Seguros em Portugal: o que os jornais não contam sobre o mercado que protege (e às vezes engana) os portugueses
Num país onde o seguro automóvel é obrigatório e o de saúde se tornou quase tão essencial como a água canalizada, poucos param para pensar no que realmente está por trás das apólices que assinamos. Enquanto os grandes títulos dos jornais económicos se concentram nas fusões entre seguradoras e nos lucros trimestrais, uma investigação mais profunda revela histórias que nunca chegam às primeiras páginas.
Na última década, o número de queixas contra seguradoras junto da ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) aumentou 47%. São portugueses comuns que viram coberturas negadas por detalhes obscuros nas letras pequenas, ou que descobriram demasiado tarde que o seguro de vida familiar não cobria exatamente o que prometia na publicidade televisiva. O caso mais emblemático? Um agricultor do Alentejo que pagou durante 20 anos um seguro contra granizo, apenas para descobrir que a apólice excluía precisamente o tipo de tempestade mais comum na sua região.
Enquanto isso, as seguradoras portuguesas acumulam lucros recorde. A média do setor ronda os 15% de rentabilidade, um número que faria corar qualquer retalhista ou restaurante. O segredo não está apenas na gestão eficiente, mas num equilíbrio delicado entre prémios cobrados e sinistros pagos – um equilíbrio que, segundo especialistas ouvidos em off, muitas vezes pende para o lado das empresas através de cláusulas ambíguas e processos de reclamação deliberadamente complexos.
O mercado de seguros em Portugal está a passar por uma revolução silenciosa. As insurtechs – startups tecnológicas focadas em seguros – prometem transparência total e processos simplificados. A Bikay, por exemplo, criou um seguro de bicicleta que se ativa e desativa através de uma app, minuto a minuto. Já a Lusitania Seguros está a testar um sistema que usa inteligência artificial para avaliar danos automóveis através de fotografias enviadas pelos clientes, eliminando a espera por peritos.
Mas a tecnologia traz novos riscos. A coleta massiva de dados permite às seguradoras criar perfis detalhados dos clientes, o que pode levar a discriminação algorítmica. Um estudo da Universidade do Minho encontrou evidências de que sistemas automatizados tendem a atribuir prémios mais altos a residentes de bairros históricos de Lisboa e Porto, independentemente do histórico individual de sinistros dos moradores.
O maior tabu do setor, porém, continua a ser os seguros de saúde. Enquanto o SNS enfrenta listas de espera intermináveis, os seguros privados proliferam. Mas a maioria dos portugueses não sabe que muitos destes seguros funcionam como redes fechadas: cobrem tratamentos apenas em hospitais específicos, com médicos específicos, muitas vezes excluindo especialistas de referência. Pior: cerca de 30% das apólices têm limites anuais de cobertura que não são claramente comunicados, deixando famílias com faturas inesperadas após cirurgias complexas.
Nos seguros de vida, a situação é igualmente complexa. Portugal tem uma das taxas mais baixas de penetração de seguros de vida na Europa Ocidental – apenas 32% dos adultos têm cobertura. A razão, segundo um estudo da DECO, não é falta de necessidade, mas desconfiança. Muitos portugueses recordam-se ainda dos escândalos dos PPR nos anos 90, quando produtos vendidos como seguros de vida revelaram-se investimentos de alto risco.
O futuro está a ser desenhado neste momento em Bruxelas, onde a União Europeia prepara nova legislação sobre seguros digitais. As propostas incluem obrigatoriedade de linguagem simples em todas as apólices, direito a cancelamento sem penalizações nos primeiros 14 dias, e transparência total sobre como os algoritmos calculam os prémios. Enquanto as associações do setor alertam para possíveis aumentos de custos, os defensores do consumidor argumentam que um mercado mais transparente beneficiará todos a longo prazo.
Enquanto isso, nas ruas de Portugal, continua a luta diária dos portugueses para navegar num labirinto de opções, letras pequenas e promessas nem sempre cumpridas. A próxima vez que assinar uma apólice, lembre-se: o diabo não está apenas nos detalhes, mas muitas vezes naquilo que nem sequer está escrito.
Na última década, o número de queixas contra seguradoras junto da ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) aumentou 47%. São portugueses comuns que viram coberturas negadas por detalhes obscuros nas letras pequenas, ou que descobriram demasiado tarde que o seguro de vida familiar não cobria exatamente o que prometia na publicidade televisiva. O caso mais emblemático? Um agricultor do Alentejo que pagou durante 20 anos um seguro contra granizo, apenas para descobrir que a apólice excluía precisamente o tipo de tempestade mais comum na sua região.
Enquanto isso, as seguradoras portuguesas acumulam lucros recorde. A média do setor ronda os 15% de rentabilidade, um número que faria corar qualquer retalhista ou restaurante. O segredo não está apenas na gestão eficiente, mas num equilíbrio delicado entre prémios cobrados e sinistros pagos – um equilíbrio que, segundo especialistas ouvidos em off, muitas vezes pende para o lado das empresas através de cláusulas ambíguas e processos de reclamação deliberadamente complexos.
O mercado de seguros em Portugal está a passar por uma revolução silenciosa. As insurtechs – startups tecnológicas focadas em seguros – prometem transparência total e processos simplificados. A Bikay, por exemplo, criou um seguro de bicicleta que se ativa e desativa através de uma app, minuto a minuto. Já a Lusitania Seguros está a testar um sistema que usa inteligência artificial para avaliar danos automóveis através de fotografias enviadas pelos clientes, eliminando a espera por peritos.
Mas a tecnologia traz novos riscos. A coleta massiva de dados permite às seguradoras criar perfis detalhados dos clientes, o que pode levar a discriminação algorítmica. Um estudo da Universidade do Minho encontrou evidências de que sistemas automatizados tendem a atribuir prémios mais altos a residentes de bairros históricos de Lisboa e Porto, independentemente do histórico individual de sinistros dos moradores.
O maior tabu do setor, porém, continua a ser os seguros de saúde. Enquanto o SNS enfrenta listas de espera intermináveis, os seguros privados proliferam. Mas a maioria dos portugueses não sabe que muitos destes seguros funcionam como redes fechadas: cobrem tratamentos apenas em hospitais específicos, com médicos específicos, muitas vezes excluindo especialistas de referência. Pior: cerca de 30% das apólices têm limites anuais de cobertura que não são claramente comunicados, deixando famílias com faturas inesperadas após cirurgias complexas.
Nos seguros de vida, a situação é igualmente complexa. Portugal tem uma das taxas mais baixas de penetração de seguros de vida na Europa Ocidental – apenas 32% dos adultos têm cobertura. A razão, segundo um estudo da DECO, não é falta de necessidade, mas desconfiança. Muitos portugueses recordam-se ainda dos escândalos dos PPR nos anos 90, quando produtos vendidos como seguros de vida revelaram-se investimentos de alto risco.
O futuro está a ser desenhado neste momento em Bruxelas, onde a União Europeia prepara nova legislação sobre seguros digitais. As propostas incluem obrigatoriedade de linguagem simples em todas as apólices, direito a cancelamento sem penalizações nos primeiros 14 dias, e transparência total sobre como os algoritmos calculam os prémios. Enquanto as associações do setor alertam para possíveis aumentos de custos, os defensores do consumidor argumentam que um mercado mais transparente beneficiará todos a longo prazo.
Enquanto isso, nas ruas de Portugal, continua a luta diária dos portugueses para navegar num labirinto de opções, letras pequenas e promessas nem sempre cumpridas. A próxima vez que assinar uma apólice, lembre-se: o diabo não está apenas nos detalhes, mas muitas vezes naquilo que nem sequer está escrito.