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Seguros em Portugal: o que as seguradoras não querem que saiba sobre as suas apólices

Há um segredo bem guardado nas gavetas das seguradoras portuguesas, e não é sobre prémios ou coberturas. É sobre como o setor está a ser transformado por forças que vão muito além das tradicionais tabelas de risco. Enquanto os consumidores se debatem com aumentos de preços e coberturas cada vez mais complexas, uma revolução silenciosa está em curso nos bastidores do mercado segurador nacional.

A digitalização forçada pela pandemia criou uma nova realidade onde os dados são a moeda mais valiosa. As seguradoras portuguesas estão a investir milhões em sistemas de inteligência artificial que analisam cada movimento dos clientes, desde os hábitos de condução até aos padrões de saúde. Esta recolha massiva de informação permite personalizar ofertas de forma nunca antes vista, mas também levanta questões sérias sobre privacidade e discriminação.

Os seguros de saúde estão no centro de uma tempestade perfeita. Com o Serviço Nacional de Saúde sob pressão constante, cada vez mais portugueses recorrem a seguros privados. Mas o que poucos sabem é que as apólices estão a tornar-se mais restritivas e caras, especialmente para quem precisa delas mais urgentemente. As exclusões por condições pré-existentes tornaram-se a regra, não a exceção, criando um sistema onde os mais saudáveis são bem-vindos e os doentes são marginalizados.

No segmento automóvel, a situação não é mais animadora. As seguradoras desenvolveram algoritmos sofisticados que analisam não apenas o histórico de sinistros, mas também o comportamento online, o tipo de veículo e até o local de residência. Um condutor que vive num bairro considerado 'de risco' pode pagar até 40% mais pelo mesmo seguro que alguém num bairro 'seguro', independentemente do seu histórico pessoal de condução.

A crise climática está a reescrever as regras dos seguros de habitação. As zonas costeiras e áreas propensas a incêndios estão a tornar-se progressivamente mais difíceis de segurar, com prémios a subir exponencialmente e algumas seguradoras a recusar-se completamente a cobrir certas regiões. Esta situação cria um novo tipo de desigualdade territorial, onde viver em determinadas áreas do país se torna um luxo que muitos não podem pagar.

Os seguros de vida estão a sofrer a sua própria transformação. Produtos ligados a investimentos e com componentes de poupança estão a ganhar popularidade, mas escondem complexidades que muitos clientes não compreendem completamente. As comissões embutidas nestes produtos podem consumir uma parte significativa dos retornos, e as condições de resgate são frequentemente tão restritivas que tornam o dinheiro praticamente inacessível quando mais se precisa.

A regulação do setor está a tentar acompanhar estas mudanças, mas a velocidade da inovação tecnológica está a deixar os reguladores para trás. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões tem lutado para manter o equilíbrio entre promover a inovação e proteger os consumidores, mas os recursos limitados e a complexidade dos novos produtos tornam esta uma batalha desigual.

Os seguros coletivos através de empregadores estão a tornar-se cada vez mais comuns, mas apresentam os seus próprios desafios. Muitos trabalhadores não percebem que perdem a cobertura quando mudam de emprego, e as condições destes seguros são frequentemente inferiores às que poderiam obter individualmente no mercado aberto.

A ascensão dos insurtechs – startups de tecnologia de seguros – promete disrupção, mas a realidade é mais complexa. Embora estas empresas ofereçam processos mais simples e preços competitivos, muitas dependem de parceiros tradicionais para a gestão de risco real, criando uma ilusão de inovação que pode não se traduzir em benefícios reais para os consumidores.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá da capacidade do setor em equilibrar inovação com transparência, e lucro com responsabilidade social. Enquanto isso, os consumidores enfrentam o desafio de navegar num mercado cada vez mais complexo, onde a informação é poder, mas também é escassa e muitas vezes deliberadamente obscurecida.

A próxima década trará mudanças ainda mais profundas, com a internet das coisas, carros autónomos e medicina personalizada a redefinir completamente o conceito de risco. As seguradoras que sobreviverem serão aquelas que conseguirem adaptar-se sem sacrificar a confiança dos clientes – um equilíbrio delicado que poucas conseguirão manter.

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