Quando o veterinário nos entrega aquela pequena bola de pelo pela primeira vez, poucos são os que pensam nos custos futuros. A emoção do momento ofusca a realidade económica que virá. Mas a verdade é que ter um animal de estimação em Portugal pode custar mais do que um carro usado ao longo da sua vida.
Os números não mentem: um cão de porte médio pode custar entre 10.000 a 15.000 euros durante os seus 12-15 anos de vida. E não, não estamos a falar de raças exóticas ou tratamentos de luxo. São as despesas básicas que se acumulam silenciosamente: alimentação de qualidade, vacinas, desparasitações, e os inevitáveis imprevistos.
O mercado português de seguros para animais tem crescido a um ritmo impressionante - mais de 30% ao ano segundo os últimos dados. Mas será que os portugueses estão realmente informados sobre o que estão a comprar? A investigação revela que não. A maioria dos donos assina contratos sem compreender as letras pequenas que podem fazer a diferença entre salvar o seu companheiro ou ter de o sacrificar por questões financeiras.
As exclusões são o grande segredo sujo da indústria. Muitos seguros não cobrem condições pré-existentes, doenças hereditárias específicas de certas raças, ou tratamentos dentários. Outros estabelecem limites anuais que podem ser rapidamente ultrapassados num único acidente. E há ainda as franquias que tornam alguns seguros praticamente inúteis para pequenas emergências.
Mas não são apenas as empresas que têm culpa no cartório. Os donos portugueses tendem a subestimar os riscos. Acham que o seu animal nunca vai precisar de uma cirurgia de emergência ou desenvolver uma doença crónica. A realidade, porém, é que 1 em cada 3 cães precisará de cuidados veterinários de emergência ainda no primeiro ano de vida.
A escolha do seguro certo depende de múltiplos factores: a raça do animal, a sua idade, o estilo de vida, e claro, o orçamento familiar. Não existe uma solução única para todos. Um seguro básico pode custar menos de 10 euros por mês, enquanto as coberturas mais completas podem ultrapassar os 50 euros mensais.
O timing também é crucial. Contratar um seguro quando o animal é jovem e saudável não só garante melhores preços como evita a exclusão de condições que possam desenvolver-se mais tarde. Esperar pelo primeiro problema de saúde é como tentar comprar um seguro de incêndio quando a casa já está a arder.
As seguradoras mais sérias oferecem períodos de carência curtos - normalmente 14 a 30 dias para acidentes e 30 a 90 dias para doenças. Mas há empresas que estendem estes períodos para 6 meses ou mais, deixando os donos desprotegidos quando mais precisam.
A burocracia é outro obstáculo frequentemente subestimado. Muitos donos desistem de fazer reclamações devido à complexidade dos processos. Fotografias, relatórios detalhados, múltiplos formulários - o sistema parece desenhado para desencorajar rather than ajudar.
No entanto, os seguros evoluíram significativamente nos últimos anos. As coberturas agora incluem desde fisioterapia e acupuntura até tratamentos de oncologia e cuidados paliativos. Algumas empresas oferecem mesmo assistência em viagem e proteção jurídica.
A verdadeira questão que cada dono deve fazer não é 'posso pagar o seguro?', mas sim 'posso pagar não ter seguro?'. Quando o veterinário apresenta uma conta de 2.000 euros para salvar a vida do nosso melhor amigo, a resposta torna-se dolorosamente clara.
A relação entre humanos e animais transcende o cálculo económico, mas a realidade financeira não pode ser ignorada. Um bom seguro não é um luxo - é uma extensão do nosso compromisso de cuidar daqueles que nos escolheram como família.
O que ninguém te conta sobre seguros para animais de estimação em Portugal
