Num país onde os cães e gatos dominam as estatísticas de animais de estimação, há um mundo silencioso que cresce nas nossas casas: o dos animais exóticos. Desde iguanas que tomam sol na varanda até furões que brincam na sala, estes companheiros não convencionais representam um desafio para os donos portugueses – especialmente quando se trata de seguros.
Enquanto percorria clínicas veterinárias especializadas em Lisboa e Porto, descobri uma realidade que poucos discutem: a maioria das seguradoras portuguesas ainda trata o coelho anão como se fosse um cão pequeno, ou pior, ignora completamente espécies como os ouriços-pigmeus africanos. "Temos clientes que viajam para Espanha porque lá encontram cobertura para o seu papagaio cinzento africano", confessou-me uma veterinária de exóticos, sob condição de anonimato.
A burocracia enfrentada pelos donos de répteis é digna de um romance kafkiano. Imagine tentar explicar a uma seguradora tradicional que a sua cobra-real precisa de exames de sangue específicos ou que o seu dragão-barbudo requer suplementação de cálcio especializada. Os formulários parecem desenhados para animais com quatro patas e pêlo, não para criaturas com escamas, penas ou exoesqueletos.
Mas há luz no fim do terrário. Nos últimos dois anos, surgiram em Portugal as primeiras apólices verdadeiramente adaptadas a este nicho. Uma seguradora inovadora criou um sistema onde o dono do animal escolhe entre pacotes específicos para aves, répteis ou pequenos mamíferos. Outra desenvolveu uma parceria com veterinários especializados em exóticos por todo o país.
O preço, contudo, ainda assusta muitos potenciais segurados. Enquanto um seguro básico para um gato pode custar menos de 100 euros anuais, a cobertura para um furão – animal cada vez mais popular nas cidades portuguesas – pode triplicar esse valor. E para espécies verdadeiramente incomuns? Os valores tornam-se negociáveis caso a caso, como num leilão de arte rara.
A verdadeira revolução, segundo os especialistas com quem conversei, está na telemedicina veterinária. Plataformas que permitem consultas por vídeo-chamada estão a abrir portas para donos em zonas rurais, onde encontrar um veterinário para o seu porquinho-da-índia pode significar horas de viagem. Algumas seguradoras já começam a incluir estes serviços nas suas apólices premium.
Mas cuidado com as letras pequenas. Durante a minha investigação, encontrei casos de donos que descobriram demasiado tarde que a cirurgia do seu hamster não estava coberta porque o animal tinha mais de dois anos – limite que não existe para cães ou gatos na mesma companhia. Outros viram-se negados porque o animal exótico tinha sido adquirido em feiras não registadas.
O futuro, segundo os visionários do sector, passa pela personalização total. Imagine um seguro que cobre não apenas as consultas veterinárias do seu camaleão, mas também a reposição do seu habitat controlado caso haja um acidente doméstico. Ou uma apólice que inclua aconselhamento nutricional específico para a sua tartaruga-de-orelha-vermelha.
Enquanto isso, os donos portugueses de animais exóticos navegam num mar de incertezas. Muitos recorrem a grupos online para partilhar dicas sobre como adaptar seguros tradicionais, enquanto outros assumem o risco financeiro total. "É como ter um filho com necessidades especiais num mundo feito para crianças neurotípicas", comparou-me um dono de três serpentes, enquanto mostrava as facturas veterinárias que pagou do próprio bolso.
O que está claro é que o mercado precisa de evoluir tão rapidamente quanto cresce o número de lares portugueses que abrem as portas a companheiros fora do comum. Até lá, a melhor apólice continua a ser a informação – e a insistência em procurar cobertura adequada para quem partilha a nossa casa, tenha pêlo, penas ou escamas.
O que ninguém te conta sobre os seguros para animais exóticos em Portugal
