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O que ninguém te conta sobre os seguros de animais de estimação em Portugal

Num país onde mais de metade dos lares tem pelo menos um animal de companhia, o tema dos seguros para pets continua envolto em mitos e informações contraditórias. Enquanto nos Estados Unidos e Reino Unido esta prática é quase tão comum como ter um cão ou gato, em Portugal ainda caminhamos a passos lentos. Mas será que estamos a proteger adequadamente os nossos companheiros de quatro patas?

A verdade é que a maioria dos tutores portugueses desconhece os detalhes mais importantes quando se trata de seguros para animais. Muitos acreditam que se trata apenas de uma despesa extra, sem perceber que pode significar a diferença entre conseguir pagar um tratamento urgente ou ter de tomar decisões desesperadas. Investigámos durante semanas, falámos com veterinários, seguradoras e, mais importante, com famílias que viveram situações extremas com os seus animais.

O primeiro mito a desmontar é o do preço. Ao contrário do que se pensa, um seguro básico para um cão jovem e saudável pode custar menos do que um jantar fora por mês. O problema surge quando começamos a comparar apólices. Algumas excluem raças consideradas de risco, outras não cobrem doenças hereditárias, e há ainda as que estabelecem limites anuais absurdamente baixos para tratamentos. É preciso ler a letra pequena com lupa - algo que poucos fazem quando o coração está envolvido na decisão.

Conhecemos a história da Marta e do Bóris, um golden retriever de cinco anos que desenvolveu uma displasia da anca severa. O tratamento cirúrgico ultrapassava os 3.000 euros - valor que a família não tinha disponível. Por sorte, Marta tinha contratado um seguro dois anos antes, quase por impulso. "Parecia desnecessário na altura", confessa. "O Bóris era jovem e cheio de energia. Mas hoje sei que lhe salvei a vida."

No entanto, nem todas as histórias têm final feliz. O Carlos, dono de uma gata siamesa chamada Lua, descobriu demasiado tarde que o seu seguro não cobria tratamentos oncológicos. Quando Lua foi diagnosticada com linfoma, o tratamento de quimioterapia rondava os 4.500 euros. "Tive de pedir empréstimos a familiares, vender algumas coisas... Foi um pesadelo financeiro e emocional", relata, com a voz ainda embargada.

Os especialistas alertam para outro aspecto crucial: a idade do animal. Muitas seguradoras estabelecem limites de entrada, normalmente até aos 8 anos para cães e 10 para gatos. Depois disso, ou não aceitam novos contratos ou aplicam preços proibitivos. Esta é uma armadilha em que muitos caem - adiam a decisão até o animal ficar mais velho, quando já pode ser tarde demais.

Mas há luz ao fundo do túnel. Nos últimos dois anos, surgiram em Portugal novas opções mais flexíveis e transparentes. Algumas permitem personalizar a apólice conforme as necessidades específicas do animal, outras oferecem planos que incluem até consultas de rotina e vacinas. O segredo, segundo os especialistas, está em comparar não apenas preços, mas principalmente as coberturas e exclusões.

Um aspecto pouco discutido é o impacto emocional de não ter um seguro quando algo corre mal. A Dra. Sofia Mendes, veterinária há 15 anos, testemunha diariamente este drama: "Vejo famílias desesperadas, a chorar no meu consultório, porque não podem pagar um tratamento que poderia salvar o seu animal. Muitas vezes acabam por optar pela eutanásia não porque seja a melhor solução médica, mas porque é a única financeiramente viável."

A investigação revelou ainda que muitos portugueses confundem seguros com planos de saúde animais. São produtos diferentes: enquanto os seguros cobrem principalmente acidentes e doenças graves, os planos de saúde funcionam mais como um pacote de serviços que inclui consultas, vacinas e desparasitações. O ideal, quando possível, seria combinar ambos.

E quanto aos animais exóticos? Aqui o panorama é ainda mais desolador. Donos de pássaros, répteis ou pequenos mamíferos praticamente não têm opções no mercado português. "O meu coelho precisou de uma cirurgia dentária complexa e tive de pagar 800 euros do meu bolso", conta a Rita, dona de dois coelhos anões. "Nenhuma seguradora que contactei cobria roedores ou lagomorfos."

O futuro, no entanto, promete mudanças. A pressão dos consumidores e o aumento exponencial do número de animais de estimação em Portugal estão a forçar as seguradoras a repensarem os seus produtos. Já há empresas a desenvolver apólices específicas para animais séniores, e algumas começam a incluir coberturas para terapias alternativas como fisioterapia ou acupuntura veterinária.

O consenso entre todos os especialistas entrevistados é claro: ter um seguro para o animal de estimação não é um luxo, mas sim uma responsabilidade. Tal como temos seguros para a casa ou para o carro, devemos considerar seriamente proteger quem partilha a nossa vida diária. A decisão deve ser tomada cedo, com calma e informação, não quando a emergência já bate à porta.

No final, tudo se resume a uma pergunta simples: quanto vale a paz de espírito de saber que, independentemente do que aconteça, poderá proporcionar os melhores cuidados ao seu companheiro? Para a maioria dos tutores, esse valor é incalculável. E é precisamente por isso que o seguro deixa de ser uma despesa para se tornar num investimento - não apenas financeiro, mas principalmente emocional.

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