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O lado oculto dos seguros para animais: o que as seguradoras não contam

Num consultório veterinário de Lisboa, Maria segura o seu labrador Simba enquanto espera pelos resultados dos exames. A conta já ultrapassa os 800 euros e ela não tem seguro. Esta cena repete-se diariamente em Portugal, onde apenas 3% dos animais de estimação estão protegidos por apólices de seguro. Mas será que os seguros são realmente a solução milagrosa que nos vendem?

A verdade é que o mercado de seguros para animais em Portugal vive uma dualidade curiosa. Por um lado, as seguradoras apresentam números impressionantes de crescimento anual, prometendo paz de espírito aos donos. Por outro, escondem nas letras pequenas exclusões que podem transformar um suposto salvador num pesadelo burocrático.

Durante três meses, percorri consultórios veterinários, conversei com donos desiludidos e analisei dezenas de apólices. O que descobri vai fazer pensar qualquer pessoa que considere proteger o seu companheiro de quatro patas.

A primeira grande ilusão: a cobertura total. Muitos seguros prometem proteger o animal contra tudo, mas na prática excluem condições pré-existentes, doenças hereditárias e até tratamentos considerados 'experimentais'. Conheci o caso de um gato siamês cujo tratamento para uma doença renal foi recusado porque a raça tem predisposição para o problema. Ironia cruel: o que torna o animal mais vulnerável é precisamente o que o deixa desprotegido.

Outra armadilha bem escondida são os períodos de carência. A maioria dos donos não sabe que, mesmo após contratar o seguro, há um período de espera que pode variar entre 14 a 30 dias para acidentes e até 6 meses para doenças. Durante este tempo, pagam a apólice mas não têm cobertura. Encontrei vários casos de animais que adoeceram durante esta janela temporal e viram os seus tratamentos recusados.

Mas talvez o aspecto mais preocupante seja a relação entre seguradoras e veterinários. Descobri que algumas clínicas têm acordos preferenciais com determinadas seguradoras, o que pode influenciar o tipo de tratamentos recomendados. Um veterinário que preferiu manter o anonimato confessou: 'Às vezes temos de optar por tratamentos mais baratos, mesmo sabendo que existem alternativas melhores, porque sabemos que a seguradora não aprovaria'.

E os preços? A análise a dezenas de apólices revelou que o custo médio anual para um cão varia entre 120 a 400 euros, dependendo da raça, idade e coberturas. Parece razoável, até percebermos que os prémios aumentam significativamente com a idade do animal, precisamente quando mais precisa de cuidados. Muitos donos são forçados a cancelar as apólices quando os animais atingem os 8-10 anos, deixando-os desprotegidos no momento mais crítico.

No entanto, não é tudo negro. Conheci histórias de sucesso onde os seguros salvaram animais e evitaram que famílias enfrentassem custos astronómicos. Um golden retriever submetido a uma cirurgia de 2.500 euros teve toda a despesa coberta. Uma gata com leucemia felina recebeu tratamento durante dois anos sem que os donos pagassem um cêntimo além do prémio mensal.

O segredo parece estar na escolha consciente. Os especialistas recomendam comparar pelo menos três propostas diferentes, ler atentamente as exclusões e, principalmente, perceber que nenhum seguro cobre tudo. A transparência é a melhor arma contra a desilusão.

E Portugal no contexto europeu? Estamos significativamente atrás de países como o Reino Unido, onde 25% dos animais têm seguro, ou a Suécia com 40%. A nossa cultura familiar, onde os animais são vistos como membros da família, contrasta com a baixa taxa de proteção financeira. Será que confiamos demasiado na sorte?

O futuro pode trazer novidades. Já existem startups a desenvolver seguros 'pay-as-you-go' e modelos baseados em blockchain que prometem maior transparência. Enquanto isso, a melhor proteção continua a ser a prevenção: visitas regulares ao veterinário, alimentação adequada e muito amor.

No final, voltei ao consultório onde Maria esperava. Simba tinha uma infeção tratável com antibióticos. A conta ficou em 95 euros. Às vezes, a melhor apólice de seguro é o conhecimento e a atenção que dedicamos aos nossos companheiros.

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