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Seguros em Portugal: o que os jornais não contam sobre as novas regras e os segredos das seguradoras

Nos últimos meses, as redações dos principais jornais portugueses têm estado repletas de notícias sobre o setor dos seguros. Do Jornal de Negócios ao Expresso, passando pelo Observador e pelo Dinheiro Vivo, as manchetes multiplicam-se sobre novas regulamentações, aumentos de prémios e estratégias das seguradoras. Mas há histórias por contar que vão além dos comunicados de imprensa e das estatísticas oficiais.

Um mergulho nos bastidores revela que as seguradoras estão a preparar mudanças silenciosas que podem afetar milhões de portugueses. Enquanto a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) anuncia novas regras para proteger os consumidores, as empresas ajustam os seus modelos de risco de formas que nem sempre são transparentes. As exclusões nas apólices estão a tornar-se mais complexas, e as letras pequenas escondem detalhes que podem fazer a diferença entre uma indemnização justa e uma batalha judicial.

Nos seguros automóveis, por exemplo, a digitalização promete simplificar processos, mas também cria novas barreiras para quem não domina a tecnologia. As apps das seguradoras recolhem dados que vão muito além do necessário para calcular prémios, criando perfis de comportamento que podem ser usados para segmentar clientes de forma questionável. E enquanto algumas empresas investem em chatbots para atendimento, os tempos de espera para falar com um humano aumentam exponencialmente.

No setor da saúde, a situação é ainda mais delicada. As seguradoras estão a redesenhar as suas coberturas em resposta aos custos crescentes da medicina, mas muitas vezes à custa dos utentes. Os planos mais acessíveis têm redes de prestadores cada vez mais restritas, forçando os segurados a percorrer quilómetros para encontrar um médico ou hospital que aceite o seu seguro. E as exclusões para doenças pré-existentes tornaram-se tão elaboradas que mesmo quem pensa estar coberto pode descobrir, no pior momento, que não está.

Os seguros multirriscos habitacionais são outro campo de batalha silencioso. Com as alterações climáticas a aumentarem a frequência de eventos extremos, as seguradoras estão a recalcular os seus riscos de forma agressiva. Zonas que antes eram consideradas seguras estão agora sujeitas a prémios mais elevados ou mesmo à recusa de cobertura. E os critérios para definir essas zonas são muitas vezes obscuros, baseados em algoritmos proprietários que as seguradoras se recusam a partilhar.

Mas há também histórias de resistência e inovação. Pequenas seguradoras estão a desafiar os gigantes do setor com modelos mais transparentes e personalizados. Algumas oferecem apólices modulares que permitem aos clientes escolher exatamente o que querem cobrir, em vez de pacotes pré-definidos cheios de coberturas desnecessárias. Outras estão a experimentar com seguros paramétricos, que pagam automaticamente quando certas condições meteorológicas são atingidas, sem necessidade de longas avaliações de danos.

Os mediadores de seguros, muitas vezes retratados como intermediários desnecessários na era digital, estão a reinventar-se como consultores especializados que ajudam os clientes a navegar no labirinto de opções. E em algumas comunidades, estão a surgir modelos de mutualismo onde os membros partilham os riscos entre si, criando alternativas mais justas e solidárias aos seguros tradicionais.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá em grande parte de como estes conflitos entre inovação, regulação e proteção dos consumidores se resolverão. A ASF tem mostrado vontade de apertar a supervisão, mas as seguradoras têm recursos consideráveis para moldar as regras a seu favor. E no meio estão os portugueses, que precisam de proteção real contra os riscos da vida moderna, não apenas de produtos financeiros complexos disfarçados de segurança.

Esta é uma história que continua a desenrolar-se, com novos capítulos a surgirem a cada anúncio regulamentar e a cada inovação tecnológica. Para os consumidores, a lição é clara: ler as letras pequenas nunca foi tão importante, mas também nunca foi tão difícil. E talvez seja tempo de exigir não apenas seguros mais baratos, mas seguros mais justos, transparentes e adaptados às reais necessidades das pessoas.

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