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A revolução silenciosa das redes móveis: como o 5G está a mudar tudo sem que demos por isso

Há uma transformação a acontecer nas nossas ruas, mas quase ninguém a vê. Não são manifestações nem obras públicas - são pequenas caixas brancas a aparecer em telhados e postes, antenas discretas que estão a reescrever as regras da conectividade. O 5G chegou para ficar, mas a sua verdadeira revolução não está na velocidade que nos vendem nos anúncios. Está no que essa velocidade permite fazer quando ninguém está a olhar.

Enquanto discutimos se o nosso telemóvel carrega vídeos alguns segundos mais rápido, hospitais em Coimbra já estão a usar a mesma tecnologia para cirurgias remotas. Um médico pode guiar um colega a centenas de quilómetros de distância, com uma precisão milimétrica que o 4G nunca permitiria. A latência - esse conceito técnico que soa a burocracia - é na realidade o que separa uma operação bem-sucedida de uma tragédia.

Nas quintas do Alentejo, sensores conectados monitorizam a humidade do solo em tempo real, ajustando sistemas de irrigação automáticos. O que parece magia agrícola é simplesmente dados a viajar a velocidades antes impossíveis. Um agricultor em Monsaraz pode saber exatamente quando cada parcela da sua terra precisa de água, economizando recursos enquanto aumenta a produção. A revolução verde tem, afinal, uma cor: a do sinal invisível que atravessa os campos.

Mas há um lado menos falado desta história. Enquanto as operadoras competem para anunciar a maior cobertura, comunidades rurais continuam com ligações que mal permitem uma videochamada. A promessa de democratização digital esbarra na matemática fria do retorno do investimento. Porque instalar infraestrutura numa aldeia com cinquenta habitantes não dá as mesmas margens de lucro que numa avenida de Lisboa.

A segurança tornou-se o novo campo de batalha. Especialistas em cibersegurança alertam que cada novo dispositivo conectado é uma potencial porta de entrada para ataques. A sua máquina de café inteligente, o seu termóstato, até o seu carro - todos falam a nova língua do 5G, mas nem todos têm bons tradutores para se protegerem de ameaças. Enquanto isso, governos debatem regulamentos que parecem sempre chegar atrasados à festa tecnológica.

O mais curioso é que a maior mudança pode não estar no que o 5G faz, mas no que torna obsoleto. Fábricas que antes precisavam de cabos emaranhados para conectar máquinas agora operam com flexibilidade total. Um robô pode ser movido para outra linha de produção em minutos, não em dias. A indústria 4.0, esse conceito que soava a ficção científica há uma década, está a materializar-se em armazéns do Porto a Setúbal.

E depois há o elefante na sala: o que fazemos com todo este poder? Quando qualquer dispositivo pode comunicar com qualquer outro em milissegundos, reinventamos desde os transportes públicos até à forma como gerimos a energia nas nossas casas. Semáforos que falam entre si para otimizar o trânsito, redes elétricas que equilibram consumo em tempo real, até contentores do lixo que avisam quando estão cheios - o mundo fica, literalmente, mais inteligente.

Mas a verdadeira questão não é técnica. É humana. Estamos a construir cidades que pensam, campos que sentem, fábricas que aprendem. O que ainda não decidimos é quem vai controlar esse pensamento, quem interpreta essas sensações, quem define o que há para aprender. A rede mais rápida do mundo é apenas um canal - o conteúdo, esse, ainda depende de nós.

Enquanto escrevo estas linhas, o meu telemóvel mostra cinco barras de sinal 5G. Parece um detalhe técnico, um pequeno ícone no canto do ecrã. Mas é a ponta visível de uma revolução que está a reescrever as regras de praticamente tudo. E o mais extraordinário? A maior parte dessa reescrita acontece quando desligamos o ecrã e olhamos para o mundo à nossa volta - que nunca mais será o mesmo.

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