O boom silencioso da energia solar em Portugal: como os telhados estão a mudar o jogo energético

O boom silencioso da energia solar em Portugal: como os telhados estão a mudar o jogo energético
Enquanto os holofotes mediáticos se concentram nos megaprojetos eólicos e nas grandes barragens, uma revolução silenciosa está a acontecer nos telhados portugueses. De norte a sul, particulares e empresas estão a descobrir que o sol não serve apenas para bronzear - pode ser a chave para a independência energética e poupanças substanciais na fatura da luz.

Os números contam uma história impressionante. Segundo dados da Direção-Geral de Energia e Geologia, a potência instalada de energia solar fotovoltaica em Portugal ultrapassou os 2,6 GW no final de 2023, com um crescimento de mais de 40% face ao ano anterior. Mas o mais interessante é que cerca de 30% desta capacidade vem de pequenas instalações em residências e comércios, um setor que praticamente não existia há cinco anos.

O que está a impulsionar esta mudança? A combinação perfeita de preços em queda nos painéis solares, incentivos fiscais atraentes e a subida constante dos preços da eletricidade convencional. Um sistema médio para uma família de quatro pessoas, que custava cerca de 15.000 euros há uma década, pode agora ser adquirido por menos de 5.000 euros, com retorno do investimento em cinco a sete anos.

Mas a verdadeira revolução está a acontecer nas comunidades energéticas. No Alentejo, um grupo de 50 famílias criou a primeira comunidade solar rural do país, partilhando a energia produzida num campo de painéis comunitários. No Porto, um condomínio de luxo instalou painéis nos telhados que cobrem 80% das necessidades comuns, desde a iluminação dos espaços comuns até aos elevadores.

As empresas não ficaram atrás. Supermercados, fábricas e até estádios de futebol estão a cobrir os seus telhados com painéis. O estádio do Braga, por exemplo, gera energia suficiente para abastecer 600 famílias durante um ano. E não se trata apenas de poupança - muitas empresas usam a energia solar como argumento de marketing, atraindo clientes cada vez mais conscientes das questões ambientais.

O setor agrícola descobriu outro benefício inesperado: a agrovoltaica. No Alqueva, os primeiros projetos combinam culturas agrícolas com painéis solares elevados, permitindo que as plantas beneficiem de sombra parcial enquanto produzem energia limpa. Os resultados preliminares mostram que algumas culturas, como certas variedades de alface e espinafres, desenvolvem-se melhor nestas condições.

Mas nem tudo são rosas no mundo da energia solar. A rede elétrica nacional, desenhada para um modelo centralizado de produção, está a ter dificuldades em adaptar-se à produção descentralizada. Há dias em que a produção solar atinge picos tão elevados que o sistema tem de desligar algumas centrais convencionais, criando novos desafios de gestão da rede.

Outro obstáculo é a burocracia. Apesar dos esforços do governo para simplificar os processos, muitos particulares queixam-se de que ainda demora meses a obter todas as licenças necessárias para instalar painéis no próprio telhado. E depois há a questão do armazenamento - as baterias ainda são caras, limitando a capacidade de usar a energia solar durante a noite.

O futuro, no entanto, parece radiante. Novas tecnologias prometem painéis mais eficientes e baratos, enquanto os veículos elétricos começam a funcionar como baterias sobre rodas, permitindo armazenar o excesso de produção solar. E com a União Europeia a pressionar para a descarbonização total até 2050, o sol português pode tornar-se uma das maiores riquezas nacionais.

O que começou como um nicho para eco-entusiastas transformou-se num movimento de massas. Nos subúrbios de Lisboa e nas aldeias do interior, o brilho azul dos painéis solares tornou-se um símbolo de modernidade e independência. E o melhor? Esta revolução está apenas no início.

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