Seguro para animais exóticos: o que os tutores de répteis, aves e roedores precisam saber

Num apartamento lisboeta, a luz do terrário revela movimentos lentos: um dragão-barbudo chamado Zéfiro observa o mundo lá fora. A sua tutora, Marta, de 32 anos, passou meses a pesquisar sobre iluminação UVB, substratos adequados e dieta balanceada. Mas quando Zéfiro apresentou sinais de apatia, deparou-se com uma realidade que muitos donos de animais exóticos conhecem: a maioria das seguradoras tradicionais limita-se a cães e gatos. 'Liguei para oito empresas diferentes', conta Marta, enquanto ajusta o termóstato do habitat. 'Sete disseram que não cobriam répteis. A oitava pediu 120 euros mensais por um plano básico.'

Esta lacuna no mercado português de seguros para animais de estimação está a deixar milhares de tutores vulneráveis. Segundo dados da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, Portugal tem registado um aumento constante na posse de animais exóticos - de hamsters a iguanas, passando por araras e tartarugas. 'Há uma desconexão entre a realidade dos lares portugueses e a oferta das seguradoras', explica o veterinário especializado em exóticos, Dr. Rui Cardoso. 'Enquanto um check-up anual para um cão pode custar 50 euros, para um papagaio africano pode facilmente ultrapassar os 200 euros, sem contar com eventuais emergências.'

A economia paralela dos tratamentos caseiros e a 'cultura do improviso' entre donos de animais exóticos revelam um cenário preocupante. Em fóruns online, tutores trocam receitas de antibióticos diluídos e partilham técnicas de imobilização caseira para unhas partidas. 'Já vi donos a darem paracetamol a aves, sem saberem que é fatal para elas', alerta a bióloga Sofia Mendes, que gere um santuário para animais exóticos abandonados no Algarve. 'A falta de cobertura de seguro leva as pessoas a arriscarem em tratamentos perigosos.'

Mas o vento parece estar a mudar. Duas seguradoras portuguesas começaram este ano a testar programas-piloto para animais exóticos. Os planos, ainda em fase experimental, cobrem desde consultas de rotina até cirurgias especializadas. 'Reconhecemos que os animais de companhia não se limitam a cães e gatos', afirma Carlos Vieira, diretor de uma dessas seguradoras. 'Estamos a desenvolver tabelas de risco específicas para diferentes espécies.'

Os critérios para aceitação variam significativamente. Enquanto coelhos e furões encontram relativamente poucas barreiras, répteis e aves de grande porte enfrentam restrições. 'A longevidade é um fator decisivo', explica Vieira. 'Uma iguana pode viver 20 anos, o que representa um compromisso de longo prazo para a seguradora.'

Para os tutores que consideram adquirir um animal exótico, os especialistas recomendam pesquisa prévia não apenas sobre cuidados básicos, mas também sobre a disponibilidade e custo de cuidados veterinários. 'Visitem um veterinário de exóticos antes de trazerem o animal para casa', sugere o Dr. Cardoso. 'Peçam um orçamento completo para cuidados preventivos e perguntem sobre clínicas que ofereçam planos de saúde.'

Enquanto isso, Marta encontrou uma solução temporária: juntou-se a outros 15 donos de dragões-barbudos para criar um fundo comunitário de emergência. 'Cada um contribui com 20 euros por mês', explica. 'Quando alguém precisa, o grupo vota sobre o uso dos recursos.' Esta rede de apoio informal está a espalhar-se por grupos de WhatsApp e páginas do Facebook, preenchendo o vazio deixado pelas seguradoras tradicionais.

O futuro dos seguros para animais exóticos em Portugal parece promissor, mas exige mudanças regulatórias e maior consciencialização. 'Precisamos de educar tanto os tutores como as seguradoras', defende Sofia Mendes. 'Estes animais merecem os mesmos cuidados que qualquer outro membro da família.'

Enquanto o sol da tarde ilumina o terrário de Zéfiro, Marta observa o réptil com uma mistura de preocupação e esperança. 'Ele é parte da minha família', diz, enquanto o animal se estica sob a luz artificial. 'Merece proteção tanto quanto um cão ou um gato.' A questão que permanece é: quando é que o mercado de seguros português vai finalmente reconhecer esta verdade simples?