O segredo que as seguradoras não querem que saibas: como os algoritmos decidem quanto pagas
Num escritório anónimo de Lisboa, um ecrã mostra uma dança de números que determina o destino financeiro de milhares de portugueses. Não são humanos a tomar estas decisões, mas linhas de código que analisam desde os teus hábitos de condução até à tua atividade nas redes sociais. Esta é a nova fronteira do setor segurador, um território onde a privacidade se dissolve em troca de prémios mais baixos, e onde poucos compreendem as regras do jogo.
A revolução começou discretamente, com a introdução de telemetria nos seguros automóveis. Aquela pequena caixa preta que prometia descontos para condutores prudentes era apenas a ponta do iceberg. Hoje, as seguradoras colhem dados de smartwatches, assistentes de voz, aplicações de saúde e até do histórico de pesquisas online. Um executivo do setor, que pediu anonimato, confessou-me: "Sabemos mais sobre os hábitos de um cliente do que a própria família dele".
O problema não está na recolha de dados, mas na opacidade dos algoritmos que os processam. Quando questionadas, as companhias falam em "modelos preditivos" e "análise de risco avançada", mas recusam-se a revelar que variáveis consideram. Um estudo da Universidade do Porto descobriu que os códigos postais continuam a ser um fator determinante, perpetuando desigualdades regionais disfarçadas de ciência estatística.
Enquanto isso, surgem histórias perturbadoras. A Ana, designer de 34 anos, viu o prémio do seguro de saúde aumentar 30% após partilhar nas redes sociais que começara a praticar escalada. O João, reformado de 68 anos, foi recusado num seguro de vida porque o seu smartwatch detetou padrões de sono irregulares. Ambos assinaram termos e condições que nunca leram, entregando direitos que nem sabiam ter.
A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tenta acompanhar esta corrida tecnológica, mas os reguladores movem-se a passo de caracol enquanto as insurtechs voam. Uma proposta de regulamentação específica para algoritmos de underwriting está parada há oito meses, enquanto as empresas testam sistemas que analisam o tom de voz nas chamadas para o serviço de apoio ao cliente, procurando indicadores de stress ou desonestidade.
No meio desta transformação silenciosa, os consumidores enfrentam um dilema: abdicar da privacidade por preços mais baixos ou pagar mais para manter o anonimato. As seguradoras argumentam que a personalização extrema beneficia os clientes mais cuidadosos, mas especialistas em ética digital alertam para a criação de uma sociedade onde cada risco é individualizado até à exaustão, eliminando a solidariedade que sempre esteve no coração do conceito de seguro.
A próxima fronteira já está a ser testada em mercados piloto: seguros que ajustam prémios em tempo real conforme os comportamentos. Imagina um seguro automóvel que sobe quando conduzes à chuva ou um seguro de saúde que aumenta se saltares o pequeno-almoço. O controlo total tem um preço, e esse preço é a liberdade de cometer erros sem consequências financeiras imediatas.
Enquanto escrevo estas linhas, recebo uma notificação no telemóvel: a minha aplicação de seguros oferece-me 5% de desconto se partilhar os dados do meu fitness tracker. Hesito por um momento, depois carrego em "aceitar". A conveniência venceu, como vence para milhões de portugueses todos os dias. A questão que fica é: quando é que perceberemos o que realmente perdemos nesta transação?
A revolução começou discretamente, com a introdução de telemetria nos seguros automóveis. Aquela pequena caixa preta que prometia descontos para condutores prudentes era apenas a ponta do iceberg. Hoje, as seguradoras colhem dados de smartwatches, assistentes de voz, aplicações de saúde e até do histórico de pesquisas online. Um executivo do setor, que pediu anonimato, confessou-me: "Sabemos mais sobre os hábitos de um cliente do que a própria família dele".
O problema não está na recolha de dados, mas na opacidade dos algoritmos que os processam. Quando questionadas, as companhias falam em "modelos preditivos" e "análise de risco avançada", mas recusam-se a revelar que variáveis consideram. Um estudo da Universidade do Porto descobriu que os códigos postais continuam a ser um fator determinante, perpetuando desigualdades regionais disfarçadas de ciência estatística.
Enquanto isso, surgem histórias perturbadoras. A Ana, designer de 34 anos, viu o prémio do seguro de saúde aumentar 30% após partilhar nas redes sociais que começara a praticar escalada. O João, reformado de 68 anos, foi recusado num seguro de vida porque o seu smartwatch detetou padrões de sono irregulares. Ambos assinaram termos e condições que nunca leram, entregando direitos que nem sabiam ter.
A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tenta acompanhar esta corrida tecnológica, mas os reguladores movem-se a passo de caracol enquanto as insurtechs voam. Uma proposta de regulamentação específica para algoritmos de underwriting está parada há oito meses, enquanto as empresas testam sistemas que analisam o tom de voz nas chamadas para o serviço de apoio ao cliente, procurando indicadores de stress ou desonestidade.
No meio desta transformação silenciosa, os consumidores enfrentam um dilema: abdicar da privacidade por preços mais baixos ou pagar mais para manter o anonimato. As seguradoras argumentam que a personalização extrema beneficia os clientes mais cuidadosos, mas especialistas em ética digital alertam para a criação de uma sociedade onde cada risco é individualizado até à exaustão, eliminando a solidariedade que sempre esteve no coração do conceito de seguro.
A próxima fronteira já está a ser testada em mercados piloto: seguros que ajustam prémios em tempo real conforme os comportamentos. Imagina um seguro automóvel que sobe quando conduzes à chuva ou um seguro de saúde que aumenta se saltares o pequeno-almoço. O controlo total tem um preço, e esse preço é a liberdade de cometer erros sem consequências financeiras imediatas.
Enquanto escrevo estas linhas, recebo uma notificação no telemóvel: a minha aplicação de seguros oferece-me 5% de desconto se partilhar os dados do meu fitness tracker. Hesito por um momento, depois carrego em "aceitar". A conveniência venceu, como vence para milhões de portugueses todos os dias. A questão que fica é: quando é que perceberemos o que realmente perdemos nesta transação?