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O som que nos falta: quando a perda auditiva silenciosa transforma vidas

Há um mundo de sons que muitos de nós damos como garantido. O chilrear dos pássaros ao amanhecer, o riso das crianças no parque, o sussurro de um 'amo-te' ao ouvido. Mas para mais de um milhão de portugueses, estes sons estão gradualmente a desaparecer, substituídos por um silêncio que cresce ano após ano. A perda auditiva não acontece de um dia para o outro - é um ladrão silencioso que rouba fragmentos do nosso mundo sonoro enquanto nós mal damos por isso.

A verdade é que a maioria de nós só procura ajuda quando já perdemos cerca de 30% da nossa capacidade auditiva. Nessa altura, já nos habituámos a pedir às pessoas para repetirem o que disseram, já baixamos o volume da televisão abaixo do que os outros consideram confortável, já evitamos restaurantes barulhentos e reuniões sociais. O cérebro, num esforço heróico, começa a preencher as lacunas, mas a fatura chega sob a forma de fadiga mental constante.

O que poucos sabem é que os aparelhos auditivos modernos são maravilhas tecnológicas que pouco têm a ver com aqueles dispositivos volumosos que os nossos avós usavam. Hoje em dia, são discretos, inteligentes e capazes de se ligar ao telemóvel, à televisão e até aos assistentes virtuais. A tecnologia não só amplifica os sons como os processa, distinguindo a fala do ruído de fundo de forma quase mágica.

Mas há um problema maior do que a tecnologia: o estigma. Muitas pessoas associam os aparelhos auditivos ao envelhecimento e à incapacidade, quando na realidade deveriam ser vistos como acessórios de tecnologia pessoal, tal como os smartphones ou os smartwatches. Esta perceção errada faz com que a maioria das pessoas espere em média sete anos entre notar os primeiros sinais de perda auditiva e procurar ajuda profissional.

Durante esses sete anos, acontece algo subtil mas devastador: o cérebro começa a 'desaprender' a processar certos sons. As conexões neuronais responsáveis pela interpretação auditiva enfraquecem, tornando a reabilitação mais difícil quando finalmente se decide agir. É por isso que os especialistas insistem - a intervenção precoce é crucial não apenas para ouvir melhor, mas para manter a saúde cerebral a longo prazo.

Os jovens não estão imunes a este problema. A geração dos auriculares e dos concertos com decibéis perigosos está a criar uma epidemia de perda auditiva prematura. Estudos recentes mostram que jovens entre os 18 e os 35 anos já apresentam sinais de dano auditivo comparável ao de pessoas 20 anos mais velhas. O problema é que, ao contrário de outras condições de saúde, o dano auditivo é quase sempre irreversível.

A solução passa por uma mudança de mentalidade e por check-ups auditivos regulares, tal como fazemos com a visão ou a saúde dentária. Muitas clínicas oferecem avaliações gratuitas, e a tecnologia atual permite detetar problemas antes que se tornem evidentes no dia a dia. O segredo está em não normalizar as dificuldades - se precisa de ler os lábios para compreender conversas, se os sons agudos lhe escapam, se se sente exausto após eventos sociais, pode ser hora de marcar uma consulta.

O custo continua a ser uma barreira para muitos, mas os preços têm vindo a baixar significativamente nos últimos anos, e existem cada vez mais opções acessíveis. Além disso, muitos seguros de saúde já cobrem parte do valor, e há programas de apoio para situações de maior vulnerabilidade económica. O investimento num aparelho auditivo é, na verdade, um investimento na qualidade de vida, nas relações pessoais e na saúde mental.

O mais importante é compreender que a perda auditiva tratada não é uma limitação - é uma condição gerível. Com os dispositivos certos e o acompanhamento adequado, é possível recuperar a riqueza sonora do mundo e evitar o isolamento social que tantas vezes acompanha esta condição. O som da vida merece ser ouvido na sua plenitude, e hoje temos mais ferramentas do que nunca para garantir que assim seja.

O futuro da saúde auditiva promete ainda mais inovações - desde aparelhos que monitorizam a saúde geral até sistemas que se adaptam automaticamente a diferentes ambientes sonoros. A inteligência artificial está a revolucionar o campo, criando soluções personalizadas para cada tipo e grau de perda auditiva. O que não podemos é esperar pelo futuro - a ação deve ser tomada no presente, antes que mais sons nos escapem para sempre.

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