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O lado negro da transição energética: quando as renováveis criam novos problemas

A corrida às energias renováveis em Portugal tem sido celebrada como um sucesso nacional, mas por trás dos números impressionantes escondem-se histórias que ninguém quer contar. Enquanto o governo anuncia recordes de produção eólica e solar, comunidades rurais enfrentam consequências imprevistas que desafiam o conceito de sustentabilidade.

Nas serras do norte, os parques eólicos multiplicam-se como cogumelos após a chuva. Os gigantes de aço dominam as paisagens outrora intocadas, mas os benefícios prometidos às populações locais parecem evaporar-se como o orvalho da manhã. "Venderam-nos o progresso, mas ficámos com o ruído constante e a destruição dos nossos caminhos", desabafa um agricultor de Montalegre que prefere não se identificar. As compensações financeiras, quando existem, são insuficientes para compensar a perda de qualidade de vida.

A energia solar não fica atrás nos problemas criados. No Alentejo, os mega-projetos fotovoltaicos ocupam terrenos que antes serviam para agricultura ou pastoreio. Os painéis estendem-se até onde a vista alcança, criando microclimas artificiais que alteram os ecossistemas locais. "É irónico que para salvar o planeta estejamos a destruir o pouco que nos resta de natureza preservada", observa uma bióloga que estuda o impacto destas instalações na fauna regional.

Os resíduos das renováveis constituem outra bomba-relógio ambiental. Painéis solares e pás eólicas têm vida útil limitada, e Portugal ainda não possui infraestruturas adequadas para processar estes materiais quando chegarem ao fim do ciclo. Estima-se que até 2030, o país terá de lidar com milhares de toneladas de equipamentos obsoletos, muitos deles contendo materiais perigosos.

A dependência da China para componentes críticos revela outra vulnerabilidade estratégica. Quase 80% dos painéis solares instalados em Portugal vêm do gigante asiático, criando uma nova forma de dependência energética que substitui os hidrocarbonetos por tecnologia estrangeira. "Trocar o petróleo pela dominação tecnológica chinesa não me parece um grande negócio", comenta um especialista em geopolítica energética.

As comunidades locais começam a organizar-se contra o que chamam de "colonialismo energético". Associações de cidadãos exigem maior transparência nos processos de licenciamento e participação real nos benefícios económicos. "Não queremos ser apenas espectadores do que acontece nas nossas terras", afirma a porta-voz de um movimento que já conseguiu travar três projetos de grande dimensão.

A eficiência energética continua a ser o parente pobre das políticas públicas. Enquanto se investem milhões em nova capacidade de produção, os edifícios portugueses mantêm-se entre os menos eficientes da Europa. O potencial de poupança através do isolamento térmico e da modernização dos sistemas de climatização é colossal, mas recebe apenas migalhas do orçamento total da transição energética.

Os transportes representam outro capítulo problemático. A eletrificação da frota automóvel avança a ritmo lento, com os preços dos veículos elétricos ainda inacessíveis para a maioria das famílias. Ao mesmo tempo, o transporte público sofre de crónico subfinanciamento, perpetuando a dependência do automóvel individual mesmo nas áreas metropolitanas.

A justiça social na transição energética merece reflexão profunda. Os custos da descarbonização recaem desproporcionalmente sobre as classes média e baixa, enquanto os grandes grupos industriais beneficiam de isenções fiscais e subsídios generosos. "Estamos a criar uma sociedade onde os ricos podem poluir e os pobres pagam a conta", critica uma ativista ambiental.

As soluções existem, mas exigem coragem política e visão de longo prazo. Comunidades energéticas locais, eficiência como prioridade absoluta, reciclagem integral dos equipamentos e soberania tecnológica deveriam ser os pilares de uma transição verdadeiramente sustentável. O caminho é complexo, mas necessário.

O futuro energético de Portugal não pode ser construído sobre os mesmos erros do passado. A quantidade não pode sobrepor-se à qualidade, o centralismo não pode ignorar as realidades locais, e o progresso não pode significar destruição disfarçada de sustentabilidade. Chegou a hora de repensar radicalmente o que significa realmente fazer uma transição energética justa e inteligente.

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