A paixão por animais de estimação em Portugal tem vindo a diversificar-se para além dos tradicionais cães e gatos. Cada vez mais famílias portuguesas optam por companheiros exóticos, desde iguanas a araras, criando um novo panorama no mundo pet nacional. Mas será que estamos preparados para receber estas espécies?
A tendência tem crescido silenciosamente, impulsionada pelas redes sociais e por influenciadores que mostram o seu dia a dia com animais pouco convencionais. No entanto, a realidade esconde desafios significativos que muitos donos subestimam no momento da adoção.
Os répteis, por exemplo, exigem condições específicas de temperatura e humidade que replicam o seu habitat natural. Um terrário mal equipado pode tornar-se numa sentença de morte para uma iguana ou um camaleão. Muitos donos iniciantes desconhecem que estes animais necessitam de controlo veterinário especializado, algo escasso e dispendioso em Portugal.
As aves exóticas representam outro capítulo complexo. Araras, cacatuas e papagaios podem viver décadas, exigindo um compromisso que ultrapassa gerações. A sua inteligência superior requer estimulação mental constante, sob risco de desenvolverem comportamentos destrutivos ou depressão. A solidão é particularmente cruel para estas espécies altamente sociais.
Os pequenos mamíferos como ouriços-pigmeus ou sugar gliders tornaram-se moda entre apartamentos urbanos, mas escondem necessidades noturnas e dietas específicas que desafiam a rotina diária dos donos. Muitos acabam por ser abandonados quando a novidade desvanece.
A legislação portuguesa sobre posse de animais exóticos apresenta lacunas preocupantes. Enquanto algumas espécies requerem licenças específicas da DGAV, outras circulam num vazio legal que coloca em risco tanto os animais como a biodiversidade local. Casos de fugas ou libertações intencionais já ameaçam ecossistemas autóctones.
O comércio online agrava o problema, facilitando a aquisição impulsiva de espécies sem o devido aconselhamento. Animais transportados em condições precárias, muitas vezes ilegalmente, chegam a Portugal traumatizados e doentes, sobrecarregando os poucos centros de recuperação especializados.
Os custos associados surpreendem muitos tutores. Além do investimento inicial em habitats adequados, as despesas com alimentação específica, suplementos e veterinário exótico podem ascender a centenas de euros mensais. Seguros de saúde para estas espécies são praticamente inexistentes no mercado português.
A educação surge como factor crucial. Antes de adquirir um animal exótico, os futuros donos devem pesquisar exaustivamente, consultar especialistas e visitar criadores certificados. Adotar por impulso ou moda condena estes animais a vidas inadequadas às suas necessidades etológicas.
Centros de resgate nacionais alertam para o aumento alarmante de abandonos de espécies exóticas. Muitos animais chegam em estado crítico, vítimas de ignorância sobre os seus cuidados básicos. A falta de centros de acolhimento especializados torna a situação ainda mais dramática.
O bem-estar animal deve sobrepor-se à curiosidade ou desejo de posse. Cada espécie exótica traz consigo responsabilidades específicas que exigem preparação técnica e emocional. Portugal precisa de evoluir na regulamentação e conscientização sobre esta realidade crescente.
A verdadeira paixão por animais manifesta-se na escolha responsável e no compromisso com o seu bem-estar, seja qual for a espécie. O exótico não deve ser sinónimo de exceção nos cuidados, mas sim de excelência na dedicação.
Animais exóticos em Portugal: o que precisa saber antes de adotar um pet fora do comum
