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O futuro das telecomunicações em Portugal: entre a promessa da fibra e o desafio do 5G

Nas ruas de Lisboa, enquanto os operários abrem valas para mais uma instalação de fibra ótica, uma revolução silenciosa está em curso. Portugal, que já foi um país com sérios atrasos nas infraestruturas de comunicação, transformou-se num caso de estudo europeu. Mas será que esta corrida tecnológica está a beneficiar realmente todos os portugueses?

A cobertura de fibra ótica já atinge 89% dos lares portugueses, segundo dados da ANACOM. Um número impressionante, mas que esconde assimetrias regionais gritantes. Enquanto nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa a oferta é abundante e competitiva, no interior do país ainda há freguesias onde o ADSL de 10 Mbps é considerado um luxo. Esta dualidade coloca questões fundamentais sobre o que significa, afinal, a inclusão digital no século XXI.

O 5G prometia ser a próxima grande revolução, mas a sua implementação tem sido mais lenta do que o esperado. As primeiras redes comerciais lançadas em 2021 geraram expectativas que ainda não foram totalmente correspondidas. O problema não está apenas na cobertura - que continua limitada aos grandes centros urbanos - mas sobretudo na falta de casos de uso que justifiquem o investimento adicional para o consumidor comum.

Enquanto isso, as operadoras enfrentam um dilema complexo: como continuar a investir em infraestruturas de última geração quando os preços dos pacotes de telecomunicações não param de descer? A guerra de preços, iniciada com a entrada da Nowo no mercado e intensificada com as ofertas agressivas da Vodafone e NOS, criou um paradoxo. Por um lado, beneficia o consumidor com tarifas mais baixas; por outro, pode comprometer a sustentabilidade dos investimentos futuros.

A fusão entre a Altice Portugal e a Nowo, recentemente aprovada pela Autoridade da Concorrência, trouxe novos contornos a este cenário. Os especialistas dividem-se: uns veem-na como uma consolidação necessária para garantir investimentos robustos; outros alertam para o risco de redução da concorrência e possíveis aumentos de preços a médio prazo. O que é certo é que o mercado português ficou mais concentrado, com três grandes players a dominar cerca de 95% das receitas.

Nos bastidores, uma batalha menos visível mas igualmente importante desenrola-se pela posse dos direitos desportivos. O futebol continua a ser o grande motor das assinaturas de televisão por satélite e IPTV, com valores de transmissão que atingem números astronómicos. A Sport TV, detida pela NOS, e a Eleven Sports, propriedade da Altice, travam uma guerra silenciosa pelos conteúdos que mais atraem subscritores.

A digitalização dos serviços públicos é outra frente onde as telecomunicações desempenham um papel crucial. O programa Escola Digital, que pretende equipar alunos e professores com dispositivos e conectividade, depende diretamente da qualidade das redes móveis e fixas. Nas zonas rurais, onde muitas famílias não têm acesso a internet de qualidade, este programa arrisca-se a ampliar rather que reduzir desigualdades.

A sustentabilidade ambiental emerge como novo desafio para o setor. Os data centers consomem quantidades enormes de energia, e a expansão das redes 5G exige mais antenas e mais consumo elétrico. As operadoras começam a adotar medidas - desde a compra de energia verde até à otimização do arrefecimento dos equipamentos - mas a pegada ecológica do setor continua a crescer.

O teletrabalho, acelerado pela pandemia, tornou a qualidade das conexões internet uma questão de sobrevivência económica para muitas empresas. Pequenos negócios no interior que dependem de videoconferências com clientes internacionais não podem dar-se ao luxo de falhas de conexão. Esta nova realidade colocou pressão adicional sobre as operadoras para garantirem não só velocidade, mas sobretudo estabilidade.

A segurança cibernética tornou-se outra preocupação central. Com mais dispositivos conectados - desde telemóveis a electrodomésticos inteligentes - as vulnerabilidades multiplicam-se. As operadoras, como gatekeepers da conectividade, enfrentam a difícil tarefa de equilibrar a privacidade dos utilizadores com a necessidade de proteger as redes contra ameaças externas.

O futuro aponta para a integração entre telecomunicações e outros setores. A saúde digital, com consultas por videoconferência e monitorização remota de pacientes, exige redes ultra-fiáveis. A mobilidade inteligente, com carros conectados e sistemas de transporte integrados, depende de latências mínimas. A agricultura de precisão, que usa sensores e drones, precisa de cobertura em zonas remotas.

Os próximos anos trarão transformações ainda mais profundas. A computação quântica, ainda em fase experimental, promete revolucionar as comunicações. A Internet das Coisas expandir-se-á de forma exponencial, com estimativas apontando para mais de 50 mil milhões de dispositivos conectados globalmente até 2030. E a inteligência artificial optimizará automaticamente o tráfego nas redes, antecipando picos de utilização e prevenindo falhas.

Portugal encontra-se numa encruzilhada tecnológica. Por um lado, tem a oportunidade de se afirmar como hub digital na Europa, aproveitando a sua localização geográfica para atrair investimentos em cabos submarinos e data centers. Por outro, precisa de resolver urgentemente as assimetrias regionais no acesso à internet de qualidade. O sucesso dependerá não apenas das operadoras, mas de uma estratégia concertada entre sector público e privado.

O consumidor final, muitas vezes esquecido nestas equações complexas, continua a ser o principal juiz desta transformação digital. A sua experiência quotidiana - desde a velocidade de download de um filme até a qualidade de uma chamada de vídeo com familiares no estrangeiro - será o verdadeiro termómetro do sucesso desta revolução silenciosa que acontece debaixo dos nossos pés, nas valas abertas e nos cabos de fibra que tecem a nova paisagem digital portuguesa.

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