O futuro dos seguros em Portugal: como a tecnologia e as mudanças sociais estão a transformar o setor

O futuro dos seguros em Portugal: como a tecnologia e as mudanças sociais estão a transformar o setor
O setor segurador português atravessa uma das transformações mais profundas da sua história. Enquanto as seguradoras tradicionais lutam para se adaptar às novas realidades digitais, os consumidores exigem cada vez mais transparência, personalização e rapidez nos serviços. Esta revolução silenciosa está a redefinir completamente a forma como pensamos a proteção de bens, saúde e vida.

A digitalização forçada pela pandemia acelerou mudanças que já estavam em curso. Hoje, mais de 60% dos portugueses preferem fazer o seguro do automóvel online, um número que triplicou nos últimos três anos. As aplicações móveis tornaram-se o novo balcão das seguradoras, permitindo desde a subscrição de apólices até à gestão de sinistros com alguns toques no ecrã do telemóvel.

As insurtechs – startups especializadas em seguros – estão a desafiar os gigantes tradicionais com modelos de negócio mais ágeis e centrados no cliente. Estas empresas nasceram digitais e aproveitam a inteligência artificial para oferecer preços mais competitivos e coberturas personalizadas. Em Lisboa e Porto, já existem mais de vinte destas startups a operar, algumas com crescimento superior a 300% ao ano.

A sustentabilidade tornou-se outro pilar fundamental. As seguradoras começam a penalizar comportamentos de risco ambiental e a premiar práticas ecológicas. Quem instala painéis solares ou conduz veículos elétricos pode obter descontos significativos nas apólices. Esta mudança reflete uma consciência crescente de que os riscos climáticos são também riscos financeiros.

Os seguros de saúde vivem uma revolução paralela. A telemedicina, que parecia distante há cinco anos, tornou-se realidade para milhões de portugueses. As consultas por videochamada e o acompanhamento remoto de doentes crónicos obrigaram as seguradoras a repensar os seus pacotes de saúde. Agora, as coberturas incluem cada vez mais serviços digitais e preventivos.

O mercado de seguros para empresas também se transforma rapidamente. O teletrabalho criou novos riscos cibernéticos que exigem proteções específicas. Pequenas e médias empresas, antes pouco preocupadas com estes aspectos, descobriram que um ataque informático pode significar a falência. As seguradoras respondem com produtos adaptados às novas realidades laborais.

Os dados são o novo petróleo do setor. As seguradoras recolhem e analisam informações em tempo real para calcular riscos com precisão milimétrica. Os telemóveis com sensores de condução, os wearables que monitorizam a saúde e os sistemas domésticos inteligentes fornecem dados valiosos que permitem preços mais justos e personalizados.

Contudo, estas transformações trazem desafios éticos importantes. A privacidade dos dados, a discriminação algorítmica e o acesso aos seguros por parte de populações mais vulneráveis são questões que reguladores e sociedade civil acompanham com atenção. O equilíbrio entre inovação e proteção do consumidor nunca foi tão delicado.

Os seguros paramétricos emergem como solução para riscos climáticos extremos. Diferente dos seguros tradicionais que exigem avaliação de danos, estes produtos pagam automaticamente quando ocorre um evento específico – como um terramoto de determinada magnitude ou chuvas acima de certo limiar. Para agricultores e empresas costeiras, esta inovação pode significar a diferença entre sobreviver ou falhar.

A literacia financeira revela-se crucial nesta nova era. Muitos portugueses ainda não compreendem totalmente os produtos que contratam, especialmente os mais complexos como seguros de investimento ou de dependência. Educar os consumidores torna-se tão importante quanto desenvolver novos produtos.

O futuro aponta para seguros totalmente personalizados e em tempo real. Imagine um seguro de automóvel que se ajusta automaticamente consoante o percurso que faz, o trânsito que enfrenta e até o seu estado de cansaço. Ou um seguro de saúde que prevê problemas antes deles surgirem. Esta é a direção que o setor segue – mais inteligente, mais preventivo e mais integrado na vida das pessoas.

As seguradoras que sobreviverão a esta revolução serão aquelas que entenderem que já não vendem apenas proteção contra riscos, mas sim tranquilidade e simplicidade numa era de complexidade crescente. O desafio está em equilibrar tecnologia com humanidade, inovação com responsabilidade.

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