Seguros em Portugal: o que está a mudar no mercado e como proteger o seu património

Seguros em Portugal: o que está a mudar no mercado e como proteger o seu património
O mercado segurador português atravessa uma transformação silenciosa, mas profunda. Enquanto os consumidores se debatem com subidas de prémios e coberturas mais restritivas, as seguradoras enfrentam o desafio de equilibrar rentabilidade com a crescente exposição a riscos climáticos e cibernéticos. Esta é uma história que vai além das apólices e prémios – é sobre como estamos a repensar a proteção do que mais valorizamos.

Nos últimos dois anos, os prémios de seguros em Portugal registaram aumentos médios de 15% a 25%, dependendo da tipologia. O seguro automóvel, aquele que toca a quase todos os portugueses, tornou-se mais caro e mais complexo. As seguradoras justificam estas subidas com o aumento da sinistralidade, dos custos de reparação e, sobretudo, com a maior frequência de eventos climáticos extremos. As cheias de dezembro passado no distrito de Lisboa, por exemplo, causaram prejuízos superiores a 80 milhões de euros, um valor que surpreendeu até os mais experientes do sector.

Mas há mais nesta equação do que apenas números. A digitalização está a redefinir completamente a relação entre seguradoras e clientes. As insurtechs – startups especializadas em seguros – estão a ganhar terreno com soluções personalizadas e processos simplificados. Já não se trata apenas de preencher formulários online; estamos perante uma revolução na forma como avaliamos riscos e calculamos prémios. A telemetria nos seguros automóveis, por exemplo, permite que os condutores mais cuidadosos paguem menos, enquanto os dados de saúde recolhidos através de wearables podem traduzir-se em descontos nos seguros de vida.

O grande desafio que se coloca às famílias portuguesas é a subproteção. Um estudo recente do Instituto de Seguros de Portugal revela que 40% dos portugueses têm seguros insuficientes para cobrir os seus principais riscos. Muitos ainda consideram o seguro uma despesa, não um investimento em proteção. Esta mentalidade está a mudar, mas a um ritmo demasiado lento face aos riscos emergentes.

Os seguros multirriscos habitacionais são talvez o melhor exemplo desta evolução. O que antes cobria basicamente incêndio e fenômenos naturais convencionais, hoje inclui proteção contra ciberataques, danos em equipamentos electrónicos e até assistência em teletrabalho. As seguradoras estão a adaptar-se a novas realidades, mas os consumidores nem sempre acompanham estas mudanças.

A sustentabilidade é outra frente de transformação. As seguradoras começam a incorporar critérios ambientais nas suas políticas, oferecendo condições mais vantajosas para edifícios com certificação energética ou veículos elétricos. Esta não é apenas uma questão de responsabilidade social – é uma necessidade face aos riscos climáticos crescentes. As zonas costeiras portuguesas, por exemplo, enfrentam prémios de seguro mais elevados devido ao risco de erosão e subida do nível do mar.

O seguro de saúde merece capítulo à parte. Com o Serviço Nacional de Saúde sob pressão, os seguros de saúde tornaram-se essenciais para muitas famílias. Mas aqui também há mudanças significativas: as apólices estão a tornar-se mais modulares, permitindo que cada pessoa construa a cobertura que realmente precisa. Desde consultas de telemedicina a programas de wellness preventivos, o seguro de saúde está a transformar-se num parceiro de saúde, não apenas num pagador de despesas.

Para as empresas, os desafios são ainda maiores. A transformação digital trouxe novos riscos cibernéticos, enquanto as cadeias de abastecimento globais criam vulnerabilidades imprevistas. Muitas PMEs portuguesas continuam subprotegidas contra estes riscos, focando-se apenas nas coberturas tradicionais. Um ciberataque a uma empresa média pode causar prejuízos superiores a 50.000 euros – um valor que pode ser fatal para muitos negócios.

O que fazer então? O primeiro passo é perceber que o seguro não é um produto estático. Requer revisão regular e adaptação às mudanças na nossa vida. Aquele seguro que contratámos há cinco anos provavelmente já não cobre todos os nossos riscos actuais. A digitalização do património, por exemplo, criou novas necessidades de proteção que muitos ainda ignoram.

As seguradoras, por seu lado, enfrentam o desafio de comunicar melhor estas mudanças. A linguagem técnica e a complexidade dos contratos continuam a ser barreiras para muitos consumidores. Há um caminho a percorrer na simplificação e transparência.

O futuro dos seguros em Portugal passa por uma maior personalização, transparência e adaptação aos novos riscos. Os consumidores mais informados exigem soluções à medida, enquanto as seguradoras precisam de equilibrar a inovação com a sustentabilidade financeira. Neste jogo complexo, o diálogo entre todas as partes é essencial.

O que está em causa não são apenas prémios e coberturas, mas a nossa capacidade de proteger o que construímos ao longo da vida. Num mundo cada vez mais imprevisível, o seguro deixou de ser um luxo para se tornar uma necessidade fundamental. A questão não é se podemos pagar um seguro, mas se podemos arriscar não o ter.

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