Seguros em Portugal: o que as seguradoras não querem que saibas sobre os prémios

Seguros em Portugal: o que as seguradoras não querem que saibas sobre os prémios
Nos últimos meses, os portugueses têm sentido no bolso o aumento dos prémios de seguros. Seja no automóvel, na saúde ou no multirriscos habitacional, as faturas chegam mais pesadas às carteiras das famílias. Mas o que está realmente por trás destes aumentos? A resposta é mais complexa do que a simples inflação ou os custos dos sinistros.

As seguradoras argumentam com a subida dos preços dos materiais e da mão-de-obra, mas a verdade é que o setor está a passar por uma transformação silenciosa. A digitalização e a inteligência artificial estão a permitir uma segmentação de clientes cada vez mais precisa, criando categorias de risco que antes eram impossíveis de definir. Quem usa regularmente a aplicação da seguradora para monitorizar a sua condução, por exemplo, pode estar a fornecer dados que vão muito além do perfil de risco tradicional.

Esta recolha massiva de dados está a criar um fosso entre os clientes considerados de baixo risco, que beneficiam de descontos significativos, e os restantes, que veem os seus prémios aumentarem de forma desproporcionada. O problema é que muitos portugueses não têm consciência de como os seus hábitos digitais estão a ser usados para calcular o valor que pagam pela sua proteção.

Outro fator pouco discutido é a concentração do mercado. As três maiores seguradoras em Portugal controlam mais de 60% do mercado, o que limita a concorrência real. Enquanto os pequenos operadores lutam para sobreviver, os gigantes do setor podem ditar preços com relativa liberdade. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem vindo a alertar para esta situação, mas as medidas concretas têm sido escassas.

A situação torna-se particularmente preocupante nos seguros de saúde. Com o Serviço Nacional de Saúde sob pressão, muitas famílias recorrem a seguros privados como complemento essencial. No entanto, os preços têm subido a um ritmo que supera largamente a inflação, colocando em risco o acesso a cuidados de saúde para uma parte significativa da população.

O que poucos consumidores sabem é que têm mais poder de negociação do que imaginam. A lei portuguesa permite a portabilidade dos seguros, o que significa que podem mudar de seguradora sem perder os anos de fidelidade que contam para descontos. No entanto, as empresas não são obrigadas a informar os clientes sobre esta possibilidade, e muitos portugueses continuam a pagar prémios inflacionados por desconhecerem os seus direitos.

A transparência é outra questão crítica. Os contratos de seguro continuam a ser documentos complexos, cheios de cláusulas e exceções que o comum dos mortais tem dificuldade em compreender. As seguradoras investem milhões em marketing para vender a simplicidade dos seus produtos, mas a realidade é que poucos clientes entendem realmente o que estão a comprar.

A solução pode passar por uma maior intervenção regulatória. A ASF tem vindo a trabalhar em novas regras que obriguem as seguradoras a uma comunicação mais clara com os clientes, mas o processo é lento e encontra resistência do setor. Enquanto isso, os consumidores portugueses continuam a navegar num mar de informações incompletas e preços em constante mudança.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá em grande parte da capacidade dos reguladores e dos consumidores em impor maior transparência e concorrência. Num setor que toca diretamente na segurança financeira das famílias, a opacidade não pode ser a norma. Os portugueses merecem saber exatamente o que estão a pagar e porquê.

A próxima vez que receber a renovação do seu seguro, não se limite a pagar. Questione, compare, negocie. O seu bolso agradece.

Subscreva gratuitamente

Terá acesso a conteúdo exclusivo, como descontos e promoções especiais do conteúdo que escolher:

Tags

  • seguros
  • prémios
  • Consumidor
  • ASF
  • transparência