Nos últimos anos, Portugal não foi exceção ao fenómeno global do crescimento das redes sociais como plataforma de veiculação de opiniões e de influência sobre decisão política. Este fenómeno, que já moldou eleições em várias partes do mundo, encara desafios únicos numa democracia consolidada como a portuguesa.
A ascensão das redes sociais tem proporcionado a figuras políticas uma ligação direta e instantânea com os seus eleitores. Personalidades políticas como Marcelo Rebelo de Sousa, conhecido pela sua presença mediática, revelaram-se adeptos destas plataformas como meio de comunicação directa. A despeito do seu carisma natural em meios tradicionais, souberam integrar-se nestes novos terrenos sem perder a autenticidade que os caracteriza.
Um dos aspetos mais fascinantes das redes sociais é a democratização da voz política. No passado, os cidadãos necessitavam de atravessar muitas barreiras para que as suas opiniões fossem ouvidas. Hoje, qualquer pessoa com acesso à internet pode potencialmente desempenhar um papel influente no discurso político. No entanto, esta democratização traz consigo riscos de desinformação, manipulação de informações e discurso de ódio, algo que cada vez mais preocupa reguladores em Portugal.
Ao mesmo tempo, e talvez mais preocupante, as redes sociais tornaram-se terreno fértil para campanhas de desinformação intencionais, muitas vezes orquestradas por entidades com interesses próprios, seja no âmbito político interno ou influências externas. A capacidade de criar 'fake news' que se tornam virais em poucas horas exige respostas rápidas e eficazes por parte das entidades reguladoras e das próprias plataformas.
A interligação entre meios convencionais e redes sociais é outra característica marcante da atualidade. Os jornais e as televisões, que outrora desempenhavam o papel de gigantes inquestionáveis na media, agora veem-se obrigados a adaptar-se a esta nova realidade. Vários desses media tradicionais, como 'Jornal de Notícias' e 'Diário de Notícias', já implementaram estratégias para se manterem relevantes em ambas as frentes de batalha.
No entanto, a política portuguesa enfrenta outro dilema: como regular o conteúdo nas redes sociais sem infringir liberdades essenciais como a liberdade de expressão? O desafio recai sobre a criação de mecanismos que preservem a integridade do debate político, mas que simultaneamente protejam contra abusos excessivos que possam constranger as liberdades individuais.
Este debate torna-se ainda mais crítico à medida que avançamos para futuras eleições, onde a tecnologia e a comunicação irão desempenhar papéis cada vez mais invioláveis. A digitalização das campanhas é agora um facto que veio para ficar, e a capacidade de adaptação dos partidos políticos pode ditar o seu sucesso ou fracasso futuros.
Portugal, enquanto membro da União Europeia, tem ainda o desafio acrescido de se alinhar com as perspetivas e medidas tomadas pelo bloco em relação a regulamentações tecnológicas. A implementação do Digital Services Act é um exemplo forte de como a legislação pode e deve evoluir para enfrentar a era digital, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Em conclusão, enquanto as redes sociais continuam a moldar o panorama político português, é essencial uma abordagem equilibrada que facilite o progresso, sem sacrificar a autenticidade e a fiabilidade do discurso político. A responsabilidade recai no governo, nas plataformas e nos cidadãos em conjunto, para garantir que a tecnologia sirva como catalisadora positiva na evolução da democracia portuguesa. A bem da transparência e da informação fidedigna, todos temos um papel ativo a desempenhar.