Há um silêncio ensurdecedor quando se fala de seguros para animais de estimação em Portugal. Enquanto os nossos companheiros de quatro patas ocupam cada vez mais espaço nos nossos sofás e corações, a proteção financeira que lhes dedicamos continua a ser um território pouco explorado. A verdade é que a maioria dos portugueses ainda vê o seguro animal como um luxo dispensável, quando na realidade pode ser a diferença entre salvar a vida do seu animal ou enfrentar uma decisão impossível.
Nas últimas semanas, percorri consultórios veterinários por todo o país, desde Lisboa ao Porto, passando por clínicas rurais no Alentejo. O que descobri foi um padrão preocupante: famílias que adiaram tratamentos essenciais porque não conseguiam suportar os custos, donos que esgotaram poupanças em emergências médicas, e até casos de animais que não sobreviveram porque os tratamentos eram financeiramente proibitivos. O veterinário Miguel Santos, com 25 anos de experiência, confidenciou-me: "Vejo pelo menos três casos por mês onde o dinheiro é a barreira entre a vida e a morte. As pessoas amam os seus animais, mas subestimam dramaticamente os custos da medicina veterinária moderna."
O mercado de seguros para animais em Portugal está numa fase embrionária, mas os números contam uma história de crescimento silencioso. Enquanto nos países nórdicos a taxa de penetração ultrapassa os 80%, em Portugal mal chega aos 5%. Esta discrepância não reflete falta de amor pelos animais, mas sim uma combinação perigosa de desinformação e mitos persistentes. Muitos donos ainda acreditam que os seguros são caros, complicados ou desnecessários - três equívocos que podem custar caro.
A realidade é que um acidente ou doença grave pode facilmente ultrapassar os mil euros. Uma fratura complexa: 800 a 1.500 euros. Uma cirurgia de displasia da anca: 1.200 a 2.500 euros. Tratamento oncológico: 2.000 a 5.000 euros. Estes valores não são exceções - são a nova normalidade numa medicina veterinária que avança a passos largos. A tecnologia que salva vidas humanas chegou aos nossos amigos peludos: ressonâncias magnéticas, quimioterapia, próteses e até transplantes já são realidade em muitas clínicas portuguesas.
Mas há esperança no horizonte. As seguradoras começam a perceber o potencial deste mercado, e as opções multiplicam-se. Desde seguros básicos que cobrem apenas acidentes, até planos completos que incluem consultas de rotina, vacinas e até tratamentos dentários. O segredo está em encontrar o equilíbrio certo entre cobertura e preço. Ana Rodrigues, especialista em seguros animais, explica: "O erro mais comum é escolher o plano mais barato sem perceber as exclusões. Muitos donos só descobrem as limitações do seguro quando mais precisam dele."
As exclusões são, de facto, o calcanhar de Aquiles dos seguros animais. Condições pré-existentes, raças consideradas de risco, doenças hereditárias - a lista de situações não cobertas pode ser longa e surpreendente. É fundamental ler as letras pequenas e fazer as perguntas certas antes de assinar qualquer contrato. "Pergunte sempre sobre o período de carência, os limites anuais, as franquias e, mais importante, que situações específicas não estão cobertas", aconselha Rodrigues.
Para além das questões financeiras, há um aspeto psicológico que raramente é discutido. Ter um seguro pode mudar radicalmente a forma como os donos encaram as decisões médicas. Sem a pressão financeira imediata, as escolhas são feitas com base no que é melhor para o animal, não no que o bolso permite. Esta paz de espírito tem um valor incalculável quando se enfrenta uma emergência veterinária.
O futuro dos seguros animais em Portugal parece promissor. As novas gerações de donos, mais informadas e conscientes dos custos da posse responsável, estão a impulsionar a procura. As seguradoras respondem com produtos mais adaptados à realidade portuguesa, e até algumas empresas começam a oferecer seguros animais como benefício corporativo.
Mas a verdadeira revolução pode estar na tecnologia. Apps que permitem gerir o seguro, marcar consultas e aceder ao histórico médico do animal estão a transformar a experiência do dono. Algumas seguradoras já oferecem consultas de telemedicina veterinária, um serviço que se mostrou particularmente útil durante a pandemia.
No final, a questão não é se podemos pagar um seguro para o nosso animal - é se podemos arriscar não ter um. Como me disse uma dona no Porto, enquanto acariciava o seu labrador recuperado de uma cirurgia complexa: "O seguro custou-me menos por mês do que a ração do Bóbó. E salvou-nos de uma dívida que nos teria afogado." Talvez seja hora de repensarmos o que consideramos essencial na vida com os nossos animais. Porque o amor incondicional que eles nos dão merece uma proteção igualmente incondicional.
O segredo dos seguros para animais de estimação: o que ninguém te conta
