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O preço da energia em Portugal: entre subsídios e facturas que não param de subir

A luz acende-se com um simples interruptor, mas o caminho que a electricidade percorre até chegar às nossas casas é tudo menos simples. Enquanto os portugueses enfrentam facturas que parecem ter vida própria – sempre a subir –, o governo anuncia pacotes de apoio que mais parecem pensos rápidos num ferimento que precisa de pontos. A verdade é que vivemos numa encruzilhada energética onde as promessas de transição verde se chocam com a realidade dos orçamentos familiares.

Nos últimos meses, as manchetes dos principais jornais económicos nacionais têm sido unânimes: a energia tornou-se num pesadelo para empresas e famílias. O Observador revelou que cerca de 40% dos portugueses admitem ter dificuldade em pagar as contas de electricidade, enquanto o ECO destacou os lucros recorde das empresas do sector num período em que os consumidores apertam o cinto. Esta disparidade levanta questões incómodas sobre quem realmente beneficia do actual modelo energético.

A transição para as renováveis, tantas vezes apresentada como a solução milagrosa, mostra fissuras preocupantes. O Dinheiro Vivo documentou como os projectos eólicos e solares enfrentam entraves burocráticos que os atrasam anos, mantendo-nos dependentes do gás natural – e consequentemente, da volatilidade dos mercados internacionais. Enquanto isso, o Jornal de Negócios alerta para o risco de apagões durante os picos de consumo, revelando que o nosso sistema está a operar no limite da sua capacidade.

O Expresso trouxe a lume uma realidade que muitos preferem ignorar: os subsídios governamentais, embora necessários a curto prazo, estão a criar uma dependência perigosa. As famílias portuguesas estão a ser ensinadas a depender do Estado para fazer face a despesas básicas, enquanto as causas estruturais do problema permanecem por resolver. É como dar analgésicos a alguém com uma perna partida – alivia a dor, mas não cura a fractura.

A TSF, na sua cobertura radiofónica, tem dado voz aos pequenos comerciantes que vêem os seus negócios ameaçados por custos energéticos que triplicaram em alguns casos. O café do Zé, a pastelaria da Maria, a mercearia do bairro – todos enfrentam o mesmo dilema: aumentar preços e perder clientes ou absorver custos e ver as margens de lucro evaporarem-se. São histórias de carne e osso por trás das estatísticas frias.

O que falta nesta equação é transparência. As facturas de electricidade tornaram-se documentos indecifráveis, com taxas, impostos e sobretaxas que confundem até os mais entendidos. Os especialistas consultados pelo Observador apontam para a necessidade urgente de simplificação tarifária, mas as propostas concretas escasseiam nos corredores do poder.

A geopolítica entra nesta dança através da porta grande. A dependência energética portuguesa tornou-nos reféns de crises internacionais que pouco temos capacidade para influenciar. Quando a Rússia espirra, Portugal constipa-se – e as famílias pagam o preço em facturas que reflectem turbulências a milhares de quilómetros de distância.

As soluções, contudo, existem. O Expresso destacou recentemente o potencial da energia das ondas, uma fonte onde Portugal poderia ser pioneiro mundial. O Jornal de Negócios tem escrito sobre comunidades energéticas que produzem e partilham a sua própria electricidade, reduzindo drasticamente os custos. São caminhos alternativos que merecem mais atenção e investimento.

O armazenamento de energia surge como outro elo perdido nesta cadeia. Como noticiou o ECO, Portugal continua sem uma estratégia clara para armazenar o excesso de produção renovável, obrigando-nos a desperdiçar energia limpa quando há sol e vento em abundância, para depois importarmos energia suja quando o tempo não ajuda.

No meio deste labirinto, os consumidores sentem-se cada vez mais perdidos. As campanhas de poupança energética, embora bem-intencionadas, parecem gotas de água no oceano perante a magnitude do problema. Desligar o standby do televisor é importante, mas não resolve a crise estrutural que enfrentamos.

O que está em jogo vai além das contas a pagar no final do mês. Trata-se da nossa soberania energética, da competitividade das nossas empresas, da qualidade de vida das famílias e do cumprimento das metas ambientais que assumimos perante a Europa e o mundo. São demasiadas frentes abertas para continuarmos a tratar este assunto com remendos temporários.

Os próximos meses serão decisivos. Com as eleições europeias no horizonte e um novo orçamento de Estado a ser preparado, a energia tem de subir na agenda política. Não como tema de campanha eleitoral, mas como prioridade nacional que exige coragem para mudar o que não está a funcionar.

Enquanto isso, nas cozinhas portuguesas, o acto de ligar o forno ou carregar o telemóvel tornou-se num cálculo matemático que ninguém pediu para aprender. A energia, que devia ser um direito básico, transformou-se num luxo para muitos – e essa é talvez a maior falha do sistema actual.

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