Nos últimos meses, enquanto os principais jornais portugueses se concentravam nas flutuações do mercado e nos escândalos políticos, uma revolução silenciosa estava a acontecer nos bastidores do setor segurador. As seguradoras portuguesas enfrentam agora desafios que vão muito além dos tradicionais sinistros automóveis ou dos incêndios florestais. O verdadeiro terramoto está a acontecer na interseção entre a tecnologia, as alterações climáticas e os novos comportamentos sociais.
Nas redações do Jornal de Negócios e do Expresso, os editores debatem diariamente como cobrir a explosão dos ciberataques às pequenas e médias empresas portuguesas. O que poucos sabem é que as apólices de cibersegurança estão a tornar-se tão essenciais como o seguro automóvel, mas com uma complexidade que deixa muitos empresários à deriva. A TSF tem reportado casos de restaurantes familiares que perderam anos de faturação num clique, enquanto o Observador revelou como os hackers estão a usar inteligência artificial para criar fraudes quase perfeitas.
O DN e o Jornal Económico têm seguido de perto outra bomba-relógio: as coberturas para eventos climáticos extremos estão a tornar-se proibitivas em zonas costeiras portuguesas. Em Ericeira ou na Costa da Caparica, os prémios duplicaram nos últimos dois anos, segundo dados exclusivos do Dinheiro Vivo. As seguradoras internacionais começam a retirar-se de áreas consideradas de alto risco, deixando os portugueses num limbo perigoso. A Visão documentou histórias de famílias que viram as suas casas de férias transformarem-se em passivos financeiros da noite para o dia.
Mas há uma luz no fim do túnel, e ela vem de onde menos se espera. O Sabado descobriu que startups portuguesas estão a criar soluções inovadoras, desde seguros paramétricos que pagam automaticamente quando certos parâmetros meteorológicos são atingidos até apólices modulares que permitem aos jovens proteger apenas o que realmente importa. A Notícias Sapo destacou como estas novas empresas estão a desafiar os gigantes tradicionais com modelos baseados em blockchain e inteligência artificial.
O verdadeiro drama, no entanto, está nos seguros de saúde. Enquanto o debate público se concentra no SNS, uma guerra silenciosa acontece nos seguros privados. As exclusões por condições pré-existentes tornaram-se tão complexas que exigem um doutoramento para serem compreendidas. As cláusulas de doenças raras são labirintos jurídicos onde muitos portugueses se perdem quando mais precisam.
Nas prateleiras virtuais das seguradoras, surgem produtos que parecem saídos de ficção científica. Seguros para viagens espaciais turísticas já estão a ser desenhados em Lisboa, enquanto apólices para proteger investimentos em criptomoedas atraem millennials desconfiados dos bancos tradicionais. O paradoxo é evidente: nunca tivemos tantas opções, mas nunca estivemos tão desprotegidos.
A grande questão que nenhum meio de comunicação abordou completamente é: quem está a educar os portugueses para estes novos riscos? As escolas continuam a ensinar matemática financeira básica, enquanto os cibercriminosos desenvolvem ataques cada vez mais sofisticados. As autoridades reguladoras correm atrás do prejuízo, atualizando diretivas que já nascem obsoletas.
Nas assembleias gerais das seguradoras, os acionistas discutem dividendos, mas raramente ouvem os especialistas em ética que alertam para os perigos da segmentação excessiva. Quando uma apólice pode ser personalizada ao ponto de excluir geneticamente certos grupos, estamos a entrar num território perigoso que mistura negócios com eugenia digital.
Os jornalistas económicos portugueses enfrentam agora o seu maior desafio: explicar esta complexidade sem assustar os leitores, mas também sem simplificar demais. As reportagens do Expresso sobre os fundos de investimento ligados a seguros revelaram ligações obscuras com paraísos fiscais, enquanto o Jornal de Negócios expôs como algumas resseguradoras estão a usar algoritmos para discriminar bairros inteiros.
No fim do dia, o seguro deixou de ser um mero contrato para se tornar um espelho das nossas ansiedades coletivas. Tememos os ciberataques, as alterações climáticas, as pandemias, o colapso dos sistemas de saúde. As seguradoras transformam esses medos em prémios calculados ao cêntimo, criando um mercado onde a insegurança é a commodity mais valiosa.
A próxima grande reportagem, ainda por fazer, deverá seguir o dinheiro: para onde vão realmente os milhões em prémios que os portugueses pagam anualmente? Que percentagem financia inovação versus dividendos? Enquanto isso não acontecer, continuaremos a comprar proteção sem saber exatamente contra o quê, nem para benefício de quem.
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