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O segredo que as seguradoras não querem que saibas sobre os teus seguros

Há um silêncio ensurdecedor nas pequenas letras dos contratos de seguro que assinamos com a leveza de quem compra um café. Enquanto os portugueses pagam religiosamente as suas apólices, poucos percebem que estão a financiar um sistema que, muitas vezes, funciona mais como um casino do que como uma rede de proteção.

Nas redações dos principais jornais económicos portugueses, os repórteres mais experientes sabem que o setor segurador é um dos que mais resiste à transparência. Os números são públicos: segundo dados do Instituto de Seguros de Portugal, o sector movimentou mais de 12 mil milhões de euros em prémios no ano passado. Mas o que esses números não revelam são as estratégias subtis que algumas companhias usam para maximizar lucros à custa dos segurados.

A verdade é que muitos portugueses descobrem demasiado tarde que o seguro que pagaram durante anos não cobre o que pensavam. As exclusões escondidas nos contratos, os prazos de carência que se estendem além do razoável, e as interpretações criativas das condições gerais tornam-se armas poderosas nas mãos de quem quer evitar pagamentos.

Um investigador que preferiu manter o anonimato revelou-nos que algumas seguradoras treinam os seus avaliadores especificamente para encontrar motivos para rejeitar reclamações. "É um jogo de números", confessou. "Se rejeitarem 10% das reclamações sem justificação válida, a maioria dos clientes não questiona, e os que questionam acabam por desistir face à burocracia."

Mas a revolução digital está a mudar as regras do jogo. As fintechs e insurtechs portuguesas estão a desafiar os gigantes tradicionais com modelos mais transparentes. Usam inteligência artificial não para encontrar formas de não pagar, mas para personalizar coberturas e acelerar processos. A diferença é abismal: enquanto uma seguradora tradicional pode demorar 30 dias a processar uma reclamação, estas novas empresas resolvem tudo em 48 horas.

O maior problema, no entanto, continua a ser a literacia financeira dos portugueses. Muitos ainda assinam contratos sem os ler, confiando apenas no que o mediador lhes diz. E é precisamente nesta confiança que reside o perigo. Os mediadores, muitas vezes trabalhando com comissões, têm incentivos para vender produtos mais caros ou com coberturas desnecessárias.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem tentado combater estas práticas, mas com uma equipa reduzida face à dimensão do mercado, a batalha é desigual. As multas aplicadas são, frequentemente, encaradas como custos operacionais pelas grandes seguradoras.

Há, no entanto, motivos para otimismo. A geração mais jovem, mais informada e desconfiada, está a forçar mudanças. Exigem apps em vez de papéis, transparência em vez de jargão técnico, e serviços personalizados em vez de soluções genéricas. Esta pressão está a obrigar todo o sector a evoluir.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá da capacidade dos consumidores em se informarem e exigirem os seus direitos. As ferramentas existem: comparadores online, fóruns de discussão, e até assistentes virtuais que ajudam a decifrar as condições dos contratos. O que falta é a coragem para questionar o status quo.

Enquanto isso, nas salas de reuniões das seguradoras, os executivos debatem-se com um dilema: continuar com práticas do século XX e arriscar perder clientes para os novos players, ou abraçar a transparência e reconstruir a confiança que se perdeu ao longo dos anos.

A resposta a este dilema determinará não apenas o futuro das seguradoras, mas a segurança financeira de milhões de portugueses. Porque no final do dia, um seguro não é um produto – é uma promessa. E uma promessa quebrada tem consequências que vão muito além de números num balanço contabilístico.

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