Num país onde a palavra 'seguro' é frequentemente associada a burocracia e letras pequenas, os portugueses continuam a navegar num mar de opacidade quando se trata de proteger o que mais importa. As seguradoras apresentam-se como guardiãs da nossa segurança financeira, mas quantos de nós compreendemos realmente o que estamos a comprar?
A verdade é que o mercado de seguros em Portugal vive uma dualidade curiosa. Por um lado, temos produtos cada vez mais sofisticados e digitalizados. Por outro, mantém-se uma barreira de comunicação que deixa os consumidores à mercê de terminologias complexas e cláusulas que poucos se dão ao trabalho de ler na íntegra. Não é por acaso que as reclamações junto da ASF continuam a crescer ano após ano.
O segredo que as seguradoras não querem que saiba? A maioria dos portugueses está a pagar por coberturas que nunca irá usar. Desde seguros de vida com exclusões camufladas a apólices multirriscos habitacionais que deixam de fora precisamente os riscos mais prováveis, o consumidor médio está a financiar um sistema que beneficia mais as empresas do que os próprios segurados.
Mas há esperança no horizonte. A revolução digital está a forçar uma transparência sem precedentes. Plataformas de comparação online, chatbots especializados e processos de subscrição simplificados estão a democratizar o acesso à informação. Já não é preciso ser um especialista em direito segurador para entender o que se está a comprar.
Um dos maiores mitos que importa desmontar é a ideia de que todas as seguradoras são iguais. A realidade mostra-nos que as diferenças podem ser abismais. Enquanto algumas empresas investem em prevenção e acompanhamento personalizado, outras limitam-se a vender produtos standardizados que pouco têm a ver com as necessidades reais dos clientes.
A chave para uma relação saudável com o seu seguro começa antes da assinatura do contrato. Investigar a reputação da seguradora, ler reviews de outros clientes e, sobretudo, compreender exactamente o que está e não está coberto pode fazer a diferença entre uma experiência tranquila e um pesadelo burocrático.
Os especialistas concordam num ponto: a educação financeira é a melhor apólice de seguro. Saber interpretar um contrato, conhecer os próprios direitos e deveres, e manter um diálogo aberto com o mediador ou a seguradora são competências tão importantes quanto a própria contratação do seguro.
O futuro dos seguros em Portugal passa necessariamente pela personalização. A era dos produtos one-size-fits-all está a chegar ao fim. Graças à análise de dados e à inteligência artificial, as seguradoras começam a oferecer soluções adaptadas ao perfil específico de cada cliente, com preços mais justos e coberturas mais adequadas.
No entanto, esta evolução traz novos desafios. A privacidade de dados torna-se uma preocupação central, e o risco de discriminação com base em algoritmos é real. Cabe aos reguladores garantir que o progresso tecnológico não se transforma numa ferramenta de exclusão.
Para o consumidor comum, a mensagem é clara: nunca foi tão importante estar informado. As ferramentas estão disponíveis, a informação é acessível, e o poder de decisão está cada vez mais nas mãos de quem compra. O segredo não é evitar os seguros, mas sim aprender a escolhê-los com sabedoria.
O mercado português de seguros está numa encruzilhada. A tradicional desconfiança dos consumidores pode finalmente encontrar resposta numa oferta mais transparente e centrada nas pessoas. Resta saber se as seguradoras estarão à altura do desafio, ou se preferirão manter-se reféns de práticas do passado.
Uma coisa é certa: quem investir tempo a compreender o mundo dos seguros hoje, colherá os frutos amanhã. Num país onde a incerteza parece ser a única certeza, ter a proteção certa pode fazer toda a diferença entre superar uma adversidade e ser por ela derrotado.
Seguros em Portugal: o que escondem as seguradoras e como proteger realmente o seu património