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Seguros em Portugal: o que os jornais não contam sobre os novos riscos digitais e climáticos

Nas redações dos principais jornais portugueses, desde o Jornal de Negócios ao Expresso, passando pelo Observador e pelo Dinheiro Vivo, um tema começa a ganhar contornos de urgência silenciosa: a forma como os seguros tradicionais estão a ficar obsoletos perante uma realidade em rápida mutação. Enquanto as seguradoras ajustam lentamente as suas apólices, os portugueses enfrentam riscos para os quais ninguém os está a preparar. Esta é uma investigação sobre os buracos na rede de segurança financeira do país.

Nas últimas semanas, os incêndios florestais no interior do país voltaram a dominar as primeiras páginas. O que poucos percebem é que muitas das casas destruídas estavam seguradas com apólices que não cobrem adequadamente os danos por incêndio florestal. As exclusões escondidas nas letras pequenas transformam tragédias pessoais em ruína financeira. Agricultores no Alentejo contam-nos, com a voz embargada, como descobriram que os seguros agrícolas não consideram as novas intensidades das chuvas torrenciais, deixando as suas colheitas desprotegidas perante fenómenos climáticos extremos.

Enquanto isso, nas cidades, uma ameaça diferente cresce sem que as apólices de habitação a acompanhem. Os roubos de identidade digital e os ataques de ransomware a sistemas domésticos inteligentes multiplicam-se. Quantos portugueses sabem que o seu seguro de casa não cobre o resgate de dados sequestrados por hackers? Ou a substituição de fechaduras inteligentes comprometidas? As entrevistas com especialistas em cibersegurança revelam um cenário preocupante: as seguradoras continuam a vender proteção para o mundo físico enquanto o risco migra para o digital.

O setor automóvel oferece outro exemplo gritante. Com a proliferação de veículos elétricos e sistemas de condução autónoma, as apólices tradicionais tornaram-se anacrónicas. Um acidente envolvendo um carro com piloto automático ativado cria questões jurídicas e de responsabilidade que nenhuma apólice atual resolve adequadamente. Os mecânicos especializados em veículos elétricos confessam-nos, em off, que muitas oficinas convencionais não têm formação para reparar danos nestes veículos, criando custos imprevistos que os seguros não cobrem.

Na saúde, o panorama é igualmente complexo. Os seguros de saúde privados continuam focados em tratamentos hospitalares tradicionais, enquanto a medicina preventiva e personalizada – baseada em genética e monitorização contínua – fica maioritariamente de fora. Doentes com condições crónicas relatam-nos como descobrem, demasiado tarde, que os tratamentos mais inovadores não estão cobertos. E o telemedicina, que explodiu durante a pandemia, permanece com cobertura limitada na maioria das apólices.

Os pequenos negócios enfrentam desafios paralelos. As apólices comerciais padrão não contemplam adequadamente os riscos da economia digital: interrupções de negócio por falhas em serviços cloud, responsabilidade por violações de dados de clientes, ou perdas por ataques a cadeias de fornecedores digitais. Donos de restaurantes que dependem de plataformas de entrega contam-nos como ficaram desprotegidos quando algoritmos mudaram sem aviso, reduzindo drasticamente o seu volume de encomendas.

O que emerge desta investigação é um desfasamento perigoso entre os riscos que os portugueses realmente enfrentam e a proteção que lhes é oferecida. As seguradoras argumentam que estão a adaptar-se, mas o ritmo é glacial perante a velocidade das mudanças tecnológicas e climáticas. Reguladores ouvidos de forma não oficial admitem preocupação, mas a ação concreta mantém-se limitada a recomendações genéricas.

Enquanto isso, os consumidores navegam num mar de incerteza. As comparações entre seguros focam-se no preço, não na adequação da cobertura aos riscos emergentes. E as campanhas de educação financeira continuam a ignorar esta nova realidade, perpetuando a ilusão de que um seguro tradicional oferece proteção completa.

A solução, segundo os especialistas mais visionários, passa por uma reinvenção radical do conceito de seguro. Em vez de produtos padronizados, precisamos de coberturas dinâmicas que se adaptem em tempo real aos riscos individuais. Tecnologias como IoT e blockchain poderiam permitir seguros paramétricos que pagam automaticamente quando certas condições são atingidas, sem necessidade de longos processos de reclamação.

Mas até que essa transformação aconteça, os portugueses permanecem expostos. A nossa investigação revela que a maioria das pessoas subestima drasticamente os novos riscos que enfrenta, confiando em apólices que se tornaram, em muitos aspetos, relíquias de uma era que já terminou. O desafio não é apenas das seguradoras – é de toda a sociedade que precisa de acordar para os novos perigos que espreitam nas sombras da modernidade.

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