Num apartamento lisboeta, uma iguana chamada Zé descansa sob uma lâmpada de calor enquanto a sua tutora, Carla, folheia uma pilha de contas. Entre a luz do aquecimento e a alimentação especializada, os custos mensais ultrapassam os 100 euros. Mas quando Zé desenvolveu uma infeção respiratória no inverno passado, a fatura veterinária atingiu os 800 euros – um valor que surpreendeu até os profissionais da clínica especializada. Esta realidade, comum entre tutores de animais exóticos, levanta uma questão urgente: os seguros tradicionais para animais de estimação cobrem estas espécies incomuns?
A resposta, descobrimos após semanas de investigação, é mais complexa do que parece. Enquanto cães e gatos dominam o mercado dos seguros para animais – com coberturas que vão desde acidentes até tratamentos oncológicos – répteis, aves, roedores e outros pequenos mamíferos permanecem numa zona cinzenta. Das seis principais seguradoras que oferecem produtos para animais em Portugal, apenas duas mencionam explicitamente a possibilidade de segurar espécies exóticas nos seus documentos, e mesmo assim com restrições significativas.
O veterinário especializado em animais exóticos, Dr. Miguel Santos, recebe-nos na sua clínica em Oeiras, rodeado de terrários e gaiolas. 'O maior problema é a falta de dados estatísticos', explica, enquanto examina um furão. 'As seguradoras baseiam-se em probabilidades calculadas através de milhares de casos. Para um Yorkshire Terrier, sabem exatamente qual a probabilidade de desenvolver problemas dentários aos cinco anos. Para um papagaio-cinzento africano? Não há estudos suficientes.' Esta lacuna de informação transforma cada pedido de seguro para animal exótico num caso único, sujeito a avaliações demoradas e prémios imprevisíveis.
Mas a paisagem está a mudar. Na feira anual de animais exóticos do Porto, encontramos a primeira startup portuguesa a desenvolver um modelo de seguro especificamente para esta categoria. 'Começámos com coelhos e furões porque são os mais comuns', revela a fundadora, Ana Lopes. 'Aos poucos, estamos a criar uma base de dados própria que nos permitirá expandir para répteis e aves.' O seu modelo funciona com microprémios mensais – entre 5 a 15 euros – que cobrem emergências básicas, criando uma rede de segurança acessível para tutores que muitas vezes não conseguem enfrentar despesas veterinárias inesperadas.
A verdadeira revolução, no entanto, pode estar a surgir dos próprios tutores. Em fóruns online e grupos de redes sociais, comunidades dedicadas a espécies específicas estão a criar fundos coletivos de saúde. O 'Grupo de Tutores de Iguanas Portugueses', com mais de 300 membros, opera um sistema onde cada participante contribui com 10 euros mensais para um fundo comum usado em caso de emergências médicas dos animais dos membros. 'É uma solução imperfeita', admite o moderador do grupo, Rui Mendes, 'mas enquanto as seguradoras não nos oferecerem alternativas, criamos as nossas.'
Esta investigação revela um mercado em transformação. À medida que os animais exóticos ganham popularidade – as vendas de répteis aumentaram 40% nos últimos três anos, segundo dados da Associação Portuguesa de Loja de Animais – a pressão sobre o setor dos seguros intensifica-se. As seguradoras tradicionais enfrentam um dilema: ignorar este nicho crescente ou investir na recolha de dados necessários para criar produtos viáveis.
Para os tutores, as opções atuais dividem-se entre seguros caros e personalizados (quando disponíveis), soluções inovadoras de startups, ou métodos comunitários improvisados. A escolha depende não apenas da espécie do animal, mas também da sua idade, histórico de saúde, e até do conhecimento do tutor sobre necessidades específicas da espécie.
O caso de Zé, a iguana de Carla, terminou bem – ela conseguiu pagar o tratamento através de uma combinação de poupanças e ajuda familiar. Mas a sua experiência levou-a a juntar-se ao movimento que exige mais opções de seguro. 'Não se trata apenas de dinheiro', reflete, enquanto observa Zé subir para o seu ramo favorito. 'É sobre poder proporcionar os melhores cuidados sem o constante medo da bancarrota.' Num país onde os animais de estimação são cada vez mais considerados membros da família, esta lacuna na proteção financeira representa não apenas um desafio económico, mas uma questão de bem-estar animal que exige atenção imediata.
Seguro para animais exóticos: o que os tutores de répteis, aves e pequenos mamíferos precisam de saber