O som esquecido: como a saúde auditiva molda a nossa vida sem que demos por isso

O som esquecido: como a saúde auditiva molda a nossa vida sem que demos por isso
Num mundo cada vez mais barulhento, poucos param para pensar no que realmente ouvimos — ou deixamos de ouvir. A saúde auditiva é frequentemente relegada para segundo plano, tratada como um mero detalhe quando, na verdade, é uma das portas principais para a nossa conexão com o mundo. A perda auditiva não acontece apenas de repente; é um ladrão silencioso que vai roubando sons subtis ao longo dos anos, desde o chilrear dos pássaros ao sussurro de um neto.

Muitos acreditam que os aparelhos auditivos são apenas para idosos, mas a realidade é bem diferente. Jovens expostos a volumes altos em concertos, no trabalho ou até através dos auscultadores estão a danificar os seus ouvidos de forma irreversível. A tecnologia moderna trouxe-nos dispositivos quase invisíveis, mas o estigma persiste — como se usar um aparelho fosse um sinal de fraqueza, e não de cuidado.

O que poucos sabem é que a audição está intimamente ligada à saúde mental. Estudos mostram que a perda auditiva não tratada aumenta o risco de isolamento social, depressão e até declínio cognitivo. Quando deixamos de ouvir bem, o cérebro trabalha mais para decifrar os sons, o que pode levar a fadiga mental e dificuldades de concentração. É um ciclo vicioso: quanto menos ouvimos, menos nos envolvemos; quanto menos nos envolvemos, mais nos isolamos.

A prevenção é a chave, mas raramente é discutida. Proteger os ouvidos em ambientes ruidosos, fazer pausas auditivas e realizar check-ups regulares deveriam ser hábitos tão comuns como escovar os dentes. No entanto, a maioria das pessoas só procura ajuda quando o problema já é significativo, perdendo anos de qualidade de vida que poderiam ter sido preservados.

Os avanços na área são surpreendentes. Hoje, existem aparelhos que se conectam a smartphones, permitindo ajustes personalizados conforme o ambiente, desde um jantar animado a uma caminhada no parque. Alguns até traduzem idiomas em tempo real. A tecnologia está a tornar a audição não apenas uma função, mas uma experiência enriquecida — mas só se a aproveitarmos.

Por fim, há uma questão cultural a considerar: em Portugal, falar de saúde auditiva ainda é tabu. Enquanto noutros países se promovem campanhas de sensibilização nas escolas e locais de trabalho, aqui muitas vezes ignora-se o assunto até ser tarde demais. É tempo de mudar essa narrativa, de tratar os ouvidos com a mesma importância que damos à visão ou ao coração. Porque, no fim, ouvir bem é viver melhor — e isso é um som que vale a pena partilhar.

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