Seguro para animais exóticos: o que os tutores de répteis, aves e pequenos mamíferos precisam saber

Seguro para animais exóticos: o que os tutores de répteis, aves e pequenos mamíferos precisam saber
Num apartamento lisboeta, a rotina de Sofia inclui um ritual pouco comum: verificar a temperatura do terrário onde vive o seu dragão-barbudo, Zé. Enquanto ajusta a lâmpada de calor, pensa no que faria se o réptil adoecesse. A pergunta ecoa por lares portugueses onde coelhos, furões, aves e outros animais não convencionais partilham o espaço com famílias. O seguro para animais de estimação tornou-se comum para cães e gatos, mas para os chamados 'animais exóticos' o cenário é diferente – e poucos tutores conhecem as opções disponíveis.

A realidade é que clínicas veterinárias em Lisboa e Porto registam um aumento constante de consultas para espécies não tradicionais. "Há dez anos, atendíamos quase exclusivamente cães e gatos. Hoje, cerca de 15% das nossas consultas são para coelhos, porquinhos-da-índia, aves e répteis", revela o veterinário especialista em animais exóticos, Dr. Miguel Santos. O profissional, que trabalha numa clínica no centro de Lisboa, nota que muitos donos chegam em pânico quando o animal adoece, sem saber que existem seguros que cobrem estas espécies.

A surpresa estende-se às seguradoras. "Quando lançámos a cobertura para animais exóticos há três anos, prevíamos uma adesão modesta. A procura superou as expectativas em 40%", conta Ana Lopes, gestora de produtos de uma seguradora portuguesa. As apólices para estas espécies funcionam de forma semelhante às para cães e gatos, mas com particularidades importantes. Répteis, por exemplo, têm necessidades específicas que podem incluir exames de imagem especializados ou consultas com herpetologistas – especialidades que algumas apólices cobrem.

Mas nem tudo são boas notícias. A exclusão mais comum nos seguros para animais exóticos são condições pré-existentes, um ponto crítico para espécies como os furões, propensos a doenças endócrinas. "Muitos tutores adquirem o animal já adulto, sem conhecer o seu histórico médico. Quando tentam fazer um seguro, descobrem que condições diagnosticadas anteriormente não são cobertas", explica a advogada especializada em direito animal, Mariana Costa. A especialista recomenda que, sempre possível, os tutores peçam exames veterinários antes da aquisição, para garantir uma cobertura mais ampla.

O custo é outro factor diferenciador. Enquanto um seguro básico para um cão pode custar menos de 10 euros mensais, para um papagaio cinzento africano – espécie com longevidade que pode ultrapassar os 50 anos – o valor pode triplicar. A justificação está na complexidade dos tratamentos. "Uma cirurgia num coelho requer equipamento e conhecimentos específicos. O mesmo se aplica a uma ave que precise de uma endoscopia", detalha o Dr. Santos. Para animais como ouriços ou chinchilas, a escassez de especialistas em Portugal pode significar deslocações a clínicas em grandes centros urbanos, com custos adicionais de transporte.

A prevenção surge como palavra de ordem. Tutores de iguanas aprendem rapidamente que a falta de cálcio na dieta pode levar a doença óssea metabólica – condição grave e cara de tratar. "O seguro não substitui os cuidados preventivos. Na verdade, algumas seguradoras oferecem descontos para tutores que comprovem visitas regulares ao veterinário especializado", revela Ana Lopes. Esta abordagem proactiva beneficia tanto os animais, que têm melhor qualidade de vida, como as seguradoras, que reduzem sinistros.

O mercado está em evolução. Nos últimos dois anos, pelo menos três seguradoras portuguesas expandiram as coberturas para incluir mais espécies exóticas. A tendência acompanha mudanças sociais: famílias mais pequenas, pessoas que vivem sozinhas e restrições de espaço em apartamentos urbanos tornam animais de menor porte mais atractivos. "O que falta é informação", defende Sofia, enquanto observa Zé a tomar banho de sol sob a lâmpada UV. "Quando o comprei, ninguém me falou em seguros. Descobri por acaso, numa conversa com outro tutor no veterinário."

Para quem considera adquirir um animal exótico, a recomendação é clara: pesquisar antes sobre as opções de seguro disponíveis. Contactar várias seguradoras, comparar coberturas e, principalmente, ler as letras pequenas sobre exclusões. "Muitas pessoas pensam que seguros para animais exóticos são luxo. Na verdade, podem ser a diferença entre conseguir tratar o animal ou ter de tomar decisões difíceis por razões financeiras", conclui Mariana Costa.

Enquanto o sol se põe sobre Lisboa, Sofia fecha a tampa do terrário. Zé está a dormir, seguro na sua casa de vidro. Ela respira aliviada, sabendo que a apólice que contratou há seis meses cobre consultas, exames e até cirurgias. A tranquilidade tem preço, mas para quem partilha a vida com estes animais especiais, vale cada cêntimo.

Subscreva gratuitamente

Terá acesso a conteúdo exclusivo, como descontos e promoções especiais do conteúdo que escolher:

Tags

  • seguro animais exóticos
  • répteis Portugal
  • aves de estimação
  • veterinário especializado
  • animais não convencionais