Seguros

Energia

Telecomunicações

Energia Solar

Aparelhos Auditivos

Créditos

Educação

Seguro de Animais de Estimação

Blogue

O boom da energia solar em Portugal: como os portugueses estão a aproveitar o sol para poupar na fatura

O sol português, outrora apenas motivo de orgulho nas conversas de café sobre o nosso clima ameno, transformou-se numa verdadeira mina de ouro energética. Nos últimos dois anos, assistimos a uma revolução silenciosa nos telhados do país, onde painéis solares multiplicam-se a um ritmo que surpreende até os mais optimistas.

Segundo dados da Direcção-Geral de Energia e Geologia, a capacidade instalada de energia solar em Portugal cresceu 87% apenas em 2023, um número que coloca o país no mapa europeu das energias renováveis de forma definitiva. Mas o que está a motivar esta corrida ao sol? A resposta parece residir na combinação perfeita entre a subida estratosférica dos preços da energia e os incentivos governamentais que finalmente chegaram às mãos dos consumidores.

O programa 'Vale Eficiência', lançado no ano passado, tornou-se no verdadeiro motor desta transformação. Milhares de famílias receberam apoios que cobrem até 85% do investimento em painéis solares, tornando o retorno do investimento quase imediato. Maria Santos, reformada de 68 anos de Viseu, partilha a sua experiência: "Instalei os painéis em Junho e em três meses já tinha poupado o suficiente para pagar a minha parte do investimento. Agora, até vendo energia para a rede."

Esta última parte revela outro aspecto fascinante desta revolução: muitos portugueses transformaram-se em pequenos produtores de energia. O mecanismo de compensação simplificada permite que o excedente de produção seja injectado na rede nacional, recebendo depois um crédito na factura da electricidade. Um sistema que beneficia todos: as famílias poupam dinheiro e o país avança nas metas de descarbonização.

Mas nem tudo são rosas neste mercado solar. A explosão da procura criou uma bolha de especulação que preocupa as autoridades. Empresas pouco sérias proliferam com promessas milagrosas e contratos com letra pequena que escondem custos adicionais. A DECO já emitiu vários alertas sobre esquemas fraudulentos que aproveitam o entusiasmo dos consumidores.

O sector reconhece o problema. Pedro Matos, presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis, admite: "O crescimento foi tão rápido que não deu tempo para criar mecanismos de controlo adequados. Estamos a trabalhar com o governo para estabelecer critérios de qualidade e proteger os consumidores."

A inovação tecnológica também não para. As últimas soluções incluem painéis com eficiência superior a 22%, baterias de armazenamento mais acessíveis e sistemas inteligentes que optimizam o consumo em função da produção solar. Estas evoluções tornam a energia solar cada vez mais atraente, mesmo para quem vive em apartamentos através de comunidades de energia.

O caso de Lisboa é paradigmático. Vários condomínios na capital criaram sistemas colectivos que permitem aos residentes partilhar a energia produzida nos telhados comuns. Uma solução que ultrapassa uma das maiores barreiras à adopção da energia solar em centros urbanos: a falta de espaço individual.

Os benefícios ambientais são igualmente impressionantes. Cada megawatt-hora de energia solar evita a emissão de aproximadamente 0,8 toneladas de CO2, contribuindo directamente para as metas nacionais de redução de emissões. Portugal está bem posicionado para atingir a neutralidade carbónica antes de 2050, e a energia solar será certamente uma peça fundamental nesse puzzle.

O futuro parece radioso para o sector. As previsões apontam para que até 2030, a energia solar represente mais de 20% do mix energético nacional, contra os actuais 7%. Um crescimento que trará não apenas benefícios ambientais e económicos para as famílias, mas também a criação de milhares de empregos qualificados.

No entanto, desafios persistem. A rede eléctrica nacional precisa de investimentos significativos para acomodar a produção descentralizada, e a burocracia ainda trava muitos projectos. Simplificar os processos de licenciamento será crucial para manter o ritmo de crescimento.

O sol português, afinal, sempre foi mais do que motivo de orgulho climático. Transformou-se numa ferramenta de empowerment dos cidadãos, que tomam nas suas mãos o controlo da sua energia e do seu futuro. Uma revolução que acontece telhado a telhado, silenciosamente, mas com impacto profundo na economia e no ambiente do país.

Tags