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O som esquecido: como o ruído urbano está a roubar a nossa saúde auditiva

Caminhamos pelas ruas das nossas cidades como se fossem trilhos sonoros pré-definidos. O zumbido dos motores, o estridente dos travões, o murmúrio das multidões e o eco das obras tornaram-se a banda sonora do quotidiano. Mas o que muitos não percebem é que esta sinfonia urbana está, lentamente, a silenciar-nos.

Em Lisboa, Porto ou Braga, os decibéis atingem níveis que fariam um técnico de som profissional franzir a testa. Um estudo recente da Universidade do Minho revelou que em certas zonas comerciais, os níveis de ruído ultrapassam os 85 decibéis durante mais de oito horas por dia – o limiar a partir do qual a exposição prolongada causa danos irreversíveis. E não falamos apenas de perda auditiva: o ruído crónico está ligado a problemas cardíacos, distúrbios do sono e aumento do stresse.

A ironia é que, enquanto nos preocupamos com a poluição do ar ou da água, ignoramos a poluição sonora que nos envolve 24 horas por dia. Os ouvidos não têm pálpebras. Não podemos fechá-los quando o mundo fica demasiado alto. E assim, sem que demos por isso, os nossos limiares auditivos vão-se desgastando. O chilrear dos pássaros na primavera torna-se mais ténue. O sussurro de um neto perde-se no vazio. As conversas em restaurantes transformam-se num amálgama de sons indistintos.

Mas há esperança no silêncio. Ou melhor, no equilíbrio sonoro. Cidades como Barcelona e Paris estão a implementar 'oásis acústicos' – zonas urbanas onde o ruído é rigorosamente controlado, permitindo que os ouvidos descansem. Em Portugal, projetos pioneiros no Porto estão a mapear os pontos críticos de poluição sonora, criando rotas alternativas para quem quer proteger a sua audição.

A tecnologia também está do nosso lado. Os modernos aparelhos auditivos já não são aqueles dispositivos volumosos que os nossos avós usavam. São discretos, inteligentes e capazes de filtrar o ruído de fundo enquanto amplificam as vozes que queremos ouvir. Alguns modelos conectam-se diretamente aos smartphones, permitindo personalizar a experiência auditiva para cada ambiente.

No entanto, o primeiro passo continua a ser o mais simples: a consciencialização. Parar por um momento no meio do rebuliço urbano e perguntar-se: 'Este som está a fazer-me bem?' A resposta, muitas vezes, é não. E é nesse 'não' que reside o poder de mudança – de exigir cidades mais silenciosas, de usar proteção auditiva em ambientes ruidosos, de fazer pausas acústicas durante o dia.

A saúde auditiva não é um luxo para músicos ou idosos. É um direito fundamental que estamos a negligenciar coletivamente. Num mundo cada vez mais barulhento, aprender a ouvir – e a calar – pode ser a revolução mais silenciosa e transformadora de todas.

Porque quando perdemos a capacidade de ouvir os sons subtis da vida, perdemos muito mais do que a audição. Perdemos conexão, nuance e uma dimensão inteira da experiência humana. E isso é um preço demasiado alto a pagar pelo progresso.

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