Há um segredo sujo que ninguém quer que descubra: o mercado energético português não é tão livre como nos fazem crer. Enquanto os consumidores se debatem com contas que parecem saídas de um filme de terror, um punhado de empresas dança ao som de lucros recorde. A verdade é que a concorrência é uma miragem, uma cortina de fumo para esconder um cartel disfarçado que domina tudo, desde a produção até à fatura que chega à nossa caixa de correio.
Vamos desmontar esta máquina bem oleada. Por trás das marcas que nos bombardeiam com publicidade, escondem-se os mesmos acionistas, as mesmas estratégias de preços, os mesmos acordos nos bastidores. Enquanto o governo anuncia medidas para travar a escalada dos custos, as empresas encontram sempre uma brecha legal, um truque contabilístico, uma subida disfarçada. É um jogo de gato e rato onde o gato tem sempre as cartas marcadas.
Mas a história não acaba aqui. A transição energética, essa bandeira verde que todos agitam, está a ser usada como cavalo de Troia. Os mesmos grupos que durante décadas poluíram impunemente agora vestem a camisola da sustentabilidade, enquanto engordam os cofres com subsídios públicos. Os parques eólicos e solares, em teoria abertos à concorrência, são dominados por meia dúzia de players que controlam o território e as licenças. A energia verde está a tornar-se num negócio tão opaco como o petróleo de outrora.
E o consumidor? Fica preso na teia. Mudar de fornecedor parece uma solução, mas é como trocar de cadeira no Titanic. As tarifas indexadas, os descontos promocionais que desaparecem como por magia, os contratos cheios de letra pequena – é um labirinto concebido para confundir e esgotar. Enquanto isso, as famílias cortam no aquecimento no inverno e suam no verão para poupar uns euros.
Há, no entanto, uma luz ao fundo do túnel. As comunidades energéticas estão a germinar um pouco por todo o país, desafiantes e determinadas. São grupos de cidadãos que se unem para produzir e partilhar a sua própria energia, cortando o cordão umbilical das grandes corporações. É uma revolução silenciosa, mas poderosa, que devolve o poder às pessoas. A tecnologia já o permite, a legislação começa a acompanhar, falta apenas a coragem de largar o medo.
O que podemos fazer? Em primeiro lugar, informarmo-nos. Ler as faturas com lupa, comparar ofertas sem ilusões, exigir transparência. Em segundo, apoiar alternativas genuínas, cooperativas e projetos locais que colocam as pessoas acima do lucro. E finalmente, pressionar os decisores políticos para quebrar os monopólios disfarçados e criar um mercado verdadeiramente competitivo.
A energia é um direito, não um privilégio. Está na hora de retomarmos o controlo.
O jogo sujo da energia: como os grandes grupos controlam o mercado e o que podemos fazer