Nos últimos meses, enquanto os portugueses discutiam inflação e poder de compra, uma revolução silenciosa começou a acontecer nos seguros. Não se trata apenas de preços ou coberturas básicas – estamos perante uma transformação que está a redefinir a relação entre seguradoras e clientes. As redações dos principais jornais económicos portugueses têm acompanhado esta evolução, mas há histórias que ainda não chegaram ao grande público.
A primeira mudança substancial está na personalização extrema. Já não se trata apenas de escolher entre diferentes franquias ou coberturas adicionais. As seguradoras estão a desenvolver produtos que se adaptam ao estilo de vida específico de cada pessoa. Imagine um seguro automóvel que considera não apenas a sua idade e histórico, mas também os seus hábitos de condução, os percursos que faz regularmente e até o horário em que circula. Esta não é ficção científica – já está a ser testado por várias empresas no mercado português.
O que poucos sabem é que esta personalização tem um lado menos visível: a recolha massiva de dados. As aplicações de telemóvel que monitorizam a condução, os dispositivos domésticos inteligentes que avaliam riscos, os wearables que acompanham a saúde – tudo isto alimenta algoritmos que determinam não apenas prémios, mas também quem tem acesso a determinados produtos. A questão que se coloca é: até que ponto estamos dispostos a trocar privacidade por personalização?
Outra tendência que tem passado despercebida é o surgimento dos micro-seguros. Estes produtos, com prémios mensais que podem ser inferiores a cinco euros, cobrem situações muito específicas: desde a proteção de um único dispositivo eletrónico até ao seguro para um fim de semana de desportos radicais. O interessante é que estes produtos não estão a ser desenvolvidos apenas pelas grandes seguradoras – startups portuguesas têm entrado neste nicho com soluções inovadoras.
A sustentabilidade tornou-se também um fator decisivo. Seguradoras começam a oferecer descontos significativos para quem tem casas energeticamente eficientes, carros elétricos ou hábitos de consumo sustentáveis. Mas há um detalhe curioso: algumas empresas estão a criar produtos que cobrem especificamente danos causados por eventos climáticos extremos, antecipando as mudanças que Portugal enfrentará nas próximas décadas.
A digitalização completa do processo é outra realidade em acelerada transformação. Já não é necessário preencher formulários intermináveis ou esperar semanas por uma resposta. As seguradoras mais inovadoras permitem a contratação em minutos através do telemóvel, com coberturas que começam imediatamente. O sinistro também se tornou mais simples – em muitos casos, basta fotografar os danos com a aplicação para iniciar o processo de indemnização.
Mas esta conveniência tem um preço. A relação humana entre corretor e cliente está a desaparecer progressivamente. As decisões são cada vez mais tomadas por algoritmos, e o contacto pessoal limita-se a situações problemáticas. Perdemos algo valioso nesta transição? A resposta não é consensual entre especialistas.
Uma área particularmente sensível é a dos seguros de saúde. As novas tecnologias permitem monitorização constante de indicadores de saúde, o que teoricamente permitiria prevenir doenças e reduzir custos. No entanto, surge a questão ética: até que ponto os dados de saúde podem ser usados para determinar prémios ou mesmo excluir certas coberturas?
O mercado português tem características únicas que tornam esta transformação particularmente interessante. A nossa população envelhecida cria necessidades específicas em seguros de saúde e vida. A propensão para catástrofes naturais – como incêndios e inundações – exige produtos adaptados. E a tradicional aversão ao risco dos portugueses contrasta com a necessidade de inovação neste sector.
As seguradoras que resistirem a esta transformação arriscam-se a ficar obsoletas num prazo surpreendentemente curto. Os consumidores, especialmente as gerações mais jovens, exigem flexibilidade, transparência e adaptação aos seus estilos de vida. As empresas que entenderem isto não estão apenas a vender seguros – estão a oferecer paz de espírito adaptada ao século XXI.
O futuro próximo trará ainda mais novidades. Seguros parametrizados, que pagam automaticamente quando certas condições são verificadas (como um voo com atraso superior a três horas). Produtos colaborativos, onde comunidades partilham riscos. E talvez o mais revolucionário: seguros preventivos, que não apenas cobrem danos, mas ajudam ativamente a evitá-los.
Esta é uma história em constante evolução, escrita não apenas nas sedes das seguradoras, mas nas escolhas diárias de milhões de portugueses. A próxima vez que pensar em seguros, lembre-se: já não está a comprar apenas uma proteção contra o imprevisto. Está a participar numa revolução silenciosa que está a mudar um dos sectores mais tradicionais da economia portuguesa.
Seguros em Portugal: o que os jornais económicos não contam sobre as novas tendências