O boom do autoconsumo solar em Portugal: como as famílias estão a ganhar independência energética

O boom do autoconsumo solar em Portugal: como as famílias estão a ganhar independência energética
Nos últimos meses, uma revolução silenciosa tem varrido o país. De norte a sul, telhados outrora vazios transformam-se em centrais elétricas particulares. O autoconsumo solar deixou de ser um nicho para eco-entusiastas e tornou-se uma opção mainstream para milhares de portugueses. Os números falam por si: apenas no primeiro semestre de 2023, as instalações de painéis fotovoltaicos cresceram 78% face ao mesmo período do ano anterior.

A conjugação perfeita de preços da energia nas alturas, incentivos estatais mais atrativos e uma consciência ambiental crescente criou o caldo de cultivo ideal. Mas o que realmente está a impulsionar esta corrida ao sol? A resposta pode surpreender: não são apenas as economias na fatura, mas sim a busca por autonomia perante a volatilidade dos mercados energéticos.

Maria Santos, professora do Porto, instalou painéis no seu telhado há seis meses. "Pago menos 60% na eletricidade, mas o melhor é dormir descansada sabendo que não dependo das flutuações dos preços", confessa. O seu caso espelha uma tendência nacional: o medo da imprevisibilidade substituiu o ceticismo tecnológico.

As empresas do setor vivem dias de febre. Pedro Almeida, CEO de uma instaladora de Coimbra, descreve: "Temos lista de espera de três meses. As pessoas chegam com contas de luz de 300 euros e saem daqui com soluções que cortam essas faturas para metade". O modelo de negócio evoluiu: além da venda direta, proliferam os contratos de leasing e os esquemas de energia como serviço.

O governo tentou acompanhar a onda. O programa Edifícios + Sustentáveis, com comparticipações até 85%, esgotou vagas em horas. Mas especialistas alertam: a burocracia ainda trava o potencial total. "Demorámos quatro meses a legalizar uma instalação que montámos em três dias", queixa-se um instalador de Lisboa que prefere não se identificar.

A tecnologia também evolui a ritmo acelerado. As baterias de armazenamento, outrora proibitivas, caíram 40% em preço desde 2020. Juntamente com os carros elétricos, criam ecossistemas domésticos completos. "Estamos a passar de consumidores para prossumidores - produzimos e consumimos nossa própria energia", explica engenheira energética Inês Monteiro.

O setor agrícola descobriu outra vantagem: a agrivoltaica. Painéis elevados permitem cultivo e produção energética no mesmo terreno. Na região do Alentejo, dezenas de explorações adoptaram o modelo, reduzindo custos e aumentando resiliência.

Mas nem tudo são rosas. A rede elétrica nacional enfrenta desafios com a injeção descentralizada de energia. Horários de pico de produção solar não coincidem com picos de consumo, criando excessos difíceis de gerir. "Precisamos urgentemente de smart grids e mais capacidade de armazenamento", advoga Carlos Mendes, especialista em sistemas energéticos.

Os críticos apontam outro problema: a dependência da China. Quase 90% dos painéis importados vêm do gigante asiático, criando vulnerabilidades geopolíticas. "Temos de desenvolver capacidade produtiva local", defende economista João Silva.

O futuro parece radiante. Novas tecnologias como painéis bifaciais (que captam luz de ambos os lados) e células perovskitas prometem eficiências revolucionárias. E o hidrogénio verde pode surgir como solução para armazenamento sazonal.

Enquanto isso, nas varandas dos prédios das cidades, mini painéis começam a aparecer - sinal de que a revolução solar chegou para ficar e se adapta a todos os espaços. A independência energética já não é um sonho distante, mas uma realidade ao alcance de cada telhado português.

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