enquanto os que vivem em apartamentos ou não têm capital inicial continuam a pagar preços exorbitantes.

Há soluções no horizonte? Os especialistas apontam para três caminhos urgentes: reformular o mercado ibérico para refletir melhor a realidade portuguesa, acelerar os programas de eficiência energética nas habitações mais vulneráveis, e criar mecanismos que garantam que a energia mais barata produzida em Portugal chegue primeiro aos portugueses.

Enquanto isso, nas redações dos jornais económicos, os repórteres continuam a desvendar os fios invisíveis que ligam as decisões políticas às contas das famílias. A história que contam é simples: não basta produzir energia verde - é preciso que ela seja acessível. Caso contrário, a transição energética será apenas mais uma promessa que não chegou à mesa do jantar.

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